As Flores do Imperador. Do Bolbo ao Tapete

Ciclo «Conversas»

Integrada no ciclo «Conversas» da programação do Museu Calouste Gulbenkian, a exposição promoveu o diálogo interdisciplinar entre a arte, a biologia e a geografia em torno dos motivos decorativos dos tapetes oitocentistas de produção têxtil mogol pertencentes ao acervo do Museu Calouste Gulbenkian.
Part of the Calouste Gulbenkian Museum “Conversations” cycle, the exhibition fostered interdisciplinary dialogue between art, biology and geography, inspired by decorative motifs from the nineteenth century Moghul rugs belonging to the Calouste Gulbenkian Museum archives.

A exposição «As Flores do Imperador. Do Bolbo ao Tapete», inaugurada no dia 8 de fevereiro de 2018 e organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian (MCG) na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em Lisboa, esteve patente entre 9 de fevereiro e 21 de maio de 2018 na Galeria do Piso Inferior do MCG (anteriormente designada Galeria de Exposições Temporárias do MCG). A mostra foi integrada no ciclo «Conversas», criado por Penelope Curtis (diretora do MCG entre setembro de 2015 e agosto de 2020), para promover a criação de novos olhares sobre as peças da Coleção, em diálogo com outras perspetivas e áreas do saber. Neste caso particular, promovia-se o diálogo interdisciplinar entre a arte, a biologia e a geografia, construído em redor dos motivos decorativos – flores, plantas, pássaros e animais – utilizados na produção têxtil mogol do século XVII.

Com curadoria de Clara Serra, curadora do Museu Calouste Gulbenkian, e de Teresa Nobre de Carvalho, engenheira agrónoma com doutoramento em História e Filosofia das Ciências e investigadora integrada do Centro de Humanidades (CHAM) – FCSH/NOVA, a mostra pretendia revelar os diálogos estabelecidos entre o Oriente e o Ocidente ao longo do século XVII e a circulação, à escala global, de pessoas, livros, imagens e espécimes botânicos com base na análise dos motivos decorativos de dois tapetes pertencentes ao Museu Calouste Gulbenkian – Coleção do Fundador (Inv. T61 e Inv. T68), produzidos na Índia mogol durante o reinado do xá Jahan (de 1628 a 1658). A coleção de tapetes do MCG, adquirida por Calouste Sarkis Gulbenkian maioritariamente entre 1907 e 1939, é constituída por 85 exemplares oriundos sobretudo da Pérsia, da Índia e do Cáucaso. Entre eles, estão seis tapetes indianos da época mogol de extrema qualidade técnica e artística.

Estes tapetes com motivos vegetalistas são um precioso repositório de informação sobre as diferentes espécies botânicas, comparável a uma página de um álbum científico ilustrado, além de constituírem um exemplo paradigmático da troca de saberes entre culturas ocidentais e orientais. Alguns dos álbuns científicos de botânica, ricamente ilustrados por artistas ocidentais, e que incluem muitas das espécies exóticas trazidas do Oriente a par da diversidade de plantas autóctones, «terão chegado à longínqua corte mogol levados por embaixadores, missionários [maioritariamente, religiosos da Companhia de Jesus] e mercadores europeus, onde muitas das flores neles representadas eram, desde há muito, conhecidas e admiradas. Estudos recentes sugerem que as representações de plantas inseridas nestes volumes terão inspirado desenhos realizados por alguns artistas locais, criando assim, no Oriente, elementos de uma nova gramática decorativa, de que estes tapetes são um flagrante exemplo» (Comunicado de imprensa, 30 jan. 2018, Arquivos Gulbenkian, ID: 47033).

