Em outubro de 2001, inaugurou no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) a exposição individual do artista português Eurico Lino do Vale (1966) com a sua mais recente série, Nova Geração (2001), composta por 13 retratos a preto-e-branco.

Ex-bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para o Royal College of Art de Londres, em 1994, Lino do Vale terminou o seu plano de estudos em fotografia no Ar.Co, em 1993, e, em 1997, o mestrado pela Academia de Belas-Artes de Düsseldorf, na Alemanha. Entre 1990 e 2001, participou em diversas exposições coletivas e, em 1999, foi protagonista da sua primeira mostra individual, «Retratos de Alfama», integrada no projeto «Lisboa Anos 90», no Convento de São Salvador.

Na exposição de 2001, com curadoria de Jorge Molder e apresentada na Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP, o artista reuniu retratos de pessoas de uma faixa etária muito jovem, crianças entre os 8 e os 13 anos, de modo a representar o início de um novo século, ou uma «nova geração». Começou por fotografar quarenta crianças «de vários estratos sociais, todas daqui [de Lisboa]», do qual foram selecionadas treze. A exposição, que não teve, segundo o artista, «qualquer pretensão documental», integrou os típicos retratos que se tiravam na geração dos seus avós ou pais: «As fotografias têm a estrutura clássica: formato quadrado, roupas das alturas de festa, pose de retrato. Tudo simples», explicou Eurico Lino do Vale (Lobo, Diário de Notícias, 26 out. 2001).

A escolha de fotografar crianças foi, para Lino do Vale, «intuitiva», uma vez que já tinha trabalhado com pessoas de idades mais avançadas no seu projeto de 1999. O artista pretendeu captar o olhar e a essência de cada uma delas: «Ainda são miúdos, mas já têm uma certa maneira de olhar que pode perspetivar o que virão a ser», afirmou (Ibid.).

A exposição foi acompanhada pela publicação de um catálogo, editado em português e inglês, com uma apresentação de Jorge Molder e um ensaio crítico de Alexandre Melo, contando ainda com a reprodução total das fotografias expostas e com alguns dados biográficos do artista.

Para o crítico de arte Alexandre Melo, aquilo que distingue os retratos de Eurico Lino do Vale é o olhar. Não só o olhar do retratado, mas o olhar de quem o retrata. Para Melo, o objetivo principal do artista era encontrar nas pessoas que retratou «um olhar que é a manifestação de algo de especial e extraordinário que o fotografado tem em si, como potencialidade ou sinal daquilo que seria o melhor de si próprio» (Eurico Lino do Vale. Nova Geração, 2001, pp. 7-10). O fundamental era a transmissão de uma determinada energia, era «encontrar um ponto de equilíbrio em que eles são tudo e não são nada», referiu Eurico Lino do Vale em relação à Maria, ao Francisco, à Catarina ou à Anastácia (Veloso, Euronotícias, 19 out. 2001, p. 46).

No âmbito da exposição no CAMJAP, foram adquiridas para a coleção do Centro de Arte Moderna dois dos retratos expostos: Filipe e Madalena (ambos de 2001). Um ano mais tarde, foram adquiridas mais duas obras do artista: Anastácia e Nicolas (ambos de 2001).

Joana Atalaia, 2019