Contemporary Art from Portugal. Western Lines

Comemorações dos 450 Anos da Chegada dos Portugueses ao Japão

Exposição coletiva de oito artistas portugueses, integrada nas comemorações dos 450 anos da chegada dos portugueses ao Japão. Apresentada em Tóquio, foi organizada, a partir do convite do embaixador de Portugal no Japão, pela Fundação Calouste Gulbenkian, em parceria com o Hara Museum of Contemporary Art.
Collective exhibition on eight Portuguese artists forming part of the events commemorating 450 years since the arrival of the Portuguese in Japan. Staged in Tokyo, the show was organised by the Calouste Gulbenkian Foundation at the invitation of the ambassador of Japan to Portugal, in partnership with the Hara Museum of Contemporary Art.

Exposição de arte portuguesa contemporânea, apresentada em Tóquio, organizada conjuntamente pelo Hara Museum of Contemporary Art e pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), com o apoio da Embaixada de Portugal no Japão, da Asahi Beer Arts Foundation e ainda da Comissão Japonesa para os 450 anos da comemoração das relações entre Portugal e o Japão, efeméride na qual se inseriu esta exposição.

Em 1991, o Embaixador de Portugal no Japão, José Mello Gouveia, fez o convite ao Centro de Arte Moderna (CAM) para organizar uma mostra de arte contemporânea portuguesa no Japão. A divulgação da atualidade artística portuguesa era um dos objetivos fundamentais, como explicava: «Os Serviços Culturais desta Embaixada […] têm vindo a envidar esforços no intuito de promover manifestações culturais e artísticas portuguesas no Japão […]. Um dos campos onde uma intervenção activa parece mais viável é exactamente o da arte contemporânea. O desconhecimento do que se faz em Portugal é quase total […], havendo, contudo, e talvez por isso mesmo, uma imensa curiosidade em conhecer os artistas portugueses e as suas obras, porventura também alimentada por numerosas referências internacionais de sinal positivo.» (Ofício de José Mello Gouveia para José Sommer Ribeiro, 18 abr. 1991, Arquivos Gulbenkian, CAM 00287)

A mesma ideia transparecia nas palavras do diretor do Hara Museum, instituição que acolheu e coorganizou a exposição: «Despite the long historical roots, however, little is known about contemporary Portuguese culture in Japan. The two nations remain bonded by a common past and yet separated by the vast distance of two oceans.» (Contemporary Art from Portugal. Western Lines, 1993, p. 2)

Tanto o CAM como o Serviço Internacional da FCG acolheram esta proposta, dando continuidade à ação da instituição a nível internacional, que visava promover a arte e a cultura portuguesas nos países estrangeiros, missão fulcral desde os seus primeiros anos de atividade (Cf., nomeadamente, «Portugal de Hoje», Rio de Janeiro, 1965; «Exhibition of Works of Contemporary Art Belonging to the Calouste Gulbenkian Foundation», Bagdade, 1966; «Art Portugais. Peinture et Sculpture du Naturalisme à nos Jours», Paris, Madrid, Bruxelas, 1967-1968).

Os trabalhos preparatórios da exposição arrancaram em 1992, tendo os comissários Jorge Molder e Takeshi Kanazawa desenvolvido uma ação a partir de Lisboa e Tóquio. O empenho desta colaboração é sustentado pela intensa troca de correspondência entre comissários para a tomada de decisões.

Exemplo disso é o fax de Takeshi Kanazawa para Jorge Molder no qual tentava chegar ao título da exposição: «Tem alguma ideia para o nome da exposição? Creio que se poderia jogar com o facto de o Japão ser País do Sol Nascente e Portugal o País do Sol Poente. O que lhe parece? From Another Sun.» (Carta de Takeshi Kanazawa a Jorge Molder, 11 jul. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00287)

Em resposta, Jorge Molder apresenta a sua proposta: «Tenho pensado muito num nome para a exposição e ocorreu-me um que agrada a todos os artistas: WESTERN LINES. De facto todos eles estão mais ou menos directamente envolvidos na disciplina do desenho, a palavra evoca igualmente as linhas de uma possível carta e o título soa a companhia de aviação, o que me parece ter alguma graça e ser bastante evocativo. Diga-me o que pensa.» (Carta de Jorge Molder para Takeshi Kanazawa, 27 jul. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00287) Acabaria por ser fixado o título da exposição e aceite esta última proposta.

Dada a distância geográfica entre os dois países e a dispersão geográfica das obras selecionadas, a exposição teve de ser preparada com bastante antecedência. Algumas obras de Julião Sarmento vieram dos EUA, enquanto outras, de Paula Rego, chegaram do Brasil.

No âmbito do mecenato da exposição, prática que se institucionalizou durante a década de 1990, foi diligenciada a colaboração de cerca de 40 empresas japonesas a operar em Portugal, embora nenhuma se tenha associado à iniciativa, o que demonstra a pouca familiaridade que existia, à época, entre o tecido empresarial e o mecenato cultural em Portugal.

A exposição veio a ocupar a totalidade das galerias do Hara Museum e incluiu 45 peças de oito artistas portugueses contemporâneos, com destaque internacional, pertencentes a duas gerações: Helena Almeida (fotografia/desenho), Paula Rego (pintura e gravura), Rui Chafes (escultura), Gaëtan (desenho), Pedro Proença (desenho/instalação), Pedro Cabrita Reis (instalação), Rui Sanches (escultura) e Julião Sarmento (pintura). A escolha cuidadosa dos artistas e o prestígio do museu onde iam ser apresentadas previam o êxito da iniciativa.

