Ana Marchand. As 18 lições da Bhagavad Guita

Exposição individual de Ana Marchand (1947), comissariada por Jorge Molder, diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. A viagem interior proporcionada pela leitura do «Bhagavad Guita», texto religioso hindu, inspiraram a artista para a realização das 18 pinturas apresentadas, reveladoras das 18 lições de Krishna.
Solo exhibition of the work of Ana Marchand (1947) curated by Jorge Molder, director of the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre. The inner journey evoked by reading the Hindu religious text the “Bhagavad Guita” served as inspiration for the 18 paintings on display, illustrating the 18 lessons of Krishna.

Exposição de pinturas de Ana Marchand (1947), comissariada por Jorge Molder, diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) da Fundação Calouste Gulbenkian.

A exposição foi inaugurada a 12 de janeiro de 1995, e apresentou, na Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP, 88 trabalhos em guache, divididos por 18 conjuntos, ou lições, todos de 17,5 × 23 cm, tendo como ponto de partida uma viagem realizada pela artista à Índia, aspeto que partilhou com a exposição «Viagem do Reino para a Índia», realizada no Centro de Arte Moderna, em 1990, em colaboração com Albano da Silva Pereira. A partir do percurso estabelecido pela rota marítima dos diários de navegação compilados por D. António de Ataíde, no século XVII, esta exposição apresentou trabalhos de pintura a óleo e de fotografia que correspondiam ao registo imagético da viagem.

Embora ambas as exposições partissem do conceito de viagem, e, especificamente, desta viagem à Índia, «Ana Marchand. As 18 lições da Baghavad Guita» desenvolveu-se à volta do tema da viagem interior, desencadeada pela leitura do livro Baghavad Guita, texto religioso hindu, escrito em sânscrito, que pertence ao Mahabharata e relata o diálogo de Krishna com o seu discípulo guerreiro Arjuna. Através deste diálogo, que instrui a personagem principal na ciência do autoconhecimento, são difundidos os pontos essenciais da filosofia do vedanta que estiveram na origem da religião vaishnava, a qual, por sua vez, abarca várias ramificações de fé em Vishnu ou Krishna.

Tal como explica a artista na entrevista guiada por Ruth Rosengarten, presente no catálogo da exposição, as primeiras pinturas deste conjunto foram realizadas na Índia, aquando da sua permanência numa escola de vedanta, durante três semanas, e surgiram como uma reflexão visual sobre o texto escrito por Coomaraswamy – crítico de pintura e filosofia da primeira metade do século XX – acerca do poeta indiano Chandidas.

Assim, o conjunto de trabalhos expostos dá conta da construção de um trajeto íntimo, construído como uma ponte entre o mundo ocidental e o Oriente, «mostrado nas formas, nas cores e sobretudo num constante encantamento» (Ana Marchand. As 18 Lições da Bhagavad Guita, 1994).

Este percurso, iniciado na exposição com a transcrição de um diálogo entre Krishna e Arjuna, tomou a forma de 18 vitrinas que correspondiam à ilustração das 18 lições, onde se encontravam ordenados os guaches de cada um dos 18 trabalhos, numa disposição semelhante a um livro aberto. Esta apresentação foi descrita por Leonor Nazaré no artigo que escreveu para o jornal Expresso: «As formas rodopiantes, os objetos mais ou menos identificáveis com os canais e contentores, os focos de cor, as tramas e as geometrizações irregulares criam uma sequência de sugestões e legibilidade abstractas, o alfabeto de uma vivência interior complicada de partilhar.» (Nazaré, Expresso, 25 fev. 1995)

A montagem da exposição, referência transversal de todas as críticas analisadas, foi elogiada por João Pinharanda, que a qualificou como «notável para a visibilidade da série» (Pinharanda, Público, 21 jan. 1995).

José Luís Porfírio também se debruçou sobre a montagem, referindo-se ao alinhamento das vitrinas e à «iluminação transfigurante dos pequenos guaches da autora (17,5 por 23 cm) [que] tornam a exposição um desfile de pequenos objectos, iluminados por dentro ou mesmo incendiados, que narram a aurora do mundo e dos objectos» (Porfírio, Expresso, 11 fev. 1995).

O caráter intimista da exposição foi apontado por Isabel Carlos, que criticou, no entanto, a falta de profundidade espiritual do trabalho de Ana Marchand: «[…] estes trabalhos cingem-se a uma certa eficácia formalista; mas não conseguem transmitir a profundidade de uma mais-valia "espiritual", pelo menos no espectador.» (Carlos, Expresso, 28 jan. 1995)

Carolina Gouveia Matias, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Fotografias


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00457

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de convites, correspondência interna e externa, orçamentos, recortes de imprensa e material para o catálogo. 1994 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/044-D02926

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1995


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