Exposição individual da artista belga Ana Torfs (1963), organizada pelo Centro de Arte Moderna em colaboração com o WIELS Contemporary Art Centre, em Bruxelas. Com curadoria de Caroline Dumalin, a mostra integrou quatro instalações que abordavam o «mundo das palavras».
Solo exhibition of work by Belgian artist Ana Torfs (1963) organised by the Modern Art Centre in collaboration with the Wiels Contemporary Art Centre, Brussels. Curated by Caroline Dumalin, the show featured four installation works which address the “world of words”.
Exposição individual da artista belga Ana Torfs (1963), organizada pelo Centro de Arte Moderna (CAM) em colaboração com o WIELS Contemporary Art Centre, em Bruxelas. Com curadoria de Caroline Dumalin, curadora e coordenadora do Artists-in-Residency Programme no WIELS, a mostra integrou quatro instalações que abordavam o «mundo das palavras».
A palavra «Echolalia», que deu título à exposição, remete para a repetição de palavras de uma criança quando aprende a falar, mas também para uma condição médica que faz alguém repetir palavras e frases compulsivamente.
A mostra abordou, «analítica e metaforicamente, questões fundamentais da representação e das suas estruturas narrativas» apresentadas em vários suportes, desde som, vídeo, fotografia e projeções de diapositivos, a serigrafia e tapeçaria («Ana Torfs apresenta primeira individual em Portugal», RTP Notícias, 23 fev. 2016).
Através dos textos e imagens que acompanhavam as quatro instalações expostas no CAM exploravam-se diferentes temáticas, métodos, disciplinas e personalidades das ciências naturais. «Vêem-se mapas, plantas, retratos de cientistas e exploradores, tapetes que remetem para cartografias inéditas, classificações de seres vivos», descrevia José Marmeleira na crítica sobre a exposição publicada no Público, acrescentando que, para a artista, o que lhe interessava era «indagar, por meio do seu pensamento e fabricação, as palavras, a linguagem (da ciência como cultura). A sua repetição, tradução, enfim, os seus ecos» (Marmeleira, Público, 18 mar. 2016).
A primeira instalação, O Papagaio e o Rouxinol Fantasmagoria (2014), apresentava, em vídeo, o fascínio da artista pelo diário da primeira viagem à América de Cristóvão Colombo (1492-1493). Neste trabalho, algumas passagens selecionadas do diário eram transmitidas por uma intérprete de língua gestual americana, «ao mesmo tempo que três intérpretes anglófonos […] reinterpretavam os gestos filmados em inglês oral». Com este trabalho, a artista pretendeu representar «a confusão babélica de línguas que surgiu naquele primeiro encontro com o Novo Mundo» (Ana Torfs. Echolalia, 2016, p. 3). Paralelamente, eram projetadas imagens a preto-e-branco de uma floresta tropical, vista como «metáfora do texto narrativo em geral» (Ibid.).
A segunda instalação, TXT (Máquina de Palavras Errantes) (2013), estabeleceu, apesar da aparente aleatoriedade, outras relações entre a palavra «texto», evocada em «TXT», e uma «máquina de palavras errantes», inspirada na máquina de línguas e palavras descoberta num dos episódios da obra As Viagens de Gulliver (1726), de Jonathan Swift (1667-1745) (Ana Torfs. Echolalia, 2016, p. 6).
Sobre esta obra, José Marmeleira escreveu: «O que parece querer dizer Ana Torfs com estas composições? Que as línguas se formam de modo aleatório, embora maquinal e determinado? Ou que resultam dos efeitos imprevistos e imprevisíveis das relações entre as culturas e os povos? A discreta menção às palavras que deram origem ao trabalho (açúcar, açafrão, chocolate, gengibre, café e tabaco) permite que se aponte para a segunda hipótese.» (Marmeleira, Público, 18 mar. 2016)
A terceira instalação, Intriga de Família (2009-2010), feita com molduras de diferentes dimensões, apresentava retratos de homens da ciência, mapas, flores e frutos, criando uma intriga discutida em balões de diálogo entre estes retratos e as outras imagens, que «torna presente o lastro do imperialismo ocidental e toda a violência que se esconde sobre as suas palavras» (Ibid.).
A quarta e última instalação, Mancha (2012), exibia, em quatro mesas brancas, molduras dedicadas a corantes: «vermelho Congo», «violeta Paris», «rosa Bengala» e «pardo Bismark». Através da legendagem das imagens, oferecida ao visitante a partir da gravação de uma voz feminina, este trabalho refletia sobre o significado ambíguo do seu próprio título ao transmitir, simultaneamente, a ideia de «mancha» de sujidade (nódoa) ou de uma «mancha» na reputação de alguém (Ana Torfs. Echolalia, 2016, p. 12).
Antes da realização da exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, a artista contava já com inúmeras participações em exposições coletivas, incluindo «Parasophia», em Quioto, no Japão, em 2015, ou na 11.ª Bienal de Sharjah, em 2013, nos Emirados Árabes Unidos. Individualmente, Torfs já tinha exposto na Generali Foundation, em Viena (Áustria), em 2010, ou no Sprengel Museum, em Hanôver (Alemanha), em 2008.
Antes de ser apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição, que resultou de um trabalho de cerca de sete anos, esteve patente nas instalações do Contemporary Art Centre de Bruxelas, entre setembro e dezembro de 2014, contando com a curadoria de Dirk Snauwaert, diretor artístico do WIELS e com a cocuradoria de Caroline Dumalin. A exposição no CAM foi acompanhada pela publicação de um caderno de exposição, editado em português e inglês, com textos da autoria da curadora responsável, Caroline Dumalin.
O WIELS Contemporary Art Centre publicou um catálogo em associação com a Koenig Books, em inglês, editado pela artista, que acompanhou a exposição durante o tempo em que esteve patente em Bruxelas, de 12 de setembro a 14 de dezembro de 2014.
Como afirmou Dirk Snauwaert no prefácio a esta publicação, a exposição «testifies to the shifts and changes in Torfs's work in recent years» e deixou claro que a artista «has never allowed herself to be restricted in her work by the patterns or the narrative nature of the image or representation; instead, she has always sought out the discontinuities and limits in the scope of knowing» (Ana Torfs. Echolalia, 2014, p. 163).
No âmbito desta iniciativa, Emiliano Battista, um investigador, tradutor e editor independente, que também contribuiu com textos para a publicação Echolalia (uma obra feita com desenhos de Jurgen Persijn), abordou as obras em exposição a partir da perspetiva do livro numa conferência realizada no local da exposição, no dia 12 de março de 2016.