Arquitectura Premiada em Lisboa. Prémio Valmor. Prémio Municipal de Arquitectura

50.º Aniversário da Criação do Prémio Municipal de Arquitectura

Exposição comemorativa sobre a história do Prémio Valmor e do Prémio Municipal de Arquitectura, com a iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa e organização do Museu da Cidade. A mostra apresentada e o respetivo ciclo de conferências ofereceram um importante balanço crítico da história da arquitetura na cidade de Lisboa.
Commemorative exhibition covering the history of the Valmor Award and of the Municipal Award for Architecture. The show was an initiative of the Lisbon City Council, organised by the Museu da Cidade. The works on display, together with the series of lectures, presented an important critical assessment of the architectural history of the city of Lisbon.

Inaugurada em 17 de março de 1988, no exato dia do quinquagésimo aniversário da instituição do Prémio Municipal de Arquitectura, a exposição «Arquitectura Premiada em Lisboa. Prémio Valmor. Prémio Municipal de Arquitectura» partiu da iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e teve a organização do Museu da Cidade, por ela tutelado. Coube à Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) acolher o projeto na Galeria do Centro de Arte Moderna (piso 1), ficando a montagem a cargo do Serviço de Exposições e Museografia (SEM), bem como o apoio técnico ao ciclo de conferências paralelo à exposição.

Embora tendo como mote os 50 anos da criação do Prémio Municipal de Arquitectura (decretado em 1938, mas cuja primeira atribuição data de 1943), o despacho inicial do vereador do pelouro da Cultura, Victor Reis, determinava que a iniciativa se estenderia também ao Prémio Valmor, legado pelo último visconde de Valmor, Fausto Queirós Guedes (1837-1898), no seu testamento de 1897, e cuja primeira atribuição data de 1902.

Justificava-se essa decisão, pelo facto de os dois galardões serem «indissociáveis», refletindo, no seu conjunto, «as tendências e a produção arquitetónica durante este século em Lisboa» (Despacho da CML-Presidência, 31 ago. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00380). Os dois prémios haviam sido alvo de uma fusão recente, em 1987, que fez surgir o Prémio Valmor – Prémio Municipal de Arquitectura, formato que atualmente vigora, fruto desta história conjunta que a exposição celebrava.

Todavia, uma importante salvaguarda surge no catálogo da exposição, vinculando-a a algo mais que uma comemoração. Logo na «Nota Prévia», da autoria do vereador Victor Reis, pode ler-se que a exposição «não pretende ser só uma mera retrospetiva das obras […] premiadas em Lisboa nestes últimos oitenta anos. / Num momento em que a construção civil apresenta um claro crescimento […] é um apelo […] a um maior empenhamento na construção da Cidade» (Arquitectura Premiada em Lisboa: Prémio Valmor. Prémio Municipal…, 1988). É à luz deste repto que a exposição e os colóquios que lhe estiveram associados atingem a sua total pertinência historiográfica.

A análise do catálogo deixa manifesto que em «Prémios», o núcleo central da mostra, eram apresentados 70 painéis infográficos, numa baliza cronológica que ia de 1902 a 1982. Foram contemplados 43 imóveis vencedores do Prémio Valmor; 11 vencedores do Prémio Municipal de Arquitectura; 15 menções honrosas; o vencedor de 1982 (atribuído só em 1984), na primeira edição a conjugar os dois prémios, e ainda a menção honrosa de 1983, única atribuição nesse ano.

