Exposição individual da instalação multimédia Barragem (1980), de José Barrias (1944-2020), pertencente à coleção do Centro de Arte Moderna. Esta mostra integra-se num conjunto de exposições rotativas, centradas numa única obra ou série de trabalhos raramente apresentados. Esta peça não era exposta desde a sua incorporação, em 1996.
Solo exhibition of the multimedia installation “Barragem” (1980) by José Barrias, belonging to the collection of the Modern Art Centre. The show formed part of a group of rotating exhibitions centred on a single artwork or series of works that are rarely displayed. The artwork had not been exhibited since it was made in 1996.
A instalação multimédia Barragem (1980), de José Barrias, foi apresentada pela primeira vez na XI Biennale de Paris (setembro de 1980), tendo sido incorporada na coleção do Centro de Arte Moderna (CAM) em junho de 1996, na sequência da mostra retrospetiva «José Barrias. Etc…», organizada pelo CAM nesse mesmo ano. A partir de então, e até 2003, esta obra, que integrara inúmeras exposições no início da década de 1980, não voltou a ser exposta.
No âmbito do programa de exposições rotativas do CAM, iniciado em 2001, foram sendo organizadas exposições centradas numa única obra ou em séries de trabalhos raramente apresentados, ou que careciam de um olhar renovado. Exemplo disso são, além da exposição em análise, as mostras «Jorge Pinheiro. Desenhos Preparatórios das Pinturas “O Bispo”» (2003), «“Os Galgos” de Amadeo. Olhar a História de uma Pintura» (2004), «XVI Desenhos de António Areal» (2004), «Fernando Lemos. Desenhos / Memórias» (2006).
Ao entrar no espaço de exposições rotativas da Galeria do piso 0 do CAM, o espectador depara de imediato com o painel de 14 fotografias a preto-e-branco, alinhadas em duas filas. No chão, paralelamente à parede, distando pouco menos de um metro desta, encontra-se disposto um monitor que transmite um filme. São imagens do que parece ser uma aldeia em ruínas. Estes elementos imagéticos são acompanhados por um excerto do texto «A Ruína», escrito pelo artista. Esse excerto, fundamentalmente filosófico, não faz referência ao local onde as imagens foram captadas, o que afasta este trabalho de uma conotação meramente documental.
Comparando as fotografias com o vídeo, o visitante rapidamente conclui tratar-se do mesmo lugar. São imagens de Vilarinho das Furnas, antiga aldeia comunitária que ficou submersa devido à construção de uma barragem, inaugurada em 1972. Sete anos mais tarde, um problema técnico obrigou ao esvaziamento da albufeira, deixando a descoberto vestígios da aldeia. Atraído por este processo de desintegração e fusão com a natureza, antes do total desaparecimento, José Barrias desloca-se ao local e regista-o com recurso à fotografia e ao vídeo. Como o próprio relembra, «não foi por denúncia ou lamento, não foi por consciência social que eu fui a Vilarinho. Foi por beleza. […] Importa-nos […] a ruína como corpo transmissor de continuidades extremas cuja vitalidade se encontra paradoxalmente inscrita na pedra» (Texto de divulgação, 2003, Arquivos Gulbenkian, ID: 251619).
No vídeo, um plano fixo de longa duração (cerca de 20 minutos) regista os movimentos suaves dos panos brancos colocados no que outrora foram portas, passagens do mundo interior para o exterior. Alguns instantes são «eternizados» pelas fotografias, que mostram, ao contrário do filme, diferentes pontos de vista e pormenores da aldeia reemersa. Através da conjugação de imagens em movimento com imagens fixas, o artista remete para a vida e a morte, para o tempo e a sua interrupção, para a memória e a sua perda.
Para esta reflexão sobre a ruína, encarada como destino do mundo, contribuiu um trabalho de investigação levado a cabo por Barrias, como denuncia o seu texto, no qual cita autores como Georg Simmel e Jean Starobinski, que desenvolveram teorias sobre essa temática e o seu uso metafórico.
À semelhança das outras exposições apresentadas neste espaço, não foi produzida qualquer publicação para acompanhar a mostra.