Exposição de gravuras do artista holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972), inaugurada a 14 de janeiro de 1982 na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian. Esteve patente ao público até 7 de fevereiro desse ano, tendo sido a primeira dedicada a Escher em Portugal.

A exposição mostrou 36 gravuras originais, de grande raridade, que após a exibição em Portugal regressariam de imediato à Holanda, para um moroso trabalho de conservação. A sua posterior itinerância seria assegurada por um conjunto de obras mais reduzido, com reproduções da obra do artista (Carta de Theda van Royen Oliveira para Maria Elisa Domingues, 16 out. 1981, Arquivos Gulbenkian, SEM 00241).

Os trabalhos aqui apresentados reuniam duas tendências da obra de Escher, artista visionário que não se inseriu em nenhum movimento do século XX: por um lado, o jogo das metamorfoses, em que o abstracionismo geométrico se funde com o figurativismo numa repetição mecânica de elementos quase obsessiva; por outro, as paisagens cenográficas de construções geométricas que exploram a ilusão ótica, «numa aproximação tão chegada quanto possível à infinidade», citando um artigo de Nelson di Maggio onde se explica o fenómeno percetivo: «As unidades autónomas são internamente solidárias e cada percepção é organizada numa experiência global. O campo perceptivo transforma-se no campo do espaço vital, numa ilustração soberba da teoria da Gestalt.» (Di Maggio, O Jornal, 5 fev. 1982)

Antes de ser apresentada na Galeria de Exposições Temporárias, a exposição, com produção da Fundação Calouste Gulbenkian, esteve no Porto, na Fundação Engenheiro António de Almeida, entre 12 de dezembro de 1981 e 7 de janeiro de 1982 (inicialmente pensada para terminar no dia 2 de janeiro, foi prolongada para dia 7).

A obra de Escher teria ainda divulgação em território nacional através do filme Aventuras na Percepção, relativo à vida e obra do artista, cedido à RTP pela Embaixada dos Países-Baixos em Portugal. O filme foi transmitido a 9 de janeiro de 1982, às 20h30, pela RTP2.

Não obstante ter sido largamente divulgada pela imprensa, a mostra não terá tido um acolhimento consensual. Refira-se o artigo do Diário Popular, que se destacou pela crítica negativa à obra de Escher: «[…] é tremendamente “chata”, porque, sendo a resultante de uma técnica prodigiosa ao serviço de uma investigação fria, racional e rigorosa, mobiliza a mera curiosidade, mas não mobiliza a emoção profunda do espectador.» («M. C. Escher. Fundação Gulbenkian», Diário Popular, 11 fev. 1982)

Também o artigo de José-Augusto França na Colóquio/Artes começa por desvalorizar a obra de Escher: «Dezenas de reproduções das suas arquitecturas cenográficas ou das suas metamorfoses de corpos correm mundo, trazendo a muita gente um “frisson” intelectual de mistério que, na verdade, se contenta, ao nível da curiosidade, de pouco dispêndio de imaginação.» No entanto, o seu autor acaba por concluir que se trata de uma «exposição de alto nível de curiosidade» e que «muito ela pôde certamente ensinar sobre ilusão óptica, tanto como, se bem lida for, sobre equívocos estéticos. Em ambas as perspectivas a sua utilidade é evidente» (França, Colóquio/Artes, mar. 1982, p. 66).

Carolina Gouveia Matias, 2017