Exposição individual de desenho e escultura do artista português Rui Sanches (1954). Com curadoria de João Pedro Garcia, esta mostra procurou sobretudo evidenciar a evolução do desenho na obra deste artista, apresentando 15 desenhos e uma escultura mais recentes.
Solo exhibition of drawings and sculptures by Portuguese artist Rui Sanches (1954). Curated by João Pedro Garcia, the show sought particularly to illustrate the evolution of the artist’s drawings through a display featuring 15 of Sanches’s most recent drawings and one sculpture.
Exposição dedicada ao artista português Rui Sanches (1954), organizada por iniciativa do Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), sede da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris. Programada pelo então diretor do CCCG, João Pedro Garcia, a mostra teve a curadoria de Leonor Nazaré, que assinou o texto de catálogo.
Rui Sanches iniciou-se na pintura, mas cedo optou pela escultura, disciplina pela qual é mais conhecido. A matriz pictórica estará, todavia, sempre presente no seu trabalho, como explica Leonor Nazaré: «C'est le dessin qui va lui permettre une expression bidimensionnelle plus solidaire avec la pensée sculpturale.» (Sanches, 2004)
As suas primeiras produções escultóricas, nos anos 80, serão compostas por peças de pendor geométrico, erigidas em torno da «desconstrução de obras pictóricas neoclássicas»; todavia, a sua escultura vai libertar-se desse referente histórico na década seguinte, e a linguagem tornar-se-á, nas palavras de Emília Ferreira, «mais orgânica [e] sedimentar». A madeira, ao favorecer a fluidez das linhas, tem primazia sobre outros materiais, sendo ocasionalmente conjugada com o metal, o vidro ou o espelho (Ferreira, Rui Sanches, mai. 2010).
Também Jorge Molder, então diretor do Centro de Arte Moderna, menciona a ligação entre o desenho e a escultura na obra do artista: «Há que ver a circulação entre as esculturas e os desenhos e a forma como o desenho é sempre aí presente.» (Rui Sanches. Retrospectiva, 2001, p. 7)
Esta exposição no CCCG, organizada três anos após a grande retrospetiva do artista na Fundação Calouste Gulbenkian, em 2001 (na qual haviam estado patentes trabalhos executados entre 1983 e o ano da mostra), pretendeu dar a ver desenhos realizados entre 2000 e 2004. Assinale-se que anos antes, em 1991, o CAM apresentara uma importante exposição de desenhos de Rui Sanches realizados na década de 80.
A partir dos anos 90, o desenho assume uma presença marcante na obra de Rui Sanches, revelando uma grande diversidade estilística e compositiva. A sua produção inclui desde desenhos com um caráter minimal, a desenhos com padrões orgânicos – exibindo planos de fundo manchados e linhas onduladas –, passando por desenhos marcados por uma complexificação das formas, com recurso à linha fina, mas expressiva e colorida, ou ainda desenhos com aproximações figurativas e linhas concêntricas (Rui Sanches, 2004).
Tal como é descrito no texto do catálogo, a exposição visou sobretudo evidenciar a evolução do desenho na obra de Rui Sanches (que percorre toda a década de 1990), culminando na apresentação dos 15 desenhos então mais recentes. Como escreveu Leonor Nazaré: «Cette évolution du dessin dans l’œuvre de Rui Sanches est aussi l'histoire de quelques permanences, qui rendent reconnaissable ce qu'il expose actuellement (2002 à 2004).» (Ibid.)
A escultura S/ Título (2000) que integrou a exposição – pertencente ao acervo do Centro de Arte Moderna da FCG (Inv. 00E1036) – foi concebida, segundo a explicação de Emília Ferreira, pela «sobreposição de placas de madeira, cortadas em tamanhos diferentes e com ligeiras alterações entre si [que] geram, como numa sucessão de desenhos similares, uma ilusão de movimento […]. A sua irregularidade e, no caso, a impossibilidade de se lhe definir uma face principal, apela a um tipo de exploração espacial que exige do espectador uma atitude de atenção a partir de diversos pontos de vista. Para tanto, também concorre a dimensão média da escultura, permitindo que esta seja percepcionada no seu corpo total.» (Ferreira, «Rui Sanches», mai. 2010)
Na exposição, dispostos em redor do volume escultórico, os desenhos de Sanches estabelecem uma relação e um exercício analítico com a peça que lhes é inerente. De acordo com Emília Ferreira: «O desenho, que Rui Sanches investiga, a par da escultura, há quase três décadas, encontra neste exercício escultórico uma maior afinidade corporal e, provavelmente, a sua mais clara e notória materialização.» (Ibid.)
Publicado pelo CCCG, em língua francesa, o catálogo da exposição inclui o já referido texto de Leonor Nazaré e a biografia do artista, assim como a reprodução da escultura e dos desenhos que figuraram na exposição.