Maria Beatriz. Vita Brevis

Exposição temporária de trabalhos da artista Maria Beatriz (1940). A mostra, que apresentou fotografias e objetos, numa tentativa de aproximar a cultura portuguesa e holandesa. A FCG adquiriu posteriormente vários dos trabalhos exibidos nesta exposição.
Temporary exhibition of works by artist Maria Beatriz (1940). The show, featuring photographs and objects, attempted to draw the Portuguese and Dutch cultures closer together. The Calouste Gulbenkian Foundation acquired several of the works on display after the exhibition.

Exposição de fotografia e objetos de Maria Beatriz (1940-2020), apresentada no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), entre 17 de janeiro e 10 de março de 2002, e no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, entre 17 de novembro e 22 de dezembro de 2004. A exposição viajou ainda até Amesterdão, onde foi apresentada no Kunstuitleen KNSM.

Artista portuguesa residente nos Países Baixos desde a década de 1970, Maria Beatriz regista no seu trabalho uma viagem interior e de autodescoberta desencadeada pelo impacto da sua condição de portuguesa num país estrangeiro, que se distingue de Portugal em aspetos como o clima e a língua, mas que também partilha semelhanças, quer ao nível da história quer da sua extensa área de costa. Neste sentido, o projeto que concebeu para esta exposição foi motivado pelo desejo de aproximar as duas culturas (portuguesa e holandesa), como forma de ultrapassar a distância sentida e como modo de relatar o seu dia-a-dia (Maria Beatriz. Vita Brevis, 2002, pp. 9-17).

Assim, foram reunidos nesta exposição vários «elementos breves» que descreviam um quotidiano tratado com ironia, a qual era reforçada pelo próprio no título da exposição – «Vita Brevis» – e era transversal a todas as instalações apresentadas. Segundo Jorge Molder, no texto para o catálogo, as obras reunidas «incorporam esses tais elementos breves que acompanham a nossa brevidade. Maria Beatriz reflecte sobre a sua transformação numa realidade menos breve, “realidade” que eles ganham ao serem apanhados para obra de arte» (Maria Beatriz. Vita Brevis, 2002, p. 7).

A exposição «Vita Brevis» apresentou igualmente uma série fotográfica homónima, através da qual a artista registou grupos de naturezas-mortas. Estas começaram por ser estudos para sete instalações, e envolviam combinações de objetos aleatórios, como botas, casacos, legumes e frutos, pincéis e cascas de batata, por intermédio dos quais, no dizer de Maria Beatriz, se traça o «retrato irrisório de um dia-a-dia (o meu!) reduzido ao essencial. […] O assunto é a ausência, a relatividade do que julgamos possuir, a despedida. Com uns pozinhos de humor» (Maria Beatriz. Vita Brevis, 2002, p. 9).

Além do humor e da ironia que atravessam o discurso plástico de Maria Beatriz, as suas instalações – que são potentes veículos de comunicação com o outro, quer ele seja o observador ou a realidade exterior – «são compostas com materiais pobres e uma certa encenação austera, geralmente em torno de uma mesa, e que reabilita a figura recortada que provém da gravura e dos seus desenhos de pequena dimensão. O corpo gravita assim em espaços e composições solitárias através de encenações dramáticas» (Gomes, «Maria Beatriz», 2014). 

Nesta exposição de 2002, Maria Beatriz recupera o tema da natureza-morta explorado em 1999 na exposição «Uma Carta da Holanda: As Batatas», organizada na Galeria Diferença, em Lisboa, que reunia um conjunto de composições em torno da obra De aardappeleters/The Potato Eaters (1885), de Van Gogh. Uma intenção evidenciada pela artista no texto deste projeto expositivo: «[…] muito foi escrito sobre as naturezas-mortas do séc. XVII e as de Van Gogh, mas o que me interessa é vê-las, sentir o que em mim levantam, e depois fazer aquilo que tiver de fazer: pinturas ou objectos.» (Memória descritiva, dez. 1999, Arquivos Gulbenkian, CAM 00516)

