Expressionismo. Ingenuismo

Ciclo «Azares da Expressão»

Exposição que aborda o expressionismo na arte portuguesa através de um olhar antropológico, criando um ambiente em que o sagrado e o profano se tocam. Foi integrada no ciclo multidisciplinar «Azares da Expressão», a par da mostra «Azares da Expressão ou a Teatralidade na Pintura Portuguesa. Algumas Obras do CAM» (1986).
Exhibition on expressionism in Portuguese art from an anthropological perspective, creating an environment where the sacred and the secular meet. The show formed part of the multidisciplinary series Chance Expressions, held simultaneously with the exhibition Chance Expressions or Theatricality in Portuguese Painting: Works from the CAM (1986).

Exposição integrada no ciclo multidisciplinar «Azares da Expressão», a par da mostra «Azares da Expressão ou a Teatralidade na Pintura Portuguesa. Algumas Obras do CAM» (1986). Este ciclo, que visava «seguir o percurso da expressão, no século XX, com ou sem expressionismo, como escola» (Informação à Imprensa, 26 out. 1987, Arquivos Gulbenkian, SBA 15517), constituía a primeira «Iniciativa Global Anual» do Serviço de Belas-Artes, para a qual contribuíam todos os seus setores (Despacho de Pedro Tamen, 22 set. 1986, Arquivos Gulbenkian, SBA 19522).

Iniciado em abril com o curso «O Expressionismo no Teatro», ministrado por Ricard Salvat, este ciclo termina em janeiro de 1988 com esta mesma exposição.

«Expressionismo/Ingenuismo» propunha um olhar antropológico sobre o expressionismo na arte portuguesa. Esta temática era aqui articulada com o fantástico e o simbólico, sendo reunidas peças de arte popular e naïf, bem como de arte religiosa, datadas desde o século XVI a meados do século XX.

A intenção da mostra foi expressa do seguinte modo: «Expressionismo/Ingenuismo: da importância da expressão como veículo de transmissão de uma mensagem e do carácter ingénuo de muitas representações – preferindo a clareza do significado ao naturalismo da figuração – tenta esta pequena exposição dar uma breve ideia.» (Expressionismo/Ingenuismo [folheto], 1992, Arquivos Gulbenkian, SBA 15514)

Estruturada ao longo de nove salas, a exposição ocupou as Galerias de Exposições Temporárias do Edifício Sede. O percurso iniciava-se no piso 01, com a entrada marcada pela recriação de um portal de igreja que o visitante era convidado a atravessar. Este elemento cenográfico tinha a capacidade de despertar a curiosidade e transmitir a sensação de que, ao atravessá-lo, o visitante era transportado para outro tempo e outro espaço que, na realidade, era composto pela soma e interseção de vários tempos e espaços. Por outro lado, este elemento introduzia uma prática que se tornaria constante na mostra: o uso de ampliações fotográficas como contextualização e complemento das peças expostas.

Os núcleos eram organizados com base nas práticas artísticas e media, não obedecendo a uma sequência cronológica.

Nas duas primeiras salas, foi apresentada uma seleção muito significativa de ex-votos provenientes de todo o país, sendo o mais antigo datado do século XVI, e o mais recente de 1952. O Diário de Lisboa chega mesmo a referir que se tratava do «maior conjunto de ex-votos até hoje exposto» (Comunicado de Imprensa, 8 jan. 1988, Arquivos Gulbenkian, SBA 15514). Além dos ex-votos em pintura, foram também apresentados alguns em madeira esculpida.

O corredor que fazia a ligação entre as salas era pontuado por painéis fotográficos e esculturas em pedra que retratavam figuras masculinas, das quais se destacava o busto de D. Afonso Henriques, referenciado como a mais antiga representação existente deste rei. Aquelas figuras introduziam, por sua vez, o núcleo de escultura religiosa em pedra e cerâmica, que sucedia à área dedicada aos desenhos da «Série das Invasões Francesas», datados do início do século XIX.

Nas salas seguintes, o visitante entrava num universo marcadamente popular, de costumes e tradições, que prosseguiria no piso 0. Aos presépios e procissões em cerâmica, juntavam-se algumas peças de Rafael Bordalo Pinheiro e barros das Caldas da Rainha, nas quais imperava a crítica social.

O espaço para as festas populares e romarias era complementado no piso 0, com o teatro popular e de fantoches. Estes eventos eram documentados com recurso a registos fotográficos, cartazes e alguns objetos a eles alusivos, como marionetas e um arco das marchas populares de Lisboa. Integrava igualmente este espaço uma seleção significativa de pintura naïf, com obras de Sarah Affonso, Martha Telles, Francis Smith, entre outros, pertencentes ao Centro de Arte Moderna, e um conjunto de obras gráficas e pinturas, da autoria de Almada Negreiros, Dominguez Alvarez, Júlio, Costa Pinheiro, Mário Eloy, com temas relacionados.