Das oito décadas que perfazem este período de referência, apenas não terá sido integrada uma segunda menção honrosa de 1904. No entanto, ao não abarcar o intervalo 1984-1988, inviabilizou-se o desejo de conter «pelo menos um painel para cada imóvel que recebeu prémios e menções honrosas», expresso no despacho inicial de Victor Reis. Não obstante, os painéis cumpriam o requisito de conter, «além dos elementos descritivos, […] elementos gráficos do projecto do imóvel e […] fotografias antigas e recentes». Esse documento embrionário ganhava também eco no núcleo «Factos», onde se expunham «diversos documentos de interesse histórico relacionados com estes Prémios»:

1 – Retrato do 2.º visconde de Valmor, óleo s/ tela, 92 × 73 cm, 1888, da autoria de Léon Bonnat (1833-1922);

2 – Reprodução fotográfica do busto do 2.º visconde de Valmor, bronze, 1904, da autoria do escultor Teixeira Lopes (1866-1942), sito no atual Largo da Academia Nacional de Belas-Artes;

3 – Manuscrito do testamento do 2.º visconde de Valmor, 1897;

4 – Vários «aspectos» da entrega dos diplomas dos Prémios Valmor de 1943, 1945 e 1967;

5 – Na secção «As Lápides», alguns fragmentos da Lápide do Prémio Valmor de 1907;

6 – Na secção «Os Diplomas», alguns diplomas dos arquitetos premiados;

7 – Na secção «A Legislação», documentação legal referente ao Prémio Valmor, datada de 1902 e 1942, dois regulamentos do Prémio Municipal de Arquitectura de 1943 e o primeiro regulamento dos dois prémios unificados, de 1982.

A atenção concedida aos critérios de atribuição dos prémios ao longo das décadas reiterava as exortações a um maior compromisso na já citada «Nota Prévia» e era complementada pela recensão que a comissária Ana Cristina Leite publica no catálogo.

Outra confirmação desta vocação crítica foi o evento paralelo à exposição, planeado desde o começo da iniciativa. Data de 20 de novembro de 1987 uma proposta para um programa de colóquios, dirigida ao vereador Victor Reis, da autoria dos arquitetos José Manuel Fernandes e Manuel Graça Dias. Dela consta já uma boa parte da ordem de trabalhos do ciclo de conferências «Os Prémios de Arquitectura e a Cidade», levado a cabo de 28 a 30 de março de 1988, no Auditório 2 da FCG (Proposta de um colóquio sobre o tema «Prémios de Arquitectura e a Cidade», s.d., Arquivos Gulbenkian, SEM 00380; Programa de Colóquios «A Arquitectura e a Cidade», s.d., Arquivos Gulbenkian, SEM 00380; «CAM: Prémio Municipal de Arquitectura», Colóquio/Artes, n.º 77, jun. 1988, p. 74).

Também a imprensa foi sensível à possibilidade de confronto crítico que a exposição oferecia, no que concerne à história deste património arquitetónico e às políticas de urbanismo que o foram afetando. Comparando o passado e o presente de alguns dos edifícios, contraste que era reforçado na exposição, Ana Paula Avença termina o seu artigo para o jornal O Dia com a seguinte pergunta: «Será que os prémios não passam de placas que acabam por ser esquecidas?» (Avença, O Dia, 20 mar. 1988)

Pertencendo ao âmbito da arquitetura, exposição e ciclo de conferências reforçavam a sua adequação às linhas programáticas do Centro de Arte Moderna, destacada pelo seu diretor, José Sommer Ribeiro, num apontamento de 22 de janeiro de 1988 endereçado ao presidente da FCG, José de Azeredo Perdigão (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 22 jan. 1988, Arquivos Gulbenkian, SEM 00380).

A documentação fotográfica disponível demonstra uma forte adesão do público no dia da inauguração, à qual não terá sido alheia a importância dos temas urbanísticos no final da década de 1980, e evidencia a boa aposta nesta parceria institucional entre a CML e a FCG.

Como dado adicional, recorde-se que o próprio projeto do Edifício Sede e Jardins da FCG tinha sido distinguido com o Prémio Valmor em 1975, ex aequo com a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Rua Camilo Castelo Branco, em Lisboa.

