Claude Dityvon. Hors-Champ

Exposição temporária de fotografia do artista francês Claude Dityvon (1937-2008). A mostra apresentou o registo fotográfico das filmagens de Le Soulier de Satin, filme realizado por Manoel de Oliveira em 1985, que adapta ao cinema a peça homónima de Paul Claudel.
Temporary exhibition of photos by French artist Claude Dityvon. The show displayed a photographic record of shoots from the film “Le Soulier de Satin”, directed by Manoel de Oliveira in 1985, which was an adaptation of the play of the same name by Paul Claudel.

Exposição de fotografia de Claude Dityvon (1937-2008), organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, e aí apresentada entre 15 de janeiro e 1 de março de 2002.

O conjunto fotográfico exposto era constituído pelo registo de momentos da realização de Le Soulier de Satin (1985), filme do realizador português Manoel de Oliveira, adaptado da obra homónima de Paul Claudel. Tal como o título indicava (hors-champ), o conjunto de fotografias compreendia o registo de acontecimentos, objetos e pessoas que se encontravam excluídos do plano do filme. O conceito de hors-champ, que pode ser aplicado ao desenho, à pintura e à fotografia, remete para o conjunto elementos que, apesar de não serem registados pela objetiva ou pelo pincel, são sugeridos por imagens ou sons.

O filme reportava-se à peça de teatro homónima escrita por Paul Claudel em 1929, que contava a história de amor proibido entre Doña Prouèze e o capitão Don Rodrigo, vivida ao longo de vinte anos, durante o período de conquista marítima renascentista – motivo pelo qual as cenas decorrem em diversos países e, ocasionalmente, entre a Terra e o Céu. O grande número de personagens e lugares e a complexidade de efeitos necessários à cenografia, juntamente com a sua longa duração (cerca de onze horas), fizeram desta peça um evento teatral raro, mas de grande magnitude e interesse. A adaptação ao cinema condensou a peça em seis horas e cinquenta minutos de filme, protagonizado por Luis Miguel Cintra, Patricia Barzyk e Anne Consigny.

O registo fotográfico exposto foi realizado no âmbito de um conjunto de trabalhos sobre cinema que Claude Dityvon realizou no início de 1985, para o qual se dirigiu aos estúdios Tobis, em Lisboa, acompanhando assim as filmagens de Le Soulier de Satin. As fotografias foram feitas ao longo de dois dias, em condições difíceis, devido à luminosidade crua dos refletores. Revelam o olhar curioso do fotógrafo, que acompanhou as indicações de Manoel de Oliveira e o desenrolar das cenas, com o objetivo de captar o máximo de elementos ligados ao filme.

Segundo Federico Nicolao, filósofo, escritor e curador italiano: «Dityvon semble découvrir toutes les filiations à l'œuvre dans le septième art, sa véritable circulation des regards, son alternance secrète des points de vue. […] Arrivé à Lisbonne, Dityvon capture l'histoire de cette passion dans le regard des acteurs, dans leurs questions, dans leurs répliques et dans leurs corps, dans l'informe qui nourrit un plateau et unit tous ceux qui participent ainsi à la naissance d'un film.» (Claude Dityvon. Hors-champ, 2002, [s.p.])

A mudança constante e necessária dos cenários é captada por Claude Dityvon, podendo-se ver nas fotografias cenas tão díspares como a corte flutuante do rei de Espanha, o pequeno deserto de Castilha, o oceano Atlântico revolto pela passagem das baleias, o laranjal de uma casa nobre e o grande salão do Palácio de Belém. Todos estes ambientes refletiam a vontade de Manoel de Oliveira de produzir um cinema de dimensões épicas, que regressava aos primórdios do cinema e ao trabalho de Georges Méliès, homenageando-o (Claude Dityvon. Hors-champ [folheto], 2002).

No dia da inauguração, foi lançado o livro Manoel de Oliveira. Cinéaste portugais du XXe siècle, assinado por Jacques Parsi, colaborador de longa duração do realizador português, e editado pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian no âmbito da coleção «Présences Portugaises en France», que presta homenagem a alguns artistas portugueses de revelo internacional, de Domingos Bomtempo a Mário de Sá-Carneiro, de Eça de Queirós a Emmanuel Nunes.

Sobre esta publicação, Sérgio C. Andrade escreveu: «De regresso a Parsi, registe-se que o livro que escreveu para o Centro Gulbenkian é uma longa biofilmografia comentada do realizador. E que tem também algumas “revelações” relativas à sua extensa vida. Entre elas avulta um artigo por Oliveira em… 1933, na revista Movimento, e que é bem significativo do seu pensamento estético e mesmo político.» (Andrade, Público, 16 mar. 2002)

Quase simultaneamente a esta exposição, decorreu no Centre Pompidou, entre dezembro de 2001 e janeiro de 2002, uma retrospetiva integral de homenagem a Manoel de Oliveira, que deu origem a um livro-catálogo intitulado Manoel de Oliveira, coordenado por Jacques Parsi e escrito em coautoria por Simona Fina e Roberto Turigliatto.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Lançamento editorial

Autour de Manoel de Oliveira

15 jan 2002
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Centre Culturel Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum da inauguração da exposição e do lançamento do livro «Autour de Manoel de Oliveira»

Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

Pasta com documentação referente à divulgação de várias exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian. 1979 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

Pasta com documentação referente à divulgação de várias exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian. 1979 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

Álbum com coleção fotográfica, cor: inauguração lançamento de livro «Autour de Manoel de Oliveira» (CCCG, Paris) 2002


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