Pedro Calapez. Histórias de Objectos

Exposição individual e itinerante do artista galardoado com o I Prémio de Pintura Portuguesa União Latina. À data com 37 anos, o artista possuía um corpo de trabalho que se destacava pela sua coerência e solidez, o que lhe valeu este apoio à internacionalização.
Solo travelling exhibition on Pedro Calapez, receiver of the First Latin Union Portuguese Painting Award. The artist, thirty-seven years old at the time, possessed a body of work notable for its consistency and solidity, an achievement which merited this step towards the international stage.

Exposição individual de trabalhos recentes de Pedro Calapez (1953), organizada pela União Latina, na sequência do I Prémio de Pintura, atribuído ao artista português. Em 1990, a União Latina cria o Prémio de Pintura Portuguesa, com o intuito de apoiar a jovem pintura portuguesa e, simultaneamente, proporcionar um melhor conhecimento da mesma nos outros países da comunidade latina. Assim, além da atribuição de um prémio monetário, era oferecida ao galardoado a possibilidade de expor o seu trabalho numa instituição de renome, não só em Lisboa, mas também em Paris e Roma, promovendo a sua internacionalização. A primeira edição do prémio contou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) para a organização da exposição do galardoado e para a produção do respetivo catálogo (em edição trilingue).

Das vinte e duas candidaturas submetidas, o júri internacional, composto por José Sommer Ribeiro (diretor do Centro de Arte Moderna), Fernando de Azevedo (diretor do Serviço de Belas-Artes da FCG), Achille Bonito Oliva (crítico de arte italiano), Roberto Pontual (crítico de arte brasileiro), Juan Manuel Bonet (crítico de arte espanhol) e Guy Weleen (crítico de arte francês), selecionou numa primeira fase os seguintes artistas: Catarina Baleiras, Pedro Calapez, Ivo, Isabel Pavão, Paulo Quintas, Filipe Rocha da Silva e Pires Vieira.

A escolha do premiado foi anunciada a 30 de novembro, após uma segunda fase de avaliação de três ou mais obras apresentadas pelos artistas pré-selecionados. O prémio foi atribuído a Pedro Calapez por unanimidade. À data com 37 anos, Calapez expunha o seu trabalho com regularidade desde 1981 e já se encontrava representado em diversas coleções, como as da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação Luso-Americana e da Caixa Geral de Depósitos, entre outras.

Relativamente ao percurso artístico que lhe valeu o prémio, o artista declarará, em entrevista concedida ao JL: «Tentei fazer o máximo durante estes nove anos e vou continuar a trabalhar. Nos preliminares do concurso, havia a presentação de dossiers com slides e eu só apresentei trabalhos de 1985 a 1990. O júri achou que esse corpo de trabalho era suficiente para atribuir o prémio.» (Fragoso, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 11 dez. 1990). Este prémio era assim um reconhecimento do seu trabalho, mas acima de tudo constituía um marco no seu percurso, pela oportunidade de apresentar uma exposição de relevo em contexto internacional.

A exposição «Pedro Calapez. Histórias de Objectos» foi primeiro apresentada na Casa de la Città (Roma, Itália) em março de 1991; viajou em seguida para a Carré des Arts (Paris, França), onde permaneceu de 17 de abril a 2 de junho, terminando a sua itinerância em Lisboa na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0). Para esta mostra, Calapez selecionou um conjunto de trabalhos produzidos entre 1988 e 1991. Na já referida entrevista ao JL, o artista daria o seguinte testemunho relativamente ao seu trabalho: «Neste último ano tenho andado a tentar definir, digamos, um conjunto de formas que constituem a base, ou um ponto de partida. Agora são nomeáveis, mas elas não são só o que o nome encerra. Elas provocarão diversas histórias, múltiplos discursos que talvez façam parte do meu pensar pintura, e no entanto haverá sempre algo de incomunicável, que é o outro discurso que me consome e me faz pôr traços num papel. As minhas escolhas revestem-se de uma certa intemporalidade.» (Ibid.)

Calapez refere-se a formas universalmente reconhecíveis, como a da caixa, da mesa, da cerca, da gruta, do muro, dos degraus, do lago, da montanha, da fonte, transformadas em protagonistas nestes seus trabalhos.

No centro de cada cena encontravam-se uma ou mais formas, as quais se destacavam do fundo ou se fundiam nele. A abstração do contexto onde estavam inseridas, e a «objetificação» a que foram sujeitas, quer através do isolamento, quer através de jogos de escala, imbuíam estas formas de mistério. Enquanto algumas possuíam uma forte densidade, outras pareciam incorpóreas.

Outro traço distintivo relevante é a combinação que Calapez faz da pintura e do desenho. Para estas pinturas-desenho o artista recorre a diferentes materiais e suportes, e o modo como são usados acaba por ditar a prevalência de uma aparência mais gráfica ou plástica. As formas/objetos nascem assim através de linhas coloridas que se sobrepõem ao fundo, dos limites da mancha envolvente, ou de incisões no campo da cor, ou seja, através de processos de adição ou subtração.

Ao abranger três anos de trabalho, esta exposição revelava igualmente como se desenrolava o processo criativo de Calapez, como uma pesquisa conduzia a outra, o que o artista resume da seguinte forma: «Há trabalhos de que não me posso desligar logo porque ficou lá qualquer coisa de que preciso para outros, mas não quer dizer que o trabalho não esteja acabado ou que seja melhor que outros, há apenas referências de que preciso para reavivar a minha memória.» (Ibid.)

Mariana Roquette Teixeira, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Sem título

Pedro Calapez (1953-)

Sem título, 1988 / Inv. DP1415


Eventos Paralelos

Cerimónia oficial

Prémio de Pintura Portuguesa «União Latina»

30 nov 1990
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência de imprensa

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / Dossiê BA/FCG

Coleção de dossiês com recortes de imprensa de eventos realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX, organizados de forma temática e cronológica. 1984 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00638

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna, lista de obras para efeitos de seguro, recortes de imprensa. 1991 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00431

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, material para o catálogo, lista de convidados de Pedro Calapez para a exposição em Roma, textos para o catálogo e respetivas traduções, recortes de imprensa. 1989 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/002/02-D00389

Coleção fotográfica, cor: evento associado (FCG, Lisboa) 1990


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