Na exposição, além do respetivo painel infográfico, foi também exposto o diploma atribuído ao proprietário, a FCG, aos arquitetos Alberto Pessoa (1919-1985), Pedro Cid (1925-1983) e Ruy Athouguia (1917-2006), responsáveis pelo edifício, e aos arquitetos paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles (1922-2020) e António Viana Barreto (1924-2012), pela conceção dos Jardins. Nos corredores centrais do Edifício Sede da FCG, encontra-se atualmente exposto um fac-símile desse diploma, cujo design gráfico tem por base um desenho (c. 1930) do pintor modernista António Soares (1894-1978).

Daniel Peres, 2017

Opening on 17 March 1988, precisely fifty years after the Municipal Architecture Prize was set up, the exhibition Arquitectura Premiada em Lisboa: Prémio Valmor. Prémio Municipal de Arquitectura was an initiative of Lisbon City Council (CML) and was organised by Lisbon’s city museum, Museu da Cidade, which is run by the Council. The Calouste Gulbenkian Foundation (FCG) hosted the project on the first floor of the Modern Art Centre (MAC). The Exhibitions and Museography Department was responsible for setting up the exhibition and providing technical support for a series of conferences to run alongside it.

Although the theme was 50 years of the Municipal Architecture Award (set up in 1938 but first awarded in 1943), the first order issued by the councillor for culture, Victor Reis, established that the initiative would include the Valmor Award, bequeathed in the 1897 will of the last Viscount of Valmor, Fausto Queirós Guedes (Peso da Régua, Portugal, 1837 – Paris, France, 1898) and first awarded in 1902.

This decision was justified by the fact the two prizes were “inseparable” and together reflected “the architectural trends and production in Lisbon this century” (Order from the Mayor’s office, 31 Aug. 1987, Gulbenkian Archives, SEM 00380).

The two awards had recently been merged (in 1987) to form the Valmor Award–Municipal Architecture Award. It remains in this format today, a result of this joint history that the exhibition celebrated (see http://www.cm-lisboa.pt/viver/urbanismo/premios/premio-valmor-e-municipal-de-arquitetura [accessed on 29/11/2017]).

Nonetheless, an important proviso can be found in the exhibition catalogue, tying it to something greater than a commemoration. Right in the “Preliminary Note”, written by councillor Victor Reis, we can read that “[the exhibition] does not aim to be a mere retrospective of the works (...) given these awards in Lisbon over the last eighty years. At a time when civil construction is clearly growing (...) it is an appeal (...) for greater engagement with the construction of the city” (Arquitectura Premiada em Lisboa: Prémio Valmor. Prémio Municipal de …, 1988).

It is in the light of this challenge that the exhibition and related conferences attain their full historiographic relevance.

An analysis of the catalogue makes it clear that “Awards”, the central section of the exhibition, included 70 information panels covering the time period from 1902 to 1982. This included 43 buildings which won the Valmor Award; 11 winners of the Municipal Architecture Award; 15 honourable mentions; the 1982 winner (awarded only in 1984), when the two prizes were awarded jointly for the first time, and the honourable mention of 1983, the only award made that year.

Of the eight decades in this period, only the second honourable mention of 1904 was not included. However, by not dealing with the 1984-1988 period, the wish to include “at least one panel for each building that received an award or honourable mention” expressed in Victor Reis’ initial order did not come to fruition. Nevertheless, the panels met the requirement to contain “as well as descriptions, (...) graphic elements from the building plans and (...) old and more recent photographs”. That early document was echoed in the “FACTS” section, where “different documents of historical interest related to these awards” were exhibited:

1 - Portrait of the 2nd Viscount of Valmor, oil on canvas, 92x73 cm, 1888, by Léon Bonnat (Baiona, Françe, 1833 - Monchy-Saint-Éloi, Françe, 1922); 2 - Photograph of a bust of the 2nd Viscount of Valmor, bronze, 1904, by sculptor Teixeira Lopes (Vila Nova de Gaia, Portugal, 1866 - Alijó, Portugal, 1942), located in what is now Largo da Academia Nacional de Belas Artes; 3 - Manuscript of the Will of the 2nd Viscount of Valmor, 1897; 4 - Several views of the awarding of the diplomas for the Valmor Award in 1943, 1945, 1967; 5 - In the “Plaques” section, some fragments of the Valmor Award plaque of 1907; 6 - In the “Diplomas” section, some diplomas belonging to the architects given the award; 7 - In the “Legislation” section, legal documentation regarding the Valmor Award, dating from 1902 and 1942, two sets of regulations for the 1943 Municipal Architecture Award and the first regulations for the joint award, dating from 1982.

