Ver com Outros Olhos

Projeto «PARTIS – Práticas Artísticas para a Inclusão Social»

Exposição coletiva de fotografia resultante de um projeto de longa duração destinado a promover o acesso de pessoas com deficiência visual à criação artística. A mostra reuniu obras de 63 pessoas cegas ou com baixa visão, apresentadas no formato visual e com recurso a imagens tácteis e audiodescrição.
This group photographic exhibition is the outcome of a long running project aimed at inclusion of people with visual impairment in the arts. The exhibition featured works by 63 blind or severely visually impaired people and explored different processes of apprehending the work through textured surfaces and audio-description.

«Ver com Outros Olhos» foi uma exposição fotográfica de natureza itinerante que resultou do projeto «Integrar pela Arte – Imagine Conceptuale», promovido pelo MEF – Movimento de Expressão Fotográfica, uma iniciativa apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) no âmbito do Programa Coesão e Integração Social (2018), e dirigida a pessoas cegas ou com baixa visão.

Assente num trabalho de campo que durou três anos, o projeto focou-se no objetivo de proporcionar a membros de uma comunidade com necessidades especiais a experiência de passarem de sujeitos habitualmente excluídos e passivos a sujeitos integrados no circuito artístico. No decurso desse trabalho, os participantes foram incentivados a criar uma relação mais próxima com a arte, para adquirirem as ferramentas necessárias ao desenvolvimento de capacidades de autonomia e autossuperação e para cumprirem o objetivo final de realizarem uma exposição.

O MEF – Movimento de Expressão Fotográfica concebeu para estes alunos um programa de formação, através do qual 63 pessoas de várias idades e com cegueira congénita ou adquirida tomaram conhecimento dos mais relevantes movimentos estéticos da história da arte, ingressando posteriormente num exercício de produção artística.

Numa primeira fase do programa, os participantes inscritos assistiram a aulas de História da Arte. Essas ações incluíam a visita a locais de exposição de obras de arte consideradas relevantes, as quais eram descritas pelos professores ou formadores, pessoas sem deficiência visual, e tocadas pelos alunos. Os formandos eram depois desafiados a descrever as imagens resultantes dessas experiências. Num terceiro momento, mediante tudo aquilo que haviam aprendido no contacto com a arte, foi-lhes pedido que reproduzissem as imagens descritas na fase anterior usando a fotografia como meio. Chegaram assim à fase em que podiam fazer uso desses «outros olhos», afirmando-se como agentes e produtores das suas próprias imagens, como aquelas que viriam a fazer parte da exposição.

Como declara Maria Paula, no filme As sombras mudaram de lugar (2018), «a criatividade é, em si, um processo cego». Antes de se tornar física, a imagem adquire um formato conceptual, que vive independente da necessidade de existir materialmente. Produzido pelo MEF no âmbito do projeto, e apresentado na exposição, o filme documentou as várias fases do trabalho, incluindo o acompanhamento do Movimento de Expressão Fotográfica, cujo papel se estendeu à assistência direta aos artistas na produção das suas obras, orientando-os nas questões técnicas, na escolha dos adereços, na direção da luz, na composição, etc.

Exibido com recurso a audiodescrição, As sombras mudaram de lugar revelava ainda o verdadeiro propósito do projeto: o da integração através da arte. Independentemente da escolha feita, e de se deixarem ou não influenciar pelos movimentos artísticos a que haviam sido expostos durante as lições, o que importava no projeto era que os participantes contassem a sua história, e que se sentissem seguros para se assumirem como criadores de uma obra da sua autoria.

As preocupações com a inclusão, a integração e o enriquecimento pessoal estenderam-se ao planeamento da exposição. «Ver com outros olhos» não se dirigia apenas àqueles que, por maior ou menor incapacidade visual, se confrontam com dificuldades acrescidas no acesso à imagem, mas funcionava antes como um convite a todos. Procurando desmistificar preconceitos sobre aquilo que uma pessoa cega ou com baixa visão é, ou não, capaz de fazer, ou sobre a forma como perceciona uma imagem, a exposição explorou diferentes processos de interpretação das obras apresentadas, apelando a outros sentidos que não a visão, como o tato e a audição, através da aplicação do sistema braille, do uso de materiais texturados e da audiodescrição.

«Ver com outros olhos» reuniu 94 fotografias produzidas individualmente pelos 63 participantes. Deste conjunto, 69 imagens estavam acompanhadas por um painel em relevo e por uma audiodescrição, o que permitiu «ver» as imagens através do tato e da audição, facilitando a experiência de uns e expandindo a experiência de outros.

A apresentação da exposição na FCG decorreu do apoio concedido pela iniciativa PARTIS (Práticas Artísticas para a Inclusão Social) e ocupou a Galeria do Piso Inferior do Edifício Sede, distribuída pelos seguintes núcleos/temas: «Medos e sonhos», «Liberdade», «Beleza», «Cegueira» e «Memória».

