Pedro Calapez. Obras Escolhidas, 1992 – 2004

Exposição individual do artista Pedro Calapez (1953), que apresentou uma antologia de doze anos de trabalho. Deu a ver a expansividade da linha, da mancha e da cor que caracteriza a obra do artista, muitas vezes conduzindo o meio pictórico a estruturas tridimensionais e a um diálogo premente com o espaço arquitetónico.
Solo exhibition on artist Pedro Calapez (1953) with a retrospective display of 12 years of the artist’s work. The exhibition showcased the expansiveness of lines, patches and colours in the artist’s work, which often included three-dimensional sculptural designs in a striking dialogue with the architectural space.

Em 2004, o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) apresentou a primeira exposição de caráter antológico da obra de Pedro Calapez (1953). Selecionou obras dos doze anos de trabalho imediatamente anteriores à mostra, reunidas com a cooperação de numerosos emprestadores nacionais e internacionais (Arquivos Gulbenkian, CAM 00533).

O catálogo de exposição lista 109 obras que acompanham a multiplicidade expressiva de Calapez entre 1992 e 2004. Evidencia como a sua obra, apesar de ir da pintura à instalação, passando pela escultura e pela arquitetura, nunca deixa de reiterar valores primordiais da linha, do plano, da mancha e da cor, indagando as faculdades desses elementos basilares para gerar imagem – no caminho que vai da representação do espaço à geração de espaço.

Com comissariado de Helena de Freitas (curadora do CAMJAP) e do escritor e crítico de arte João Miguel Fernandes Jorge, a exposição inaugurou a 14 de outubro de 2004, ficando patente ao público entre dia 15 desse mês e 9 de janeiro de 2005. Os aspetos fotográficos guardados nos Arquivos Gulbenkian revelam que se iniciava no Hall do CAMJAP com a instalação Muro contra Muro, de 1994 – um corredor pictórico penetrável, convidando à passagem. Na parede, e a dez anos de distância, Passagem 09 e Passagem 10, ambas de 2004, compunham este núcleo introdutório. A primeira seria adquirida pela Fundação em janeiro de 2005, ainda durante a mostra (Arquivos Gulbenkian, CAM 01034), e figura atualmente entre as 12 obras de Calapez pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

A exposição continuava na Galeria do piso 1, espaço que as obras de Calapez faziam vibrar com a sua presença física e ótica. A pintura e o desenho (nas contaminações que entre si estabelecem) circulavam pelos mais diversos momentos dos doze anos de produção tratados – dos mais tridimensionais aos mais bidimensionais. Transportavam consigo as muitas referências imagéticas que inspiram o autor num fazer que, como o próprio deixa antever nas entrevistas publicadas no catálogo, envolve quase sempre uma tessitura de memórias em que o estudo de referências e problemas específicos da história da arte entroncam nas suas abordagens das vistas de espaços interiores e exteriores, das paisagens, de edifícios, de lugares e de objetos (Pedro Calapez. Obras Escolhidas, 1992-2004, 2004, pp. 214-217). Essa vocação recoletora de Calapez verifica-se ora à superfície, ora na latência processual dos seus trabalhos. A sua digestão está tão presente nos «esqueletos» mais figurativos, desenhados e sulcados na superfície, quanto nos espatulados e arrastamentos mais abstratos.

No acervo exposto em 2004, merecem especial referência momentos que se revelam etapas de alguma síntese processual no percurso do autor, como, por exemplo, os cubos pintados no interior – então ainda muito recentes. São eles: Unidade Habitacional, Contentor de Paisagem, Terra Firme, todos de 2004, ou Dentro, o primeiro criado por Calapez e datado de 2002, catalogado mas não exposto (Martins; Calapez, A Capital, 10 out. 2004, p. 34). Refira-se também Paysage, bem mais antiga (1993), com desenho a giz sobre tijolos e que, além de igualmente salientar os vetores escultóricos do trabalho de Calapez, sublinha a componente corporal subjacente (ora mais evidente ora mais latente) a muito do seu trabalho. Recentemente, o artista tem inclusivamente explorado o lado performático do seu fazer artístico em ações no espaço expositivo (cite-se a obra realizada na coletiva «Labirinto e Eco», Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Guimarães, 2016, igualmente com a linha aplicada em tijolos maciços, posteriormente distribuídos e redistribuídos no espaço).

«Pedro Calapez. Obras Escolhidas, 1992-2004» surgia no final de 2004 como um marco na programação expositiva desse ano em Lisboa. Cumpria uma clara missão do CAMJAP: firmar reconhecimento institucional para artistas portugueses contemporâneos cujo percurso alcançara já fases substanciais de maturação.

Os Arquivos Gulbenkian guardam uma reportagem fotográfica da inauguração, que mostra uma afluência muito assinalável. Por contraste, em dezembro de 2004 o encenador e cineasta Jorge Silva Melo lamentava, na sua coluna para o jornal Público, a ausência de visitantes numa ida recente à exposição – pese embora a gratuitidade de domingo e o facto de o bar do CAMJAP estar repleto de gente (Melo, Público, 18 dez. 2004, p. 17). Tal esmorecimento, que Silva Melo verifica igualmente noutras exposições em Lisboa, não será seguramente imputável à imprensa, dada a razoável cobertura dos eventos expositivos desta passagem de 2004 para 2005 (Dossiê de imprensa, 2004, Serviço de Comunicação da FCG). Destaque para as entrevistas de Calapez ao jornal A Capital (10 out. 2004, pp. 34-35) e ao JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias (13 a 16 out. 2004, pp. 16-17), às quais se somam várias recensões da exposição.

