Exposição individual do fotógrafo português Jorge Guerra (1939), radicado no Canadá (em Montreal) desde 1970.

Num texto que José Sasportes escrevera em 1974 para a revista Colóquio/Artes, incluído no catálogo de exposição, o historiador classifica Jorge Guerra como «um dos raros artistas-fotógrafos portugueses», e lamenta que, «salvo como amador premiado em duas ou três exposições colectivas», Jorge Guerra nunca tenha exposto em Lisboa; aliás «pouco se publicou dele nos nossos jornais e revistas» (Encontros com Narciso. Fotografias de Jorge Guerra, 1989). Terão sido necessários quinze anos para que se realizasse a tão desejada exposição individual em solo nacional. Isto explica em parte algumas das obras selecionadas por Guerra para esta mostra.

A Fundação Calouste Gulbenkian havia apoiado a formação de Carlos Guerra, tendo-lhe concedido em 1964 uma bolsa de estudo para frequentar a London School of Film Technique. Em 1982, o fotógrafo tomou conhecimento do interesse de José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna, em apresentar o seu trabalho.

Não podendo ser considerada uma mostra retrospetiva, esta dava a conhecer o percurso do artista, integrando uma pequena seleção de fotografias do período de 1967-1969, quando Guerra percorrera várias cidades (Lisboa, Cidade do México, Veneza, Florença Londres), tentando satisfazer o desejo de fixar o real, ou o modo como esse real se lhe apresentava. A estas fotografias juntava-se um conjunto significativo da sua produção recente, na qual o artista conjugara realidade e ficção. Nestas, predomina a simetria, ou a aparência de simetria: embora algumas destas composições sejam rigorosamente simétricas, outras são marcadas por um jogo de ilusão que surpreende o espectador. Estas fotografias, apesar de introduzirem uma dimensão surreal no trabalho de Jorge Guerra, não estabelecem uma total rutura com as suas primeiras experiências, havendo, sim, um desdobramento de possibilidades, pois o real continua presente, ainda que de forma distinta.

Ao falar sobre a sua produção mais recente o fotógrafo afirma: «O meu trabalho fotográfico tem sido, e continua a ser, uma tentativa utópica de […] permanecer fiel a um certo número de princípios que eu considero essenciais ao meio de expressão e de comunicação que é a fotografia […]: espontaneidade, improvisação, preto e branco, […] versatilidade e exigência de ser criada em contacto directo com a vida e com o mundo.» (Encontros com Narciso. Fotografias de Jorge Guerra, 1989)

Mariana Roquette Teixeira, 2018