As obras fotográficas reunidas abordavam os vários temas da exposição, desenvolvidos a partir da relação de cada um dos artistas participantes com a sua condição de deficiência visual. Assim, se algumas falavam da perda (núcleo «Cegueira e memória»), outras falavam do sonho, de medos antigos (núcleo «Medos e sonhos»), ou da capacidade de resiliência e reinvenção de si próprio perante um mundo visual que, muitas vezes, não se chegou a conhecer (núcleos «Liberdade» e «Beleza»).

A qualidade e a pertinência do projeto no campo das iniciativas sociais justificaram a sua difusão por vários pontos do país. A exposição iniciou itinerância em Viana do Castelo (2017), viajando depois até à FCG, em Lisboa, onde esteve patente entre setembro e novembro de 2018. Finalmente, entre 2019 e 2021, foi apresentada na Casa do Arco do Bispo, em Castelo Branco, e na Casa da Cultura de Sacavém, no município de Loures.

O projeto foi apoiado de raiz por várias instituições, como a Íris Inclusiva – Associação de Cegos e Amblíopes, a APEDV – Associação Promotora de Emprego de Deficientes Visuais e a Câmara Municipal de Viana do Castelo. A apresentação da exposição no Museu Calouste Gulbenkian beneficiou ainda do apoio da Acesso Cultura, associação promotora do acesso físico, social e intelectual à cultura, que participou nas palestras incluídas na programação paralela e fez o acompanhamento de questões técnicas relacionadas com a inauguração.

Os eventos paralelos organizados no âmbito da exposição refletiram a vertente social do projeto e a especificidade do tema. Destaque para o lançamento de Um Olhar sobre o Nada, o catálogo da exposição editado em formato de publicação táctil, e para a iniciativa «Imagens do Sentir», oficinas de fotografia inclusiva desenvolvidas pelo serviço educativo da FCG. Além destes, foram organizadas duas palestras. A primeira, «À conversa… sobre deficiência visual», contou com a participação de Maria Vlachou, da associação Acesso Cultura, e de José Oliveira, especialista em história da arte contemporânea. A segunda palestra, intitulada «À conversa… sobre o projeto “Imagine Conceptuale”», foi apresentada por membros do MEF responsáveis pelo projeto: Luís Rocha (direção artística), Tânia Araújo (coordenação e produção), Tiago Santos (acompanhamento psicoeducacional).

«Ver com outros olhos» foi bem recebida junto do público e da comunicação social. Destaque para os artigos de Mariana Pereira (Diário de Notícias, 8 out. 2018), replicado em francês na revista Courrier International (7 nov. 2018), e de Pedro Paiva e Vera Moutinho, «Eles não veem. Mas fotografaram» (Público, 11 out. 2018). São ainda de notar os destaques nas revistas Time Out (8, 10, 17 out. 2018), Evasões (21 set. 2018) e Visão (27 set. 2017), assim como na edição Weekend do Jornal de Negócios (21 set. 2018), e as referências no regional Aurora do Lima (20 set. 2018) ou no blogue Incluso (11 out. 2018).

Madalena Dornellas Galvão, 2022


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

À Conversa… Sobre Deficiência Visual

20 out 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Conferência / Palestra

À Conversa… Sobre o Projeto «Imagine Conceptuale»

27 out 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Lançamento editorial

Um Olhar sobre o Nada

27 out 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Imagens do sentir

6 out 2018 – 27 out 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Anabela Gonçalves Moura Salgueiro (ao centro); Luís Plácido dos Santos (à dir.)
Luís Roque Jerónimo (à esq.); Pedro Norton (à dir.)
Hugo Luís Martinez de Seabra (à esq.); Ana Sofia Antunes (à dir.)
Hugo Luís Martinez de Seabra (centro à esq.); Ana Sofia Antunes (centro à dir.)
Luís Rocha (à esq.); Hugo Luís Martinez de Seabra (centro à esq.); Ana Sofia Antunes (centro à dir.); Luís Roque Jerónimo (ao fundo) e Pedro Norton (à dir.)
Hugo Luís Martinez de Seabra (à esq.); Ana Sofia Antunes (à dir.)
Ana Sofia Antunes
Eduardo Lourenço
Luís Roque Jerónimo (à esq.), Eduardo Lourenço (ao centro) e Pedro Norton (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 04822

Pasta com documentação referente à programação das atividades da FCG para os anos de 2017 a 2019. Contém correspondência interna e externa. 2016 – 2017

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa

Conjunto de documentos referentes à exposição. Contém materiais gráficos, brochura, pressbook, entre outros. 2018

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 85826

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 2018

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 84499

Coleção fotográfica, cor: montagem (FCG, Lisboa) 2018


Exposições Relacionadas

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2022 / Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa

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