Ao mesmo tempo, também interessava a Maria Beatriz evidenciar a crítica mordaz de Van Gogh à sociedade sua contemporânea, evocando assim a ausência de liberdade de expressão vivida em Portugal aquando da ida da artista para os Países Baixos na década de 1970: «Através dos anos, tem sido meu desejo e objectivo conseguir conciliar no meu trabalho a liberdade lírica de expressão e um conteúdo de contexto social.» (Ibid.)

Esta é, aliás, uma das linhas de força que Hans Lanstaat salienta na análise que faz da obra da artista: «Liberdade e recolhimento permanecem tónicas na obra de Maria Beatriz. A temática prossegue fiel a uma narrativa do possível e do impossível, associada à condição do ser humano, e do ser-mulher, em todas as facetas que descobre e representa: o absurdo e o banal, a ternura e a revelação.» (Maria Beatriz. Vita Brevis, 2002, p. 13)

O catálogo que acompanhou a exposição inclui textos de Jorge Molder, à data diretor do CAMJAP, e de Hans Lanstaat, artista escolhido por Maria Beatriz: «[…] já tenho quem escreva para o catálogo – um artista holandês que conhece o meu trabalho há vários anos […]. É um artista reconhecido aqui, viaja pelo mundo e trabalha a partir dessa experiência. Também eu vejo o meu trabalho como um “diário de bordo” da minha vida. Só que eu não saio lá muito do atelier. E gosto que seja um “verdadeiro viajante” a olhar para o que estou a fazer.» (Carta de Maria Beatriz para Jorge Molder, 17 jul. 2001, Arquivos Gulbenkian, CAM 00515)

No âmbito da exposição em Lisboa, foram organizadas três visitas guiadas, orientadas por Constança Metello Seixas, que tiveram lugar aos sábados.

A Fundação Calouste Gulbenkian adquiriu vários trabalhos à artista, nomeadamente a instalação Cascas (série Vita Brevis). Homenagem a V. Van Gogh (Inv. 12E1669), constituída por uma mesa de madeira e cascas de batata feitas em algodão trabalhado a acrílico, e sete fotografias da série Vita Brevis.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Cascas (série Vita Brevis) . Homenagem a V. Van Gogh

Maria Beatriz (1940-2020)

Cascas (série Vita Brevis) . Homenagem a V. Van Gogh, 2001 / Inv. 12E1669

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP367

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP368

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP369

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP370

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP371

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP372

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP373

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP374

Cascas (série Vita Brevis) . Homenagem a V. Van Gogh

Maria Beatriz (1940-2020)

Cascas (série Vita Brevis) . Homenagem a V. Van Gogh, 2001 / Inv. 12E1669

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP367

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP368

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP369

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP370

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP371

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP372

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP373

Vita Brevis (série)

Maria Beatriz (1940-2020)

Vita Brevis (série), 2000/1 / Inv. 02FP374


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Maria Beatriz. Vita Brevis]

19 fev 2002 – 9 mar 2002
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum de aspetos e da inauguração da exposição
Emílio Rui Vilar (ao centro) e Jorge Molder (atrás, à dir.)
Emílio Rui Vilar (à dir.)

Documentação


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00515

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém apólices de seguro, correspondência interna e externa e orçamentos. 2001 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00516

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém proposta de Maria Beatriz para a realização da exposição na FCG e um exemplar da revista «Tabacaria» (n.º 8), com um artigo sobre a artista. 1999 – 1999

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05624

Pasta com documentação referente à divulgação das exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian. Contém convites, postais, folhas de sala. 2003 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05005

Álbum com coleção fotográfica, cor: aspetos e inauguração (CCCG, Paris) 2004

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 132843

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2002


Exposições Relacionadas

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