A 11 de janeiro foi introduzido ainda um «fundo sonoro» (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 11 jan. 1988, Arquivos Gulbenkian, SBA 15514) composto por duas versões de Procissão, de António Lopes Ribeiro, o que contribuía para intensificar a experiência. A combinação das artes visuais e cénicas com a poesia cantada e declamada permitia que o espírito vivido nessas festas fosse transmitido de uma forma mais intensa. Foram ainda convidados os grupos Marionetas de São Lourenço e Bonecos de Santo Aleixo, para apresentarem, na última sala da exposição, um dos seus espetáculos.

Esta exposição contou com um total de 3415 visitantes.

Em agosto de 1992, a exposição viajou para Melgaço, por ocasião da X Edição da Festa da Cultura (14-16 de agosto), sendo apresentada no átrio da Câmara Municipal. Era composta essencialmente pelos registos fotográficos e por algumas peças de cerâmica apresentadas em Lisboa, das quais se destacavam os presépios e as procissões de Estremoz e Barcelos. O balanço desta atividade foi o seguinte: «Apesar dos condicionalismos do espaço e das deficientes condições de montagem, já referidos nas anteriores Informações, creio terem sido satisfatórios os resultados alcançados. Disso é prova a enorme afluência de público (tão grande que as visitas se iniciaram mesmo antes da abertura oficial e só terminaram algumas horas depois do encerramento e já com os trabalhos de desmontagem iniciados) e o tom geral de agrado, mais ou menos notório, manifestado durante esses dias pelos visitantes, e pelas diversas entidades locais que por ali passaram. Por essas razões, penso ter-se justificado a iniciativa e o esfoço dispensado.» (Informação do Serviço de Belas-Artes, 21 ago. 1992, Arquivos Gulbenkian, SBA 15514)

A exposição em Lisboa era acompanhada de um catálogo, com a listagem das peças, e de um pequeno roteiro. Para a mostra em Melgaço, foi produzido um folheto com texto introdutório e listagem das peças.

Mariana Roquette Teixeira, 2017

Exhibition in the multidisciplinary series Azares da Expessão (Misfortunes of Expression), alongside the event Azares da Expressão ou a Teatralidade na Pintura Portuguesa: Algumas Obras do CAM (Misfortunes of Expression or Theatricality in Portuguese Painting: Some of the MAC’s Pieces) (1986). This series, which aimed to “follow the course of expression in the 20th century, with or without expressionism, as a school” (Information for the Press, 26 Oct. 1987, Gulbenkian Archives, SBA 15517), was the first of the Fine Arts Department’s “Global Annual Initiatives”, to which all its sections made a contribution (Order by Pedro Tamen, 22 Sept. 1986, Gulbenkian Archives, SBA 19522).

The series began in April with the course “O Expressionismo no Teatro” (Expressionism in Theatre) given by Ricard Salvat (1934-2009) and ended in January 1988 with this exhibition.

Expressionismo/Ingenuismo suggested an anthropological view of expressionism in Portuguese art. This theme was connected to the fantastic and the symbolic and included pieces of folk and naïve art, as well as religious art, dating from the 16th century to the mid-20th century.

The event’s aims were as follows: “Expressionismo/Ingenuismo: this small exhibition aims to provide a brief idea of the importance of expression is a vessel for carrying a message and the naïve character of many representations — favouring clarity of meaning over naturalism of figuration” (Expressionismo/Ingenuismo, Aug. 1992, Gulbenkian Archives, SBA 15514).

The exhibition was laid out over nine rooms, occupying the Temporary Exhibitions Gallery of the Main Building. The exhibition began on the Lower Ground Floor, the entrance marked by the reconstruction of a church doorway through which visitors were invited to enter. This aroused curiosity and gave visitors the feeling that as they went into the exhibition they were transported to another time and space that, in fact, comprised the several intersecting times and spaces. This doorway also introduced a practice that would be recurrent throughout the exhibition: the use of enlarged photographs to contextualise and complement the pieces on display.

The sections were organised by artistic technique and media used, and did not follow a chronological order.

The first two rooms contained a very important selection of ex-votos from the entire country, the oldest dating from the 16th century and the most recent from 1952. The Diário de Lisboa newspaper even said that this was the “largest set of ex-votos exhibited to date” (Press release, 8 Jan. 1988, Gulbenkian Archives, SBA 15514). As well as the painted ex-votos, some carved in wood were also exhibited.

The corridor linking the rooms was punctuated with photo panels and stone sculptures depicting male figures, including a bust of King Afonso Henriques, believed to be the oldest depiction of this king in existence. In turn, the figures introduced a section containing religious sculpture in stone and ceramic, which followed an area dedicated to drawings in the “French Invasions Series” dating from the beginning of the 19th century.

Visitors entered a decidedly folk universe in the following rooms, filled with customs and traditions, which continued on the Ground Floor. Ceramic nativity scenes and processions were joined by some pieces by Rafael Bordalo Pinheiro and clay works from Caldas da Rainha, dominated by social critiques.

