Integrada nas comemorações do cinquentenário da Delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), esta exposição constituiu uma homenagem a Julião Sarmento (1948-2021), artista português internacionalmente reconhecido.

A par de outras mostras organizadas pela FCG, em especial a de «Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)» e «Les Universalistes. 50 Ans d’Architecture Portugaise», esta exposição inseria-se numa iniciativa cultural denominada «Printemps Culturel Portugais» e promovida nos meses de janeiro a julho de 2016 por várias instituições em Paris que visaram divulgar a arte contemporânea portuguesa.

Nas palavras de Artur Santos Silva, presidente da FCG: «Cette exposition est également pour la Fondation une manière de rendre hommage à un artiste qui, au cours de 40 années, a su maintenir une remarquable unité artistique et dont la reconnaissance internationale est un motif de fierté et représente une référence pour de nombreux jeunes artistes.» (La Chose, Même/The Real Thing, 2016, p. 5)

A exposição intitulava-se «La Chose, Même/The Real Thing», título francês e inglês, ilustrativo da dimensão internacional do artista. Ela torna-se ainda mais evidente observando a origem dos emprestadores das obras – americanos, italianos, alemães, espanhóis, entre outros. Nenhuma das obras expostas pertence à Coleção Gulbenkian.

Comissariada pelo francês Ami Barak, esta antológica reunia 25 obras, selecionadas de um percurso de produção de quatro décadas, mais precisamente entre 1973 e 2013. A escolha das obras incidiu em disciplinas artísticas tão diversas como a fotografia, o desenho, a escultura, o vídeo, a performance e a literatura, incluindo a utilização do texto incorporado na dimensão plástica ou usado de forma fragmentada.

Ami Barak referiu ainda a existência de um elemento transversal a toda a obra de Julião Sarmento: «L’exposition met en scène différentes œuvres, crées à des moments différents, mais qui ont toutes ce dénominateur commun: l’intérêt pour l’artiste de saisir, ne fusse que de manière parcellaire, fragmentée, trouble, fugace ou allusive, en somme iconique, l’objet du désir.» (Ibid., p. 34)

O trabalho de Julião Sarmento «é marcado pela presença icónica das mulheres como “musas subtis” e como “tema enigmático recorrente”, resultando numa obra sugestiva que questiona a representação, em particular na sua relação com o desejo e os seus mecanismos» (Newsletter. Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 172, jan. 2016, p. 28).

Esta presença simbólica revela-se de forma bem evidente na instalação apresentada no Jardim da delegação da FCG em França: uma escultura com o corpo de uma mulher, «inspirada na arte clássica, mas recorrendo a técnicas inovadoras no campo digital» (Ibid.). A instalação intitulava-se Marie e resultou de uma parceria do artista com o criador e estilista Felipe Oliveira Baptista, reconhecido por criar peças que evidenciavam a sensualidade feminina e que criou as peças de roupa para o modelo feminino realizado por Julião Sarmento.

A escultura, colocada num pedestal quase impercetível, foi apresentada ao público no dia 31 de março de 2016.Existem diversas fotografias que documentam o visionamento de um vídeo/filme.

A exposição, que contou com visitas guiadas por marcação durante o período em que esteve patente ao público, mereceu a atenção da comunicação social nacional, tendo-se realizado uma visita orientada para jornalistas, que decorreu no dia 19 de janeiro de 2016.

Ana Lúcia Luz, 2020