Exposição individual de Rui Aguiar (1944), na qual o artista portuense dava a conhecer as pesquisas levadas a cabo no âmbito da bolsa de estudo que lhe foi concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) em 1988.

Apresentada primeiramente na Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, com o apoio da FCG, esta mostra ocupou a Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), sendo exposta em março de 1991 na Galerie Cristine Debras et Yves Bical (Bélgica).

Esta era uma exposição de pintura, sobre pintura ou, mais precisamente, sobre a prática da pintura, explorando a sua dimensão matérica, mas também mágica, de transformação. A investigação então levada a cabo por Rui Aguiar incidia nos desperdícios: materiais supérfluos, objetos rejeitados, após a atividade pictórica, como latas e baldes de tinta, bidões de mistura, papéis e cartões reutilizados para proteger superfícies ou pousar utensílios. Estes não só se tornavam material de trabalho, incorporado em assemblages e intervencionado através da pintura, como se tornavam também objeto de estudo e reflexão. Na mostra, distinguiam-se assim três tipos de trabalhos: pinturas em que o artista se apropriou de diversos materiais, deixando vestígios de ações do acaso que ocorrem durante o ato de pintar, como cartões e tampas com escorrimentos, sedimentos, pigmentos, marcas de movimentos; peças de cariz escultórico que faziam uso desses mesmos materiais e que serviam posteriormente como suporte de pintura, executando-se pintura sobre «pintura»; e, por último, uma série de trabalhos em que as formas de tais contentores e suportes se tornavam tema, objeto de planificações, multiplicações, desconstruções, gerando novas formas e dando vida a diferentes composições.

Deste modo, tais materiais e objetos ganhavam uma nova vida, «eterna» através da arte. Nas palavras do artista: «Tão frágeis antes, são agora mais fortes, mais estáveis que eu, ganharam uma autonomia que os independentiza e predispõe à permanência.» (Rui Aguiar. Trabalhos de 1988-1989, 1990)

Na Galeria de Exposições Temporárias (piso 01), fragmentada numa sucessão de cubos brancos, estas obras foram agrupadas por material, revelando as diferentes experiências e estudos desenvolvidos pelo artista, com base em tampas e aros das latas de tinta, cartão canelado, placas e tampas de aglomerado. Apesar da íntima relação entre as peças, diferentes aspetos de um mesmo exercício, Danièle Gillemon, no seu artigo para o Le Soir, destacou as pinturas: «Bien que l'exposition se diversifie en sculptures et assemblages circulaires (qui tendent d'ailleurs au tableau), on est d'abord séduit par la peinture proprement dite, par les ambiances blondes et lumineuses qu'elle diffuse au départ d'une géométrie douce, par la puissance suggestive de ces plages sableuses de couleurs pastel organisées par une écriture picturale très simple mais monumentale et construite.» (Gillemon, Le Soir, 16-17 mar. 1991)

Por ocasião da exposição, foi produzido um catálogo bilingue (português/francês), editado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Mariana Roquette Teixeira, 2018