Exposição integrada nas comemorações do Centenário do Nascimento de José Azeredo de Perdigão (1896-1993), intitulada «Quartos Duplos» e inaugurada no dia 10 de setembro de 1996 na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0).

A ideia para a exposição partiu de Jorge Molder e Rui Sanches, então diretores do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, aos quais interessava suscitar uma reflexão sobre o papel da criação individual numa situação em que a obra é produzida e assinada por dois artistas que decidem trabalhar exclusivamente em conjunto.

O comissariado da exposição esteve a cargo de Isabel Vila Nova, apoiada por Maria Filomena Molder, ambas autoras dos textos de catálogo, onde refletem de forma mais genérica sobre a noção de par e de duplo, alargando assim o âmbito da discussão para além dos limites temporais e disciplinares criados pela mostra.

Segundo Isabel Vila Nova: «O que nos interessa em "Quartos Duplos" é analisar a forma de colaboração que leva dois indivíduos a não possuírem qualquer identidade artística fora da sua união. Todas as obras aqui presentes têm uma natureza colectiva mas escapam à noção de arte colectiva. O que leva dois indivíduos a criar uma obra indivisível é uma problemática completamente específica. É no binómio que as diferenças e similitudes são levadas aos extremos e que o problema da autoria da obra de arte ganha maior acuidade. Em "Quartos Duplos" os duos de artistas podem ser casais heterossexuais, homossexuais, gémeos ou amigos de longa data. O que interessa é que não existe qualquer sinal visual da natureza conjunta da sua produção.» (Comunicado de imprensa, 1996, Arquivos Gulbenkian, Dossiê Serviço de Comunicação 139)

Os artistas convidados a participar foram selecionados tendo em conta a possibilidade de o seu trabalho permitir refletir sobre este tipo de colaboração e autoria partilhada. Neste sentido, foram incluídos trabalhos de sete duplas de artistas com obra e com características diferentes quanto ao tempo de atividade, idade, tipo de relação, etc. As obras expostas apresentaram-se em suportes bastante variados: do vídeo à fotografia, da pintura à instalação.

Alguns dos trabalhos apresentados foram realizados exclusiva e especialmente para a exposição na Fundação Calouste Gulbenkian. Foi o caso da dupla francesa Anne Poirier (1942) e Patrick Poirier (1942), que elaboraram uma nova versão da sua instalação La Chambre de l'Archéologue/Architecte, que envolveu uma série de objetos de origem portuguesa.

Os artistas russos radicados nos EUA, Komar (1943) e Melamid (1945), no âmbito dos seus estudos prévios sobre atitudes dos públicos face às artes visuais (The People's Choice), apresentaram um trabalho baseado num inquérito à população portuguesa, em que foi realizado um levantamento das preferências estéticas da população. O inquérito foi efetuado com o apoio de uma equipa do ISCTE, coordenada pelo professor Vítor Ferreira, e consistiu na elaboração de um questionário com mais de mil perguntas, para as quais foram selecionadas 500 pessoas, cujas respostas refletiram o gosto do público em relação à pintura Portugal's Most Wanted and Most Unwanted paintings. Assim, além das pinturas da autoria dos artistas russos, fez parte do trabalho a apresentação do estudo de opinião, que esteve presente no espaço de exposição e disponível online.

A maioria dos artistas apresentados deslocou-se a Lisboa para acompanhar a instalação das suas obras, e muitos estiveram igualmente presentes na inauguração.

No âmbito da exposição e como atividade complementar, foram organizadas várias visitas guiadas, orientadas por David Santos.

O catálogo editado para a exposição não só integra os textos das curadoras já mencionados, como inclui a reprodução fotográfica de muitas das obras expostas e uma seleção de textos sobre os artistas apresentados.

Joana Brito, 2019