A exposição «Pose e Variações. Escultura em Paris no Tempo de Rodin» foi inaugurada no dia 25 de outubro de 2018 na Galeria Principal do Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), também designada Galeria de Exposições Temporárias (piso 0), e ficou patente ao público de 26 de outubro a 4 de fevereiro de 2019. O projeto resultou de uma parceria entre o Museu Calouste Gulbenkian (MCG) e a Glyptoteket (ou Ny Carlsberg Glyptotek), em Copenhaga, com curadoria de Luísa Sampaio, conservadora das coleções de Pintura e Escultura Europeias do MCG, e de Rune Frederiksen, curador na instituição dinamarquesa.

Três semanas depois da data de encerramento em Lisboa, a mostra foi inaugurada na galeria de Copenhaga com o título «Perfect Poses?», e permaneceu aberta ao público de 1 de março a 16 de junho. A inauguração da exposição na Dinamarca contou com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em visita oficial ao país naquela data («MNE Santos Silva visita Noruega e Dinamarca na próxima semana», Diário de Notícias, 22 fev. 2019). O conceito original da exposição tinha sido previamente elaborado por Penelope Curtis, diretora do MCG de 2015 a 2020, e por Flemming Friburg, então diretor da Glyptoteket.

A parceria entre as duas instituições justificava-se pelas semelhanças de algumas das peças dos acervos de escultura e pelas afinidades nos processos de formação e génese das coleções, uma vez que tanto o MCG como a Glyptoteket reúnem coleções de arte criadas por prestigiados homens de negócios, colecionadores e filantropos, em atividade entre o último quartel do século XIX e meados do século XX: Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955) e Carl Jacobsen (1842-1914).

De entre a diversidade de peças de ambos os acervos, a exposição apresentou um conjunto de 30 esculturas, datadas maioritariamente da segunda metade do século XIX, que permitia compreender a prática artística desenvolvida em França nas últimas décadas de Oitocentos e nos inícios do século XX e, simultaneamente, ilustrar a forma como os escultores desse período reinventaram o vocabulário estilístico figurativo, numa particular representação do próprio «ciclo da vida humana, da infância à maturidade, [abrangendo] os géneros masculino e feminino, os temas da maternidade e da fraternidade, as figuras individuais e de grupo» (Pose. Escultura Reinventada em Paris no Século XIX, 2018, pp. 47-48).

Através da análise das duas coleções foi possível destrinçar identidades formais e estilísticas e construir uma relação dialogante entre muitas das suas peças, tanto em relação aos artistas representados como aos motivos (ou poses) por eles trabalhados. Os laços interpretativos entre as obras de cada um dos núcleos expositivos, criados pelo projeto curatorial, permitiram também identificar as alterações de escala e de matéria operadas em torno de um mesmo modelo, evidenciando a importância da plasticidade na escultura figurativa.

Neste contexto, criaram-se, ao longo do circuito expositivo, pequenos núcleos em que as obras selecionadas se apresentavam como imagens de variações (e continuidades) em redor de um limitado leque de temas explorados pela escultura francesa de finais do século XIX, nomeadamente por Auguste Rodin (1840-1917), artista mencionado no título da exposição como forma de balizar temporalmente a cronologia das peças selecionadas.

A mostra incluía obras em gesso patinado, terracota, mármore e bronze de Jean-Baptiste Pigalle (1714-1785), Jean-Antoine Houdon (1741-1828) – com obras do MCG (Inv. 249 e Inv. 552) ilustrativas dos antecedentes clássicos da escultura oitocentista –, Jean-Baptiste Carpeaux (1827-1875), Paul Dubois (1829-1905), Edgar Degas (1834-1917), Aimé-Jules Dalou (1838-1902), Auguste Rodin (1840-1917), Denys Pierre Puech (1854-1942), François-Raoul Larche (1860-1912), Aristide Maillol (1861-1944) e Joseph Bernard (1866-1931), um alargado grupo de artistas cujo trabalho se desenvolve em torno da plasticidade do corpo humano na representação da sua espacialidade tridimensional.

