Em 1999, as ações de apoio à leitura promovidas pelo Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura (SBAL) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) levaram a cabo a organização de várias exposições itinerantes por municípios aderentes à rede de bibliotecas fixas da FCG. Uma dessas mostras foi «Olívia da Silva. Sem Luvas», da autoria de Olívia da Silva (1962).

À data, a autora residia em Inglaterra e beneficiava de uma bolsa de estudo da Gulbenkian (1998-2001) para a investigação académica que tinha em mãos na Universidade de Derby (Arquivos Gulbenkian, SBA 09244). O seu campo de estudo relacionava as áreas científicas da psicologia infantil e da pedagogia com a produção fotográfica e os processos de comunicação que ela permite – área em que usufruía também, desde 1997, de uma bolsa do Centro Português de Fotografia.

Em julho de 1998, Vasco Graça Moura, então diretor do SBAL, endereça uma carta a Olívia da Silva manifestando o interesse do serviço em apresentar duas exposições suas em vários espaços associados à rede de bibliotecas fixas da FCG. O convite vinha no seguimento de conversas anteriormente mantidas, explicitando a pertinência da colaboração e nomeando Ana Gaiaz, assessora de direção do SBAL, como responsável pelo processo de produção (Carta de Vasco Graça Moura para Olívia da Silva, 29 jul. 1998, Arquivos Gulbenkian, SBAL 01396). Iniciavam-se assim as diligências para a inclusão de duas exposições itinerantes de Olívia da Silva nas ações de apoio à leitura do Programa de Apoio à Leitura do SBAL para 1999. Essas exposições consistiram numa seleção de imagens da mostra «Memórias de Nós», anteriormente apresentada pela Câmara de Matosinhos (Galeria do Município), e esta série inédita, Sem Luvas. Ambas mereceram um financiamento de novas tiragens fotográficas patrocinadas pelo SBAL (Arquivos Gulbenkian, SBAL 01396).

«Olívia da Silva. Sem Luvas» apresentou 14 imagens fotográficas de 50 × 50 cm. Nove delas retratavam crianças com uma página de caderno diário em fundo. Outras quatro mostravam silhuetas de crianças expressando um conceito através de mímica gestual («O Galo», «O Comboio», «O Sol», «O Coelho»), como nas sombras chinesas (Arquivos Gulbenkian, SBAL 01396). Olívia da Silva concebeu ainda uma montagem a partir de outra silhueta («A Borboleta»), que faz capa no folheto da exposição e que também terá sido impressa para integrar a mostra (Carta de Olívia da Silva para Ana Gaiaz, 25 jan. 1999, Arquivos Gulbenkian, SBAL 01396).

A mostra foi apresentada primeiramente na cidade da Batalha, em conjunto com «Memórias de Nós», contando com a presença de Vasco Graça Moura na inauguração (Ofício de António de Sousa Lucas para Vasco Graça Moura, 3 mai. 1999, Arquivos Gulbenkian, SBAL 01395). Segundo um calendário provisório arquivado, as mostras terão ficado patentes nessa cidade entre 27 de abril e 26 de junho de 1999 (Calendarização provisória das exposições itinerantes, 1999, Arquivos Gulbenkian, SBAL 01394). A mesma fonte indica que «Memórias de Nós» e «Sem Luvas» seguiram depois itinerários separados, tendo esta última seguido para a cidade de Mora e daí para Faro, onde terá sido apresentada no pico do verão, entre agosto e setembro de 1999 (Ofício de Nélia Brito, técnica superior da Biblioteca Municipal de Faro, para Ana Gaiaz, 16 ago. 1999, Arquivos Gulbenkian, SBAL 01395). O último registo documentado conduz-nos até Fafe, onde a exposição terá sido apresentada entre novembro e dezembro de 1999 (Ofício de Antero Barbosa Fernandes, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Fafe, para Ana Gaiaz, 10 nov. 1999, Arquivos Gulbenkian, SBAL 01395).

Todos estes municípios estavam abrangidos pela rede de bibliotecas fixas da FCG. As câmaras municipais associaram-se, como habitualmente, à produção destas iniciativas itinerantes do SBAL (Arquivos Gulbenkian, SBAL 01395). O calendário já citado adianta que, para algumas das apresentações de «Olívia da Silva. Sem Luvas» foi programada também uma «acção» paralela, conforme já sugeria a carta de Graça Moura a Olívia da Silva de 29 de julho de 1999, acima referida.

À semelhança das suas outras exposições itinerantes, o SBAL editou um desdobrável para esta mostra. Conta com uma biografia de Olívia da Silva e com textos que dão suporte conceptual ao projeto. A psicolinguista Sylviane Rigolet contribui com «Nascer pelo Gesto» (título que chegou a ser considerado para a própria exposição). A colaboração de Rigolet tinha sido fundamental para a conceção e produção de todo este trabalho, conforme sublinha uma carta de Olívia da Silva (Carta de Olívia da Silva para Ana Gaiaz, 4 jan. 1999, Arquivos Gulbenkian, SBAL 01396). Já Halla Beloff, professora de Cultura Fotográfica em Derby, introduz o projeto, comentando as suas valências (Sem Luvas, 1999).

Daniel Peres, 2019