A abordagem curatorial representou uma mudança quando comparada com a maioria das representações internacionais de arte portuguesa realizadas pela FCG até então. No catálogo, Jorge Molder opunha-se claramente à ideia vigente de as representações internacionais se tornarem veículos de transmissão de uma dada «identidade nacional»: «They are all Portuguese, although they weren't all born in Portugal. Most of them live and work in Portugal. They all maintain some link or connection to aspects of Portuguese culture. And yet it would be surely meaningless to imagine that they transmit some form of national identity. […] These eight artists shown here do not belong to the same generation, and yet certainly do not form a group according to their affinities. This means that the choice did not follow the needs of any demonstration. We may at best talk of compatibility. What they have in common, despite their differences in age, and thus of the dimensions of their works, is that they have all carried out work which is consistent and clearly personal; i.e. they all have worlds they perfectly and physically identifiable. […] one point in common unites the artists: they draw.» (Contemporary Art from Portugal. Western Lines, 1993, pp. 7-9)

Também na publicação periódica do Hara Museum era destacado o uso da linha nas mais variadas disciplinas artísticas que integravam a exposição, assim como a originalidade e modernidade das propostas artísticas apresentadas: «The exhibition brings from Portugal to Japan a message of artistic modernity, a sign of the open cultural climate that has only recently been allowed to flourish.» (Hara Museum Review, 1993, pp. 46-47)

Na capa do catálogo da exposição figurou a representação de Old man's memory (1991), uma obra de Julião Sarmento que, no final da exposição, veio a ser adquirida pelo Hara Museum ao artista.

A organização desta exposição foi também uma oportunidade para o reforço aquisitivo do acervo do CAM – atual Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian. No âmbito desta exposição foram adquiridas algumas obras (Rui Chafes, A Manhã I e A Manhã VI, Inv. 93E302 e 93E303; Gaëtan, série La Chambre verte; Pedro Cabrita Reis, A Casa do Esquecimento, Inv. 93E301; Julião Sarmento, The Frozen Leopard, Inv. 93P306), que reforçaram a representatividade de uma nova geração de artistas surgidos na década de 1980.

Os artistas representados, com exceção de Paula Rego, marcaram presença na inauguração e, juntamento com o José Sommer Ribeiro, diretor do CAM, dialogaram informalmente com o público e com a imprensa, prática recorrente daquele museu nas suas apresentações internacionais. Alguns deles, ajudaram mesmo na montagem, como Pedro Proença, que viajou para o Japão antecipadamente a fim de completar a instalação dos seus desenhos in situ.

Aquando da sua visita oficial ao Japão, Mário Soares, presidente da República de Portugal, assinalou também a sua passagem pela exposição, como foi documentado pela Hara Museum Review.

A receção crítica da exposição foi bastante positiva, expressa nas 85 notícias que lhe foram dedicadas na imprensa escrita nipónica. A afluência do público também foi significativa, totalizando cerca de 9700 visitantes.

Filipa Coimbra, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

A arte da fuga - I - La chambre verte

Gaëtan (1944-2019)

A arte da fuga - I - La chambre verte, 13-12-1992 / Inv. DP1617

A arte da fuga - I - La chambre verte

Gaëtan (1944-2019)

A arte da fuga - I - La chambre verte, 03/01/1993 / Inv. DP1618

A arte da fuga - I - La chambre verte

Gaëtan (1944-2019)

A arte da fuga - I - La chambre verte, 09/07/1992 / Inv. DP1619

The Frozen Leopard

Julião Sarmento (1948-2021)

The Frozen Leopard, Inv. 93P306

The Vivian Girls as Windmills

Paula Rego (Lisboa, Portugal, 1935 – Londres, Inglaterra, 2022)

The Vivian Girls as Windmills, Inv. 86P589

A Casa do Esquecimento

Pedro Cabrita Reis (1956-)

A Casa do Esquecimento, Inv. 93E301

A Manhã I

Rui Chafes (1966-)

A Manhã I, Inv. 93E302

A Manhã VI

Rui Chafes (1966-)

A Manhã VI, Inv. 93E303

A Manhã VII

Rui Chafes (1966-)

A Manhã VII, Inv. 93E304

Natureza Morta II

Rui Sanches (1954-)

Natureza Morta II, 1984 / Inv. 86E450

Sem título (B.B.4)

Rui Sanches (1954-)

Sem título (B.B.4), 1991 / Inv. 92E214

Tiroliro

Rui Sanches (1954-)

Tiroliro, 1988 / Inv. 89E451

A arte da fuga - I - La chambre verte

Gaëtan (1944-2019)

A arte da fuga - I - La chambre verte, 13-12-1992 / Inv. DP1617

A arte da fuga - I - La chambre verte

Gaëtan (1944-2019)

A arte da fuga - I - La chambre verte, 03/01/1993 / Inv. DP1618

A arte da fuga - I - La chambre verte

Gaëtan (1944-2019)

A arte da fuga - I - La chambre verte, 09/07/1992 / Inv. DP1619

The Frozen Leopard

Julião Sarmento (1948-2021)

The Frozen Leopard, Inv. 93P306

A Casa do Esquecimento

Pedro Cabrita Reis (1956-)

A Casa do Esquecimento, Inv. 93E301

A Manhã I

Rui Chafes (1966-)

A Manhã I, Inv. 93E302

A Manhã VI

Rui Chafes (1966-)

A Manhã VI, Inv. 93E303


Publicações


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00287

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de obras, planta, empréstimos, seguros, orçamentos, ofícios, correspondência recebida e expedida, material de divulgação, elementos para o catálogo. 1991 – 1995


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