Exposição de fotografia de Gérard Fourel (1946), inaugurada a 12 de março de 1992 no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, sede da delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, e realizada no âmbito do colóquio «Ethnologie du Portugal: Unité et Diversité». Este evento procurou homenagear Ernesto Veiga de Oliveira, importante etnólogo português, nascido na Foz do Douro em 1910.

«Negrões (Trás-os-Montes)» apresentou um conjunto fotográfico a preto-e-branco, de interior e exterior, da província de Barroso, no qual se retratam tradições, costumes e gentes locais. Este trabalho resultou de um desvio acidental por ocasião de uma viagem que o fotógrafo fez ao norte de Portugal durante a década de 1980, na qual passou pelas vilas de Pitões, Frades, Cambeses, Vilar de Perdizes, Agrelos, Alturas de Barroso, Vilarinho Seco, Ponteira e Negrões. É um conjunto de grande carga emotiva, conseguida graças à aproximação que o fotógrafo consegue estabelecer com as gentes locais, captando o seu quotidiano, sentimentos e expressões genuínas.

Com este trabalho, o fotógrafo reflete acerca do problema da desertificação das aldeias do interior de Portugal, traçando um paralelismo entre esta realidade e a da zona da Bretanha de que é originário. Daqui resultou ainda a publicação do livro Negrões: Memória Branca/La Mémoire Blanche, com fotografia de Gérard Fourel e textos de Gilles Cervera. O título evoca as memórias que Fourel guardou da aldeia de Negrões a partir do relato dos seus pais, e que viria a recompor na viagem que empreendeu pelas pequenas aldeias transmontanas, em muito semelhantes às do norte de França.

Sobre a exposição, um artigo na revista Hommes & Migrations, da autoria de André Videau, elogia o interesse do tema e a qualidade das fotografias apresentadas lamentando, contudo, a pouca informação sobre as obras no espaço expositivo e a fraca divulgação pública, fatores que explicariam a sala vazia que o jornalista encontrou aquando da sua visita.

Carolina Gouveia Matias, 2018