Também os canais de divulgação da FCG concederam a devida atenção a este momento da programação. A Newsletter FCG dedicou-lhe duas páginas (n.º 57, out. 2004, pp. 6-7) e referiu as três visitas orientadas programadas pelo Serviço Educativo da FCG (n.º 57 e n.º 58, 2004; n.º 59, 2005).

Poucos meses após o fecho desta antológica lisboeta, Calapez inaugurou a mostra «Piso Zero» no Centro Galego de Arte Contemporânea (CGAC) em Santiago de Compostela (Espanha). Comissariada por Miguel Fernández-Cid, diretor desse centro, e Maria do Céu Baptista, então já ex-assistente de conservação do CAMJAP, a exposição apresentou trabalho que dialogava com a arquitetura de Álvaro Siza Vieira, que concebeu o edifício (Faria, Público, 20 jan. 2005). Os Arquivos Gulbenkian guardam correspondência que indica que Fernández-Cid esteve na FCG, acompanhado por Céu Baptista, já com a produção de «Pedro Calapez. Obras Escolhidas, 1992-2004» em andamento. Essa passagem por Lisboa terá materializado conversações com o artista com vista à exposição individual naquele centro Galego em 2005 (Carta de Miguel Fernández-Cid para Jorge Molder, 7 abr. 2004, Arquivos Gulbenkian, CAM 00534). O currículo de Calapez, no seu website, indica que existe um livro de artista associado a essa mostra, editado em colaboração com Nuno Faria.

Relembre-se que o CGAC é uma das várias entidades espanholas que, à data desta antológica de 2004, contavam com obras de Pedro Calapez na sua coleção. Neste caso, Limite 42 e Limite 43 estiveram entre as várias peças da série Limite (1999) expostas nesta antológica de 2004 (Pedro Calapez. Obras Escolhidas, 1992-2004, 2004, pp. 209-210).

Desde o final da década de 1970 que Calapez expõe intensamente a nível nacional e internacional. A sua primeira individual organizada pela FCG remonta a 1989: «Desenhos sobre Madeira», seguida de «Histórias de Objectos», em 1991. Esta última concretizou a atribuição do Prémio União Latina e funcionou como ponto de balizagem para a cronologia desta antológica de 2004 (Martins; Calapez, A Capital, 10 out. 2004, pp. 34-35).

Destaque ainda para o espetáculo Le Travail du Peintre. Ciclos de Canções de Ravel e Poulenc (1987), em parceria com Nuno Vieira de Almeida para o ACARTE (Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte da FCG). Em 2000, obras do autor foram expostas na Biblioteca Gulbenkian em Ponte de Sor com o documentário Pedro Calapez. Trabalhos do Olhar. A exposição em Ponte de Sor, «Pinturas sobre Papel», foi igualmente comissariada por Fernandes Jorge. Refiram-se ainda as participações em diversas coletivas dinamizadas pela FCG, em Portugal e no estrangeiro, como a inclusão na representação portuguesa à 19.ª Bienal de São Paulo e «Arte Contemporáneo Portugués», em Madrid (ambas de 1987), ou «Portuguese Painting from the Last 3 Decades», Atenas, 1989. Mais recentemente, lembre-se o «Fio Condutor. Desenhos da Colecção do CAM» (2010) e «Casa Comum. Obras da Colecção do CAM» (2011). Paralelamente, a FCG tem acompanhado e apoiado a realização de vários projetos expositivos do autor em iniciativas externas.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Passagem 10

Pedro Calapez (1953-)

Passagem 10, 2004 / Inv. 05P1281

Passagem 10

Pedro Calapez (1953-)

Passagem 10, 2004 / Inv. 05P1281


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

João Pinharanda (atrás, esq.), Julião Sarmento (à esq.), Teresa Patrício Gouveia (à dir.)
João Pinharanda
Emílio Rui Vilar (à esq.), Artur Santos Silva, Pedro Calapez (ao centro) e Jorge Molder (à dir.)
Emílio Rui Vilar, Artur Santos Silva (ao centro) e Pedro Calapez (à dir.)
João Castel-Branco Pereira (centro, dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00533

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações sobre o transporte de obras e valores de seguro; correspondência interna e externa (contacto de Miguel Fernández-Cid, diretor do CGAC – Centro Galego de Arte Contemporânea, com a possibilidade de se realizar uma exposição na Galiza com base nas obras apresentadas nesta individual do artista em Lisboa. Algumas destas obras terão integrado a exposição do piso 0, apresentada em 2005). 2004 – 2016

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00354

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém diversas burocracias processuais, destacando-se contacto da Rádio e Televisão de Portugal para realizar captações de imagem no espaço expositivo. Acompanha a tradução para português dos textos em língua estrangeira que foram publicados no catálogo. 2004 – 2005

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01034

Pasta com documentação referente à aquisição por parte da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) da obra «Passagem 10» (2004), de Pedro Calapez. Atualmente incorporada na coleção do Centro de Arte Moderna (Inv. 05P1281), a obra foi negociada no decurso da exposição «Pedro Calapez. Obras Escolhidas, 1991-2004», no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão da FCG, onde a obra esteve exposta. 2004 – 2005

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 114522

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2004

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 121161

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2004


Exposições Relacionadas

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