Inaugurada a 25 de fevereiro de 1988, na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), a exposição «Escavações do Aldeamento Português em Ayutthaya» decorreu de um projeto arqueológico iniciado em 1984 e que o Serviço Internacional da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) apoiara desde o início.

Conduzida por Patipat Pumpongpaet e Pirak Javanakriangkrai (Archeology Unit 1, Archeology Division, The Fine Arts Department, Tailândia), essa investigação tinha já merecido uma apresentação pública, em 1987, no Phra Narai Rajavinet National Museum (antigo palácio real situado na província de Lop Buri, Tailândia).

O Arquivo do Serviço de Exposições e Museografia da FCG conserva um exemplar do catálogo dessa primeira mostra, realizada por ocasião do «Conservation of Thai Heritage Day». Trata-se de uma interessante versão bilingue, tailandês-inglês, a partir da qual se conclui que o evento terá decorrido, segundo o calendário tailandês, de 2 ?????? [mesayon (abril)] a 31 ??????? [pruetsaphakhom (maio)] do ano 2530 (1987 do calendário cristão). Refere-se ainda que o evento inaugural terá sido presidido pelo embaixador de Portugal na Tailândia, à data José de Mello e Castro, denotando o caráter diplomático da iniciativa desde o seu início (The Excavation…, 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00378).

A exposição na Fundação Calouste Gulbenkian aliaria a diplomacia às comemorações do 60.º aniversário de Rama IX [Bhumibol Adulyadej (1927-2016)], rei da Tailândia, de 1946 à data da sua morte.

De caráter documental e didático, a mostra contemplou materiais fotográficos, videográficos, cartográficos, bibliográficos e epistolográficos. No seu conjunto, terão possibilitado uma extensa contextualização deste aldeamento português na história do reino de Ayutthaya, mais tarde Sião. O património cultural legado pelo aldeamento – habitado entre o início do século XVI e meados do século XVIII – era então confrontado com diversas referências à Tailândia contemporânea (Declaração, nov. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00378).

Além dos diapositivos, provas fotográficas e vídeos expostos, merecem destaque os dois mapas históricos e um acordo de 1887 celebrado entre o Estado português e o reino do Sião.

A exposição terá ficado patente em Lisboa até 13 de março de 1988. Tendo em conta a sua curta duração, o evento acabou por receber uma atenção muito considerável por parte da comunicação social, reveladora da popularidade das temáticas históricas – em especial no que toca ao expansionismo português – junto do público e dos agentes culturais que com ele medeiam.

«Desde os seus primeiros anos de actividade que a FCG assumiu um compromisso com a preservação das reminiscências culturais portuguesas espalhadas pelo mundo. Essa missão tem sido particularmente evidente por parte do Serviço Internacional da FCG, que tem apoiado várias obras de restauro. É como fruto dessa acção continuada que é publicado pela FCG, no ano anterior ao desta mostra, o livro 4 Exemplos de Recuperação e Revitalização de um Património Construído pelos Portugueses no Mundo, onde a igreja dominicana que esteve no centro destas escavações em Ayutthaya aparece destacada.» (4 Exemplos…, 1987)

Comentando as iniciativas de recuperação do património português no mundo, João Pedro Garcia, antigo diretor do Serviço Internacional, lembrava, numa entrevista de 2005, a publicação de um «livro que aborda os projectos da Fundação, da autoria de Maria João Avillez, com fotografias de Rui Ochôa, do qual foi feita uma edição inglesa para divulgação internacional» («Conservação do Património Português no Mundo», Pedra & Cal, n.º 28, 2005). A publicação em causa é, provavelmente, Portugal: As Sete Partidas para o Mundo, editado pelo Círculo de Leitores, no ano 2000, e cujo lançamento terá sido acompanhado por uma exposição homónima realizada na FCG, patrocinadora dessa publicação.

Em 2006, o próprio Serviço Internacional publicaria A Fundação Calouste Gulbenkian e o Património Histórico Português no Estrangeiro, edição trilingue que também destaca as escavações de Ayutthaya. Acompanhou uma exposição homónima que integrava fotos de Rui Ochôa e de João Campos, além de maquetas de Alvaro Negrello e António Rosinhas.

Daniel Peres, 2018