Exposição de trabalhos do fotógrafo português Nuno Calvet (1932), realizados entre 1971 e 1982, mostrando imagens do campo alentejano. Aqui, a paisagem é apenas uma metade da fotografia, sendo a outra o olhar do fotógrafo e a forma como este captou as imagens:

«O modo de seleccionar, de separar e de unir campos no campo focal, de fixar, de enquadrar, de ampliar, de transpor para o papel emulsionado, a emoção e, com rigor, esse détachement silencioso, essa rapidíssima lentidão e essa ausência de discursos e essa disponibilidade atenta, esvaziada de reflexividades críticas e de culpabilizações sócio-políticas-cretino-ideológicas.» (Freitas, Além Terra. 60 Fotografias de Nuno Calvet, 1983, s.p.)

O catálogo da exposição tem um texto introdutório de Lima de Freitas, uma biografia do artista, reproduções das fotografias expostas e uma pequena nota em que Nuno Calvet explica que, apesar da aparência irreal de algumas fotografias, nenhuma sofreu «reenquadramentos ou quaisquer outras manipulações técnicas sobre os elementos constituintes da composição da imagem». Tendo o artista fotografado intencionalmente em condições atmosféricas mais particulares, como «céus com coloração alaranjada, ou cinzento-escuro, locais com cortinas de chuva, por vezes intensas, em aproximação, neblinas densas e fortes penumbras» (Além Terra. 60 Fotografias de Nuno Calvet, 1983), procurou-se que as imagens reproduzidas se aproximassem tanto quanto possível dos valores cromáticos das imagens originais.

Na documentação consultada, existe a vontade expressa de apresentar esta exposição em Évora, por iniciativa de Maria Alice Chicó. O período pensado para a exposição seria de 1 a 15 de abril de 1983, embora a exposição tenha, de facto, tido lugar no Palácio de D. Manuel entre 14 e 28 de abril daquele ano.

Num texto constante de uma carta timbrada pertencente ao estúdio do fotógrafo, datado de março de 1982, encontra-se a informação de que uma parte deste conjunto de fotografias realizadas no Alto e no Baixo Alentejo se destinaria a uma exposição organizada pela Comuna de Florença, devendo esta mostrar o trabalho de vários fotógrafos europeus dos últimos dez anos.

A exposição foi divulgada nos jornais O Dia, Jornal do Barreiro, A Tarde, O Diário, O Domingo, Diário de Notícias, Expresso, O País, O Primeiro de Janeiro, Diário de Lisboa e O Diário Popular.

No artigo assinado por Jorge Guimarães no jornal A Tarde, o autor opta por fazer uma descrição poética e extensa da obra do artista, referindo-se à exposição como um espaço que se percorre «com empolgamento», sendo com «uma grande surpresa e com um sentimento de confusão que se percorrem estes sessenta trabalhos fotográficos de Nuno Calvet, onde a sua qualidade artística, em todos os seus componentes, atinge uma expressão de qualidade raramente encontrada» (Guimarães, A Tarde, 11 fev. 1983, p. 11).

Carolina Gouveia Matias, 2017