Como a cocuradora da mostra, Teresa Nobre de Carvalho, assinala no texto do caderno de exposição: «A intensa troca de propágulos vegetativos que então se verificou entre botânicos, médicos, jardineiros e curiosos permitiu a difusão das mais delicadas plantas e flores. […] Aos jardins dos mais abastados acorriam visitantes para admirarem as coleções de flores orientais, árvores exóticas ou outras plantas raras. […] Nestes hortos, numerosos jacintos, narcisos, túlipas, crócus, muscaris, fritilárias e coroas imperiais enchiam de cor e aroma os vasos e os canteiros floridos. […] Para registar, tornar visível e perpetuar a beleza das flores, os proprietários destas coleções vivas contrataram os mais renomados artistas. Para além de conservarem a memória do jardim, os seus detalhados desenhos permitiam divulgar, entre eruditos e curiosos, o exotismo e o aparato dos exemplares que compunham os seus hortos.» (As Flores do Imperador. Do Bolbo ao Tapete, 2018, p. 14)

A exposição contribuiu ainda para compreender o fascínio que os bolbos e as flores exóticas suscitaram no Ocidente ao longo do século XVII – intensificando o interesse manifestado desde épocas tão recuadas como a Antiguidade Clássica –, além de permitir cotejar, por semelhança e/ou contraste, os elementos decorativos empregados na fabricação têxtil, em peças que ostentavam «na sua decoração jardins paradisíacos de flores que não murcham» (Saraiva, Sol, 10 fev. 2018, p. 40).

«As Flores do Imperador. Do Bolbo ao Tapete» reuniu um conjunto de 30 peças, criadas nos mais diversos materiais: entre objetos em madeira, marfim, prata e cerâmica, gravura e têmpera sobre papel, óleo sobre tela ou madeira e um panejamento em seda. Nove destas peças pertenciam ao acervo do MCG, as restantes provinham de coleções particulares e de instituições públicas e privadas, como a Biblioteca da Ajuda, a Biblioteca do Instituto Superior de Agronomia, a Biblioteca Nacional de Portugal, a Biblioteca Pública Municipal do Porto, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, o Museu Nogueira da Silva, a Bibliothèque Nationale de France, o Musée des Arts Décoratifs, ambos em Paris, a Galleria degli Uffizi, em Florença, e a Leiden University Libraries – Bodel Nijenhuis Collection.

Num projeto museográfico assinado por Mariano Piçarra, designer de exposições do MCG, o percurso expositivo, que tinha início numa «vitrina com bolbos de tulipas, narcisos ou fritilárias» (Marques, Diário de Notícias, 9 fev. 2018, p. 34), estava dividido em quatro núcleos: «Flores das Índias, da Europa e do Levante», «Flores para descrever e admirar», «Circulação de imagens entre a Europa e o Império Mogol», «As flores para o imperador». Os objetos estavam dispostos em diálogo entre painéis verticais e horizontais, vitrinas e caixas de luz, numa atmosfera de cores fortes, em que o tom dominante, o verde (remetendo para o imaginário da botânica e da natureza), presente em painéis de texto, vitrinas e bases expositivas de tapetes, era pontualmente substituído pelo laranja, em painéis que apresentavam o conjunto de pinturas e gravuras que completavam a seleção de peças em exposição.

Na programação associada, o projeto integrou a realização de três conferências relacionadas com o tema da exposição, no Auditório 3 da FCG. A primeira, no dia 4 de abril, foi assegurada por Ebba Koch, historiadora de arte e professora na Universidade de Viena, e intitulava-se «Os jardins do xá Jahan. Decoração floral na arquitetura mogol»; a segunda, no dia 18 de abril, foi da responsabilidade do historiador de arte Daniel Walker e intitulou-se «Os tapetes da Índia mogol»; a terceira, realizada a 9 de maio de 2018 e intitulada «As histórias que as plantas tecem», foi conduzida por António Carmo Gouveia, biólogo e diretor do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra entre 2015 e 2019. Além das conferências, as curadoras organizaram diversas visitas guiadas à exposição. O biólogo Luís Mendonça de Carvalho organizou também uma visita, no dia 3 de março, intitulada «Metamorfose das flores», e o geógrafo Manuel Miranda Fernandes, no dia 5 de maio, orientou a visita «Flores peregrinas entre Oriente e Ocidente».

