Exposição de fotografia de Daniel Blaufuks (1963), intitulada «Tasso», apresentada em 1996, no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, por ocasião do «Mois de la Photo», mostra internacional de fotografia que ocorre em Paris a cada dois anos, durante o mês de novembro.

O «Mois de la Photo» foi criado em 1980 com o apoio de Jacques Chirac, à época maire da capital francesa, com o intuito de promover a reflexão sobre a fotografia enquanto expressão artística. Em 1996, a bienal pretendeu começar a ensaiar o seu vigésimo aniversário, que se cumpriria em 2000. Reuniria para tal três grandes categorias temáticas que se manifestaram em exposições por toda a cidade parisiense: «Un Art en Partage», que explorou a ideia de partilha associada à arte contemporânea, dando a ver interações a dois (duos, casais, irmãos gémeos); «L'Ailleurs», que, recusando uma ideia simplista de exotismo, pretendeu apresentar imagens que evocavam a descoberta do mundo através da fotografia e que contribuíram para a sua história (este núcleo acolheu fotografias de Maxime du Camp e Gustave Le Gray, entre outros, assim como as coleções de Albert Kahn e do padre Francis Aupiais e os arquivos da Compagnie Universelle du Canal de Suez); e, por último, «Présences Étrangères. Des centres culturels à Paris: Leurs choix, leurs partis pris, leurs découvertes», no qual se deu carta-branca os centros culturais parisienses.

A exposição «Daniel Blaufuks. Tasso» integrou esta terceira categoria («Présences Étrangères. Des centres culturels à Paris…»), cuja comissão foi constituída por Anne Cartier-Bresson, Serge François, Christian Mayaud, Alain Fleig e Jean-Luc Monterosso. Esta categoria da bienal pressupunha uma grande liberdade no entendimento que cada país tinha deste modo de expressão artística, sendo-lhe concedida total autonomia para selecionar o tema ou o artista participante. Assim, se alguns centros culturais optaram por apresentar uma fotografia documental e engagé, ou seja, envolvida numa causa social desse país, outros, como o Centre Culturel Calouste Gulbenkian, apostaram num fotógrafo que representasse o panorama fotográfico e artístico contemporâneo. Importava aos comissários desta categoria que o público conseguisse percecionar as diferenças e semelhanças entre as exposições dos vários centros culturais e que o seu diálogo contribuísse para uma reflexão sobre o estado da fotografia de cada país. A exposição «Daniel Blaufuks. Tasso» foi produzida pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão da Fundação Calouste Gulbenkian e comissariada pelo seu diretor, Jorge Molder.

Apesar de representar o estado da fotografia e das artes contemporâneas portuguesas, o trabalho de Daniel Blaufuks não pretendia remeter-se à caracterização de uma nacionalidade específica ou fechar-se num espaço cultural e geográfico. O seu interesse por diversas tradições culturais levava o fotógrafo a deslocar-se aos sítios, produzindo imagens que conjugavam história e atualidade, valorizando os vestígios de uma determinada cultura local.

Daniel Blaufuks reunia nesta exposição um conjunto de fotografias realizadas em Tübingen, na Alemanha, em 1995, após ter sido convidado a criar a cenografia da peça Torquato Tasso, de Goethe, produzida pela companhia Zimmertheater, em 1996. Deste convite resultaram 14 imagens retratando um universo inanimado de estátuas que se encontravam num armazém municipal, à espera de serem restauradas, em poses manipuladas pelas várias perspetivas exploradas pela fotografia de Blaufuks.

Segundo Jorge Molder, com este conjunto, o fotógrafo inventariou um mundo precário, à mercê de se perder na passagem do tempo, preocupação que se transforma em nostalgia, presente não apenas na pose das estátuas, mas também nos véus que as cobrem e no banho de luz em tons de azul.

O pequeno catálogo publicado pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian por ocasião da mostra assume a forma de um álbum de fotografia, contendo a reprodução das obras expostas mas destituído de textos.

A exposição esteve aberta ao público até 19 de dezembro de 1996 e foi divulgada na Colóquio/Artes, revista publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Carolina Gouveia Matias, 2019