BoCA – Biennial of Contemporary Arts / Bienal de Arte Contemporânea
Projeto do pianista italiano Marino Formenti (1965), inserido na primeira edição da Bienal de Arte Contemporânea (BoCA) e organizado numa parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian. A performance integrou um projeto do artista Ricardo Jacinto (1975), que criou para o efeito uma casa em cortiça, destinada a alojar o pianista no Jardim Calouste Gulbenkian.
No dia 9 de abril de 2017 inaugurava no Anfiteatro ao Ar Livre do Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian a performance/concerto Nowhere, projeto itinerante do pianista italiano Marino Formenti (1965). Em Portugal, teve a colaboração do músico e artista plástico Ricardo Jacinto (1975), que criou para o efeito uma residência temporária em cortiça, onde o pianista habitou ao longo dos vinte dias em que decorreu a apresentação pública da iniciativa, de 9 a 29 de abril, aí pernoitando e preenchendo as horas do dia a tocar um extenso e diversificado repertório musical, que incluiu desde peças barrocas de Jean-Henri d’Anglebert a obras contemporâneas de John Cage, passando por compositores como Gaspard le Roux, J.S. Bach, Erik Satie, Morton Feldman, Brian Eno ou Bjork. A realização em Lisboa resultou de uma parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e a Bienal de Arte Contemporânea (BoCA), com o apoio institucional da Embaixada da Áustria em Portugal, e integrou a programação da primeira edição da BoCA, em 2017.
O principal objetivo era o de explorar a comunicação entre pessoas, e destas com a música e com o espaço, como se se tratasse de um concerto sem término. Em Lisboa, a casa que albergava Formenti foi construída com recurso a 300 blocos de aglomerado de cortiça expandida (um apoio mecenático da Corticeira Amorim), material que, nas palavras de Ricardo Jacinto, pelas suas «propriedades acústicas e térmicas […], associadas a um sistema construtivo que privilegiava a rapidez de montagem e facilidade de transformação do material em obra, foram determinantes para a sua escolha» («Casa de cortiça na Gulbenkian», Magazine Imobiliário, 11 abr. 2017). Ao instalar-se esta casa de cortiça no palco do Anfiteatro – um equipamento integrado no circuito habitual de visita do Jardim –, cumpria-se uma outra intenção fundamental do projeto de Formenti: o de trazer o virtuosismo da interpretação pianística para a vivência quotidiana do espaço público. De facto, na imprensa, a iniciativa era noticiada como um evento em que «os visitantes podem ficar a escutá-lo horas seguidas ou simplesmente de passagem. Formenti fica à mercê dos olhares e ouvidos alheios nesta instalação-performance que descreve como “uma espécie de capela pagã onde a vida e a música podem tornar-se uma só”» («Gulbenkian Habitada», Público, 8 abr. 2017, p. 26).
Entre as 10 e as 20 horas (ou as 22 horas, ao sábado), o público entrava e saía livremente do espaço, sentava-se nos colchões espalhados pelo chão da sala, ou repetia a visita as vezes que desejasse, para ouvir a música que ininterruptamente Marino Formenti executava. Este fenómeno performativo também podia ser acompanhado em livestreaming, com a cadência e frequência desejada por cada um dos espectadores.
Este projeto de Marino Formenti foi criado em 2010 e apresentado pela primeira vez no festival internacional de arte contemporânea «steirischer herbst», realizado na cidade austríaca de Graz, que marcou o início de um programa de itinerância internacional por cidades como Berlim (2012), Bolonha (2012), Bruxelas (2015), Oslo (2016) e Montpellier (2016), nos anos anteriores ao da apresentação em Lisboa, e Buenos Aires (2017), Milão (2018) ou Nova Iorque (2019), nos anos imediatamente subsequentes.