A Biblioteca de Arte da FCG, associando a sua programação com a do Museu Calouste Gulbenkian, promoveu uma mostra bibliográfica relacionada com a temática expositiva no Átrio da Biblioteca de Arte – também zona de acesso à exposição.

No relatório final da exposição ficou registado um total de visitantes que rondou as 22 800 pessoas, sendo mais de metade deste universo constituído por público estrangeiro.

A exposição e a programação associada tiveram uma ampla divulgação nos meios de comunicação social. De entre os diversos artigos em periódicos (imprensa e digital), e tendo sido identificadas mais de 50 referências no dossiê de imprensa da exposição (Dossiê de imprensa, 2018, Arquivos Gulbenkian, ID: 98448), destacam-se os artigos de José Cabrita Saraiva «Flores do imperador. O jardim encantado de Calouste Gulbenkian», no Jornal i (13 fev. 2018), e «Flores que não murcham», no semanário Sol (10 fev. 2018), o de Marina Marques, no Diário de Notícias (9 fev. 2018), o de Andrea Aznar Lorda, «As flores do imperador», na revista Spend In Magazine (24 abr. 2018), e a notícia intitulada «Exposição na Gulbenkian propõe viagem do Ocidente ao Oriente», publicada em O Emigrante. Mundo Português (9 mar. 2018), jornal dirigido à comunidade portuguesa no estrangeiro. A mostra foi igualmente noticiada em canais televisivos, como a SIC Notícias, a SIC Mulher e a RTP3 (no magazine cultural As Horas Extraordinárias, no dia 15 de fevereiro de 2018), bem como em estações de rádio, como a Renascença e a Antena 1.

A exposição foi distinguida com o Prémio da Associação Portuguesa de Museologia (APOM) para melhor exposição temporária de 2018, em cerimónia realizada no dia 25 de maio de 2018, no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.

Isabel Falcão, 2022


Ficha Técnica


Coleção Gulbenkian

Desconhecido

c.1575 / Inv. 777

Desconhecido

Inv. M32

Desconhecido

Século XVII / Inv. M31

Desconhecido

Século XVII / Inv. M52

Desconhecido

Século XVII / Inv. M53

A Virgem e o Menino

Desconhecido

A Virgem e o Menino, 1485-90 / Inv. 76

Panejamento de veludo

Desconhecido

Panejamento de veludo, Inv. 1422

Tapete com ciprestes

Desconhecido

Tapete com ciprestes, Séc. XVII / Inv. T68

Tapete floral

Desconhecido

Tapete floral, Inv. T61


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

À Conversa com as curadoras e convidados…

17 fev 2018 – 18 abr 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Metamorfose das Flores

3 mar 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Flores Peregrinas entre Oriente e Ocidente

5 mai 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal
Conferência / Palestra

A Decoração Floral na Arte Mogol

21 mar 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Zona de Congressos
Lisboa, Portugal
Conferência / Palestra

Os Jardins do Xá Jahan. Decoração Floral na Arquitetura Mogol

4 abr 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Conferência / Palestra

Os Tapetes da India Mogol

18 abr 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Conferência / Palestra

As Histórias que as Plantas Tecem

9 mai 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Zona de Congressos
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Maria Clara Monteiro (ao centro)
Teresa Nobre de Carvalho (ao centro)
Teresa Nobre de Carvalho (ao centro)
Teresa Nobre de Carvalho (ao centro)
Rita Fabiana (à esq.) e Teresa Gouveia (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / MCG 04747

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém texto de apresentação da exposição. 2016

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa

Conjunto de documentos referentes à exposição. Contém comunicados de imprensa, lista de obras, materiais gráficos, pressbook e caderno de exposição. 2018

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 04822

Pasta com documentação referente à programação das atividades da FCG para os anos de 2017 a 2019. Contém correspondência interna e externa. 2016 – 2017

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 50162

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2018

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 47865

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2018

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 47444

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 2018

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 47425

Coleção fotográfica, cor: montagem (FCG, Lisboa) 2018


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