«Até uma fase tardia do século XX, os escultores tinham essencialmente um tema possível: a figura humana. Não obstante esta limitação, e apesar da inevitável repetição, os escultores fizeram da reprise uma virtude. Citaram sem pejo e, nestas citações, introduziram ligeiras alterações de ênfase suscetíveis de tornarem a sua versão tão ou mais memorável que o original. É este jogo de temas e variações que encontramos aqui, em alguns casos com variantes brilhantemente reformuladas, de modo a evocarem uma nova atmosfera ou situação», escreveu Penelope Curtis no texto para o catálogo da exposição, reforçando a ideia original do projeto (Pose e Variações. Escultura em Paris no Tempo de Rodin, 2018, p. 47).

O plano museográfico, da autoria de Mariano Piçarra, dispunha as 30 esculturas no amplo espaço da galeria de exposições, distribuídas por um percurso dividido em cinco núcleos – «A ausência de pose», «A figura acocorada», «Maternidade», «Figuras entrelaçadas» e «A figura de pé» –, os quais, ainda que identificados por um texto introdutório, surgiam de forma a permitir uma interligação entre as diversas obras expostas. A este propósito, Manuela Synek, na plataforma digital Umbigo, escreveu: «A criação de uma penumbra que envolve as peças, uma atmosfera acolhedora e silenciosa, como se fossem jóias e pedras preciosas, onde o foco de luz está intensamente dirigido a elas, convidando o olhar do visitante a mergulhar numa perfeição sublime, quase eterna e intemporal. Os corpos falam e dançam connosco e os olhares comunicam-se entre si numa espécie de cumplicidade, sobretudo nos grupos onde uma dança os envolve, num ballet estonteante.» (Synek, Umbigo, 4 jan. 2019)

A programação associada incluiu uma série de visitas – orientadas pelos curadores Luísa Sampaio e Rune Frederiksen, pelos artistas Julião Sarmento e Rui Sanches, por Penelope Curtis, pela curadora e investigadora Amélie Simier e pelo historiador de arte Arie Hartog –, uma conferência da professora Lúcia Almeida Matos, intitulada «Rodin era o ídolo da juventude escolar», realizada no dia 5 de dezembro de 2018, e a apresentação de Formas de Dizer, uma performance apresentada pelos alunos da licenciatura em Dança da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Também a Biblioteca de Arte introduziu na sua programação mensal a realização de uma mostra bibliográfica relacionada com a exposição.

Nos meios de comunicação social houve uma profusão de notícias sobre o projeto curatorial e sobre as diversas iniciativas da programação associada. Entre os muitos artigos em periódicos (imprensa e digital), tendo sido identificadas mais de 70 referências no dossiê de imprensa da exposição (Arquivos Gulbenkian, 2018, ID: 412675), destacam-se os trabalhos assinados por José Cabrita Saraiva, «A disciplina académica e a desobediência de Rodin (Sol, 30 out. 2018), por Maria João Fernandes, «Rodin na Gulbenkian. A paixão da escultura» (JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 2 jan. 2019), e por Marina Almeida, «Parto de pedra» (Diário de Notícias, 4 nov. 2018). Além destes, referência ainda para as críticas assinadas por Manuela Synek, «Pose e variações. No tempo de Rodin e seus contemporâneos» (Umbigo, 4 jan. 2019), e por José Luís Porfírio, «Levanta-te e caminha» (Expresso, 29 dez. 2018).

A mostra teve igualmente uma ampla cobertura televisiva e radiofónica: foi noticiada nos canais generalistas e em diversas estações de rádio, como a TSF, a Renascença ou a Antena 1, em notícias e reportagens incluídas na programação diária e com presença em programas temáticos, entre os quais se destaca o magazine cultural da RTP3 As Horas Extraordinárias (5 nov. 2018), com uma entrevista à curadora Luísa Sampaio no espaço da exposição.

Isabel Falcão, 2022