Exposição de escultura, dedicada à obra de João Cutileiro (1937-2021), que se realizou no contexto das II Jornadas da Acta Médica Portuguesa, publicação sobre ciências médicas que, juntamente com a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), foi responsável pela organização da exposição, destacando para o efeito como comissário o médico Alberto Galvão-Teles, editor-chefe da Acta Médica Portuguesa entre 1979 e 1991.

Esta publicação teve o seu início em fevereiro de 1979 e a sua primeira apresentação pública decorreu nos auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1980. Paralelamente, e em complementaridade com esta primeira edição das Jornadas da Acta Médica, foi organizada, na Galeria de Exposições Temporárias da FCG, uma exposição que contou com a participação de cinco pintores e escultores portugueses (Manuel Cargaleiro, Artur Cruzeiro Seixas, Nikias Skapinakis, Júlio Pomar, Marcelino Vespeira).

As II Jornadas da Acta Médica Portuguesa tiveram lugar no final de 1981, e o artista selecionado para ser apresentado na exposição comemorativa da reunião foi João Cutileiro, escultor português e filho de um médico natural de Évora.

Na Zona de Congressos da FCG e no jardim interior, na zona de acesso aos auditórios onde decorreram as Jornadas, foram dispostas, junto ao solo e em plintos, 29 esculturas de Cutileiro, pertencentes a coleções particulares de médicos e cedidas temporariamente para o efeito. A respeito desta última particularidade, o historiador e crítico de arte José-Augusto França destacaria o colecionismo especialmente ativo da classe médica em Portugal e a atenção dada à obra de um «artista de reconhecido talento e com posição assegurada na história contemporânea da arte nacional» (França, Colóquio/Artes, mar. 1982, p. 65).

O título seria indicativo da temática a apresentar: o corpo humano. Não se tratando de uma mostra retrospetiva ou panorâmica, a exposição procuraria estabelecer um diálogo entre várias peças dispersas em coleções particulares nas quais a representação do corpo era o denominador comum, especialmente relevante por se tratar de um programa de extensão integrado num encontro vocacionado para a medicina. Neste sentido, José-Augusto França traçaria também este paralelismo, referindo-se ao artista como sendo um «anatomista por instinto e cirurgião […] à sua maneira» (Ibid.).

Neste contexto, o catálogo da exposição seria também prefaciado por um médico psicanalista, Francisco Alvim, que faria uma leitura da obra de Cutileiro em torno da construção da imagem feminina, com base nos enunciados psicanalíticos (O Corpo na Obra de João Cutileiro, 1981).

Filipa Coimbra, 2017