Exposição organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), dedicada à obra do gravador Rainer Oehms (1948), à época professor assistente de litografia na Universidade de Hamburgo. O artista interessou-se pela situação política de Portugal após a Revolução de 25 de Abril de 1974 e pelo processo de descolonização que se lhe seguiu.

Foram apresentadas 35 litografias na Galeria de Exposições Temporárias da FCG (piso 01), revertendo a venda a favor dos chamados «retornados» angolanos.

Além de dar a conhecer a obra do artista, especialista em litografia tradicional e contemporânea, a exposição adquiriu ainda esta vertente filantrópica, num momento de grande agitação social no país. A intervenção artística de Rainer Oehms coincide com uma intervenção social, com atuação no âmbito dos refugiados políticos. A gravura, enquanto técnica e suporte que se multiplica, concorre igualmente para a ideia de democratização do acesso à arte e valorização de uma expressão artística por vezes menos reconhecida.

Nas palavras da ex-bolseira da FCG, Maria Gabriel, também ela gravadora e que assinaria o prefácio do catálogo da exposição, Rainer Oehms «utiliza e explora a linha e os tons do lápis litográfico, os sprays da tinta, os lavis, os decalques do papel de transporte, desenvolvendo e pesquisando as possibilidades e efeitos dos processos manuais da litografia a preto-e-branco e a cores» (Litografias de Rainer Oehms, 1975).

A variedade de temas tratados nas litografias expostas na FCG deixavam, contudo, perceber o gosto do autor pelo retrato e pelo autorretrato, assim como uma aproximação à estética da fotografia, recurso importante no processo criativo de Rainer Oehms. O pintor Fernando de Azevedo relacionaria ainda as litografias de Oehms com a nova investigação no campo da nova figuração, num cruzamento de elementos surrealistas e expressionistas (Azevedo, Colóquio/Artes, out. 1975, p. 77).

Filipa Coimbra, 2016