A exposição retrospetiva da obra da artista Menez (1926-1995) teve lugar no Piso 0 da Galeria de Exposições Temporárias, na Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), entre 22 de novembro e 31 de dezembro de 1990, e foi comissariada por José Sommer Ribeiro, Maria Helena de Freitas e Menez.

O convite partiu de José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna (CAM), e do Serviço de Exposições e Museografia (SEM) da FCG, que desde o início projetou uma exposição retrospetiva com as mesmas características das exposições dedicadas à obra de Júlio Pomar, António Dacosta, Paula Rego e Júlio Resende, já realizadas na Galeria de Exposições Temporárias.

Ao reunir um numeroso conjunto de pinturas de 1950 a 1990, a exposição permitiu relembrar os trabalhos mais antigos de Menez, ao mesmo tempo que deu a conhecer a sua obra mais recente, produzida na década de 1980. Assim, o conjunto selecionado mostrou ao público o percurso da artista, do abstracionismo dos primeiros anos ao figurativismo dos últimos trabalhos, marcados pela forte presença feminina sobre fundos policromáticos e por temas que incluem anjos, crucificações, jardins e casas povoadas de estátuas, mulheres e crianças. Segundo José Sommer Ribeiro, foi esta fase do trabalho de Menez que constituiu o núcleo da exposição, ao qual se atribuiu maior destaque: «São no entanto essas obras que abrirão caminho para a figuração que irá com extraordinária força ao longo dos anos 80 surgir e que na presente exposição têm o merecido ênfase.» (Menez, 1990)

Apesar de ser possível observar a mutação dos temas desenvolvidos e do próprio aspeto formal das pinturas de Menez, patente na já referida dicotomia abstracionismo/figuração, há uma constante exploração dos domínios da luz e dos espaços nas pinturas expostas, em «massas de cor, luz e matéria que se fazem e desfazem como aparições» (Ibid.).

Com esta exposição, o que se pretendeu não foi apresentar uma seleção de trabalhos, mas antes dar a conhecer uma visão global da extensa obra de Menez, permitindo uma leitura de confronto entre as suas diferentes fases: «Avaliar persistências, admitir cruzamentos, possibilitar recuos, é o objectivo de uma exposição de (aproximadamente) quatro décadas de trabalho, que se apresenta retrospectiva e não antológica. Ou seja, não tendo um carácter preferencialmente selectivo, possibilita, tanto quanto possível, um olhar sobre a globalidade do seu percurso.» (Ibid.)

Um dos maiores obstáculos na produção da mostra foi a constituição do núcleo de obras mais antigas de Menez, pertencentes aos anos 50 e 60. Para se proceder ao levantamento deste conjunto, foi publicado um anúncio no jornal Expresso, ao qual responderam diversos colecionadores privados.

A opção museográfica de dispor todas as pinturas a óleo e a guache de modo cronológico incluiu ainda numerosos estudos e, nas palavras de João Pinharanda, «demasiadas e por vezes desequilibradas obras», iniciando-se o percurso da exposição com «um diálogo entre as produções globalmente menos interessantes dos anos 50 e os jogos sensoriais das grandes telas da década seguinte» (Pinharanda, Público, 23 nov. 1990).

Esta mostra decorreu em simultâneo com quatro outras exposições dedicadas à artista, que, no seu conjunto, levaram a que fosse atribuído a Menez o Prémio Pessoa 1990, um prémio que desde 1987 distingue anualmente personalidades nacionais ligadas à cultura, às artes e à ciência, sob a iniciativa do jornal Expresso em conjunto com a empresa Unisys. Entre os nomeados, estiveram personalidades como Herberto Helder, Manoel de Oliveira, Vergílio Ferreira, Victorino Magalhães Godinho e Eduardo Souto de Moura.

Para a descrição de cada fase da obra de Menez, procedeu-se ao levantamento de vários textos de catálogos e recortes de imprensa, reunidos no catálogo da exposição. Assim, podem ler-se pequenos textos de críticos como Fernando Pernes, Salette Tavares, Vic Willing, José-Augusto França, Alexandre Pomar, Ruth Rosengarten, entre outros.

A receção da exposição pela imprensa nacional e pelos críticos de arte da época foi muito positiva. Isabel Carlos, por exemplo, considerou-a como, «sem dúvida, uma das mais importantes retrospectivas do ano» (Carlos, Expresso, 15 dez. 1990).

Joana Brito, 2015

Carolina Gouveia Matias, 2018