Exposição individual de pinturas de João Penalva (1949), a convite da Fundação Calouste Gulbenkian. A exposição apresentou obras realizadas a partir de materiais muito diversos, como pómice, mármore em pó, chapas de metal e dobradiças, sais e vinagres, e refletiu a influência do seu trabalho, como cenógrafo, no campo das artes performativas.
Solo exhibition of paintings by João Penalva (1949) at the invitation of the Calouste Gulbenkian Foundation. The exhibition presented works created using a wide variety of materials, such as pumice, marble dust, metal sheets and hinges, salts and vinegars, in a display which demonstrated the influence of Penalva’s work as a scenographer in the performing arts.
A exposição «João Penalva» inaugurou a 4 de dezembro de 1990 na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna, encerrando a 13 de janeiro de 1991.
A convite da Fundação Calouste Gulbenkian, o artista expôs uma série de 16 trabalhos, a que não é alheia a sua experiência de cenógrafo e «um longo período de aprendizagem, que vai de uma leitura assídua de revistas às visitas a museus alemães», sem esquecer os anos em que frequentou a Chelsea School of Art (João Penalva, 1990).
Os trabalhos apresentados oscilam entre a figuração lírica e a abstração heterogénea, recorrendo a materiais como tinta de óleo, pómice, mármore em pó, folha de ouro e latão, chapas de metal e dobradiças, sais e vinagres. Segundo Marjorie Allthorpe-Guyton, são obras que refletem uma reação aos anos 80, fazendo eco de «uma nova abstracção que está a surgir na década de noventa na obra de jovens artistas europeus e americanos» (João Penalva, 1990).
Relativamente à museografia, João Penalva pediu expressamente a José Sommer Ribeiro para que fosse alterada a luz da Sala de Exposições Temporárias do CAM: «Gostaria de lhe pedir para a minha exposição um muito maior número de projectores ou que as lâmpadas […] fossem mudadas para 100 ou 150 watts. A apresentação do meu trabalho tem sido sempre tão parte do meu trabalho como o trabalho de estúdio. E a posição exacta das pinturas a expor e a sua iluminação, tão importantes para mim que penso dever expressar-lhe a minha inquietação sobre a possibilidade de alterar hábitos e práticas no CAM para a montagem da minha exposição.» (Carta de João Penalva para José Sommer Ribeiro, 18 mai. 1990, Arquivos Gulbenkian, CAM 00215)
O catálogo da exposição apresenta um artigo de Marjorie Allthorpe-Guyton e um de Alexandre Melo, respondendo ao pedido do artista de ter no catálogo um texto de um crítico de arte britânico e um de um crítico de arte português. De facto, numa das cartas enviadas por João Penalva a José Sommer Ribeiro, o artista sugere que o catálogo seja bilingue e alude à importância desta exposição na divulgação internacional da sua obra: «Esqueci-me durante a nossa conversa de abordar o assunto de que me seria muito útil que o catálogo fosse bilingue português-inglês. Como compreenderá, esta exposição será a mais importante para mim até hoje e a tradução dos textos e entrevista muito necessários para a divulgação em Inglaterra.» (Carta de João Penalva para José Sommer Ribeiro, 18 mai. 1990, Arquivos Gulbenkian, CAM 00215)
Na entrevista conduzida por Ruth Rosengarten, publicada no catálogo da exposição, o artista fala sobre os anos de bailarino e de cenógrafo na companhia de Jean de Pomares, no curso de pintura da Chelsea School of Art e nos artistas que mais influenciaram o seu trabalho, como Stephen Buckley, pela utilização do mesmo padrão do arlequim. Esta entrevista termina com João Penalva a dar a receita de uma sopa de beterraba que tinham acabado de comer, após Rosengarten perguntar como é que o artista a tinha feito, relacionando esta questão com o processo criativo e artístico.
A divulgação da exposição na imprensa nacional partiu da leitura do trabalho de João Penalva e chamou a atenção para a influência que o seu percurso enquanto bailarino na companhia de Pina Bausch teve na sua obra. O tom da imprensa nem sempre foi positivo, como no artigo assinado por C.V. (Carlos Vidal?) para O Independente, que, estabelecendo um paralelo com a exposição de Penalva na Galeria Atlântica, no Porto (a decorrer na mesma altura), afirma: «Por sua vez, a obra pictórica – Centro de Arte Moderna – apresenta-se algo frouxa para que possa exercer uma acção crítica ou analítica sobre os vários aspectos da linguagem plástica.» (C.V., O Independente, 28 dez. 1990)
Por seu lado, Leonor Nazaré, em recensão para o jornal Expresso, entende que, em termos globais, a obra de Penalva é mais expressiva nos trabalhos apresentados no CAM: «Na exposição do CAM, a variação de opções é mais evidente: em Repertório, o alinhamento de referências pictóricas diferentes configura a situação pela qual nesta mesma exposição surge uma obra como Collector, que passa tanto pelo cubismo como pelo minimalismo, e o lirismo abstracto, lúdico, romântico, inglês da maior parte das telas.» (Nazaré, Expresso, 22 dez. 1990)
Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00215
Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convites, correspondência interna e externa, orçamentos, recortes de imprensa e material para o catálogo.1990 1992
Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/004-D00528