The section on folk celebrations and pilgrimages was joined on the Ground Floor by folk theatre and puppets. These events were documented by photographs, posters and some other items connected to them, such as puppets and an arch from the Lisbon folk parades. This section also included an important selection of naïve paintings, with works belonging to the Modern Art Centre by Sarah Afonso, Martha Telles, Francis Smith, among others, and a set of graphic works and paintings by Almada Negreiros, Dominguez Alvarez, Júlio, Costa Pinheiro and Mário Eloy, containing similar themes.

On 11 January, “background sound” was added (Note by the Fine Arts Department, 11 Jan. 1988, Gulbenkian Archives, SBA 15514), composed of two versions of Procissão by António Lopes Ribeiro, which helped make the experience more intense. The combination of visual arts and theatre with poetry (both read and sung) allowed the spirit experienced at the celebrations to be transmitted more vividly. The theatre groups Marionetas de São Lourenço and Bonecos de Santo Aleixo were invited to perform one of their shows in the last room of the exhibition.

The exhibition was visited by a total of 3,415 people.

In August 1992, it was taken to Melgaço for the 10th Festa da Cultura (Culture Festival, 14-16 August), and was set up in the atrium of the Town Hall. It essentially comprised photographs and some ceramic pieces that had been exhibited in Lisbon, including nativity scenes and processions from Estremoz and Barcelos. The following assessment was made of the event: “Despite space limitations and poor set-up conditions, already mentioned in previous Communications, I believe that the results achieved were satisfactory. This was proven by the large number of visitors (there were so many that visits began before the official opening and only ended some hours after it closed, once it had already started to be dismantled) and the general satisfaction expressed to varying degrees during those days by visitors and local organisations. I therefore think that the initiative and the efforts made were worth it” (Communication from the Fine Arts Department no. 286/BA/92, 21 Aug. 1992, Gulbenkian Archives, SBA 15514).

The exhibition in Lisbon was accompanied by a catalogue containing a list of the pieces and a short suggested tour. A leaflet was produced for the event in Melgaço, composed of an introductory text and a list of the pieces.


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Dona Leonor Teles "Flor da Altura"

António Costa Pinheiro (1932- 2015)

Dona Leonor Teles "Flor da Altura", 1966 / Inv. 67P293

A Procissão (La Procession)

Francis Smith (1881-1961)

A Procissão (La Procession), 1939 / Inv. 83P505

A Procissão (La Procession)

Francis Smith (1881-1961)

A Procissão (La Procession), 1939 / Inv. 83P505

Meninos

Jorge Pinheiro (1931)

Meninos, 1961 / Inv. 61P253

Casa das Violas

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Casa das Violas, Inv. 68P298

Casa das Violas

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Casa das Violas, Inv. 68P298

Casa das Violas

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Casa das Violas, Inv. 68P298

Casa das Violas

José Dominguez Alvarez (1906-1942)

Casa das Violas, Inv. 68P298


Eventos Paralelos

Colóquio

Expressionismo/Expressionismos

2 dez 1987 – 4 dez 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Sala de Conferências
Lisboa, Portugal
Teatro

Les Trompettes de la Mort

29 out 1987 – 1 nov 1987
Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II)
Lisboa, Portugal
3 nov 1987
Teatro de Gil Vicente (TAGV)
Coimbra, Portugal
Teatro

À Procura do Presente

19 nov 1987 – 29 nov 1987
Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral
Lisboa, Portugal
Bailado / Dança

Os Treze Gestos de um Corpo

4 dez 1987 – 6 dez 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Grande Auditório
Lisboa, Portugal
Ciclo de cinema

Actor/Actor

7 dez 1987 – 20 dez 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Grande Auditório
Lisboa, Portugal
Curso

O Expressionismo no Teatro

22 set 1987 – 24 set 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal
Teatro

D. Quixote

23 jan 1988 – 24 jan 1988
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Nave
Lisboa, Portugal
Teatro

Bonecos de Santo Aleixo

dez 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede
Lisboa, Portugal
Mesa-redonda / Debate / Conversa

[Expressionismo. Ingenuismo]

22 jan 1988
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Zona de Congressos
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Expressionismo. Ingenuismo]

jan 1988
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15514

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém projeto de exposição, correspondência recebida e expedida, orçamentos, pedidos de empréstimo, relatório de afluência, folheto, programa de eventos associados, lista para convites e recortes de imprensa. 1987 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25151

Pasta com convite da exposição e cartaz do ciclo onde está referenciada a exposição. 1987 – 1987

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / Dossiê BA/FCG

Coleção de dossiês com recortes de imprensa de eventos realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX, organizados de forma temática e cronológica. 1984 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0290-D00936

9 provas, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1987

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0290-D00937

19 provas, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1987


Exposições Relacionadas

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