D. Manuel II e os Livros de Camões

Exposição do espólio camoniano da Biblioteca de D. Manuel II conservado pela Fundação da Casa de Bragança. Comissariada por José Augusto Cardoso Bernardes e Raquel Henriques da Silva, a mostra resultou de uma estreita colaboração entre a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação da Casa de Bragança.
Exhibition of the Camões collection of the D. Manuel II Library preserved by the Casa de Bragança Foundation. Curated by José Augusto Cardoso Bernardes and Raquel Henriques da Silva, the show resulted from a close collaboration between the Calouste Gulbenkian Foundation and the Casa de Bragança Foundation.

Exposição do espólio camoniano da Biblioteca de D. Manuel II conservado pela Fundação da Casa de Bragança. Comissariada por José Augusto Cardoso Bernardes e Raquel Henriques da Silva, foi o culminar de um projeto de catalogação e estudo do referido espólio, motivado pelo seu alargamento nos anos anteriores. As novas aquisições, como explica Marcelo Rebelo de Sousa, então presidente do Conselho Administrativo da Fundação da Casa de Bragança, haviam preenchido lacunas seiscentistas e setecentistas, e aberto novas pistas para os séculos XIX e XX (D. Manuel II e os livros de Camões, 2015, p. 10).

A vontade de apresentar em Lisboa esse espólio, que há muito não saía do Paço Ducal de Vila Viçosa, foi apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), que colaborou na concretização da exposição. A coordenação desta mostra ficou a cargo de Ana Paula Gordo, diretora da Biblioteca de Arte da FCG, e de Maria de Jesus Monge, diretora do Museu-Biblioteca de Vila Viçosa.

A Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01) foi transformada numa espécie de gabinete de curiosidades, ou câmara de maravilhas para bibliófilos, para o que contribuiu a paleta cromática usada e a iluminação. O projeto museográfico, concebido por Mariano Piçarra, e as suas opções e soluções encontradas foram explanadas pelo próprio num texto incluído no catálogo da exposição.

A exposição dividiu-se em três núcleos temáticos de natureza distinta: um documental, outro bibliográfico e um outro iconográfico. Cada um destes núcleos, em face do material em exposição, exigia diferentes soluções expositivas, que Mariano Piçarra desenvolveu, com a colaboração de Rita Albergaria e Salomé Ventura, buscando um equilíbrio entre coerência e dinamismo.

O tempo cronológico ditou a organização dos núcleos. O primeiro foi dedicado à vida de D. Manuel e ao seu interesse pelo universo camoniano, dando a conhecer a história do espólio que se encontrava em exposição no segundo núcleo, composto por cinco salas correspondentes a cinco séculos de edições.

A biografia do rei bibliófilo, composta por breves textos, foi acompanhada por uma seleção de documentos, incluindo fotografias, correspondência, provas gráficas e alguns objetos pessoais, como os cadernos escolares de D. Manuel. Seguindo a linha cronológica, começou em 1889 com uma gravura alegórica do nascimento do infante D. Manuel, passando pelo caderno escolar em que transcreveu Os Lusíadas, aos treze anos, e pelas provas do Catalogo da Collecção de Livros Antigos Portuguezes que se encontram na Bibliotheca de sua Majestade El-Rei D. Manuel, e terminava em 1933, com o testamento do monarca, em que este determinou que após a sua morte e a de sua mulher, mãe e tio, as suas coleções constituiriam «um Museu para utilidade de Portugal» (D. Manuel II e os Livros de Camões, 2015, p. 69). A documentação encontrava-se disposta em nichos envidraçados, abertos numa parede que servia de suporte aos livros e à documentação bidimensional, emoldurada para o efeito.

Ao percorrer o corredor onde foi exposta a biografia, o visitante podia antever, no lado oposto a esta, através de uma sucessão de aberturas verticais, as áreas reservadas ao espólio em questão, despertando a curiosidade. Ao fundo do corredor, através do Retrato de D. Manuel II pintado por Philip de László em 1922, momento em que D. Manuel aprofundara o interesse por livros antigos impressos em Portugal, era feita a transição para o núcleo «Camões pintado. Retratos e representação», que ocupava o corredor de acesso às salas onde se encontravam os exemplares de obras de Camões reunidos por D. Manuel.

As obras literárias foram agrupadas pelo ano de edição, em cinco secções com os seguintes títulos: «Século XVI. Luz de poesia em tempo de sombras»; «Século XVII. Entre a sujeição e a esperança»; «Século XVIII. A consagração do autor completo»; «Século XIX. Camões entre românticos e republicanos»; «Século XX. Dos nacionalismos à democracia pós-imperial». Através desta disposição, era associada à exposição uma dimensão histórica sobre a publicação da obra de Luís Vaz de Camões ao longo do tempo e consequentemente a sua receção, interpretação e uso em diferentes momentos da história nacional.

Na maioria dos casos, os livros foram expostos, abertos, em vitrinas horizontais. Os textos introdutórios de cada secção e as legendas técnicas dos livros, que orientavam o espectador, encontravam-se em painéis intercalados, adossados às vitrinas. O recurso a planos horizontais e verticais destinava-se a facilitar a leitura e a criar zonas diferenciadas no interior de uma mesma vitrina, além de contribuir para um certo dinamismo visual em cada sala.

O acervo apresentado refletia, portanto, as várias dimensões, em termos simbólicos, que a figura de Camões foi aglutinando, o que foi complementado com um pequeno núcleo dedicado à iconografia camoniana. A representação mais antiga apresentada data do século XIX – trata-se de um retrato realizado por Fernão Gomes e copiado por Luís de Resende – e a mais recente era uma pintura de Júlio Pomar de 1988, revelando a imagem que lhe foi atribuída e eternizada pelo tempo.

Para acompanhar esta mostra foi produzida uma publicação que seguiu a mesma organização temática da exposição, na qual se destacam os textos dos curadores e de Maria Jesus Monge, e um pormenorizado catálogo comentado do acervo em exposição.

Mariana Roquette Teixeira, 2020


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Camões

António Soares (1894-1978)

Camões, 1929 / Inv. DP890


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 140318

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2015


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