The attention given to the award criteria over the decades restated appeals for greater engagement in the already mentioned “Preliminary Note” and was complemented by a review that Ana Cristina Leite published in the catalogue.

Further confirmation of this critical vocation could be found in the event running in parallel to the exhibition, planned since the outset of the initiative. There was a proposal addressed to the councillor Victor Reis by architects José Manuel Fernandes and Manuel Graça Dias, dated 20 November 1987, for a series of conferences. This included most of the agenda for the series of conferences called “Architecture Awards and the City”, held on 28-30 March 1988 in the FCG’s Auditorium (Proposal for a conference on the theme “Architecture Awards and the City”, n.d., Gulbenkian Archives, SEM 00380); Programme of Conferences “Architecture Awards and the City”, n.d., Gulbenkian Archives, SEM 00380; “CAM: Prémio Municipal de Arquitectura”, Colóquio.Artes, no. 77, Jun.  1988, p. 74).

The press was also sensitive to the possibility for critical confrontation that the exhibition offered regarding the history of this architectural heritage and the urban development policies that affected it. Comparing the past and present of some of the buildings, a contrast that was furthered explored in the exhibition, Ana Paula Avença ends her article for the O Dia newspaper with the following question: “Might the prizes be nothing more than plaques that end up being forgotten?” (Avença, O Dia, 20 Mar. 1988).

Belonging to the field of architecture, the exhibition and conferences meant it was highly appropriate for the MAC’s programming, highlighted by its director, José Sommer Ribeiro, in a note to FCG president, José de Azeredo Perdigão, dated 22 January 1988 (Note by the Exhibitions and Museography Department, 22 Jan. 1988, Gulbenkian Archives, SEM 00380).

The photographs available show that there were a large number of visitors on the opening day, which would in part have been due to the importance of urban development at the end of the 1980s and reflects the good institutional partnership between Lisbon City Council and the FCG.

Additionally, it should be remembered that the plans for the FCG main office building and gardens had been given the Valmor Prize in 1975, ex aequo with the Sagrado Coração de Jesus church in Rua Camilo Castelo Branco, Lisbon.

The exhibition included, as well as the relevant information panel, the diploma awarded to the owner, the FCG, the architects Alberto Pessoa (1919-1985), Pedro Cid (1925-1983) and Rui Athouguia (1917-2006), who were responsible for the building, and the landscape architects Gonçalo Ribeiro Teles (1922) and António Viana Barreto (1924-2012), for the design of the gardens. The central corridors of the FCG’s main building currently exhibit a copy of that diploma, the graphic design of which is based on a drawing (c. 1930) by modernist painter António Soares (Lisbon, Portugal, 1894-1978).


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Ciclo de conferências

Os Prémios de Arquitectura e a Cidade

28 mar 1988 – 30 mar 1988
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José Sommer Ribeiro (à esq.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00380

Pasta com documentação referente à produção da exposição, do catálogo e do ciclo de conferências/colóquios que lhe estiveram associados: convite, epistolografia dos representantes das instituições intervenientes, cartas de pagamento de honorários aos conferencistas, programação do colóquio, maquete do catálogo, orçamento de material de montagem e recortes de imprensa. 1987 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/043-D02809

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1988

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/004-D00485

Coleção fotográfica, cor: Ciclo de conferênficias (FCG, Lisboa) 1980


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.