Exposição da iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Itália, dedicada à obra do realizador italiano Luchino Visconti (1906-1976), realizada no âmbito do «Festival dei Due Mondi», em Spoleto (Itália), e comissariada pela realizadora Caterina d’Amico de Carvalho, filha da grande colaboradora de Visconti, Suso Cecchi d’Amico.

A exposição, organizada em Lisboa pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e pela Embaixada de Itália em Portugal, procurou homenagear e recordar a importância cultural para o cinema internacional do século XX da obra de Visconti, que havia desaparecido no ano anterior à apresentação desta mostra.

Foi apresentado um conjunto que contou com mais de 400 fotografias de cena, de 83 espetáculos dirigidos por Visconti, nas diversas disciplinas da representação, tais como o cinema, o teatro e a ópera: «Nos painéis da exposição Gulbenkian encontram-se representadas as etapas da evolução artística de Visconti, os seus diversos “momentos”. Nesta construção histórica e filológica é possível captar o sentido da sua mensagem.» (Visconti, 1977, p. 5)

Estas fotografias, algumas pertencentes ao seu espólio pessoal, que procuraram recordar num ambiente intimista todas as encenações em que Visconti participou, foram organizadas segundo um critério cronológico capaz de evidenciar o seu percurso criativo e, em certa medida, também biográfico. As balizas cronológicas selecionadas para caracterizar este percurso são as imagens de Visconti como assistente do realizador Jean Renoir em Une Partie de Campagne, de 1936, e os últimos registos no set das filmagens para L’Innocente, em 1975.

Por ocasião da apresentação da exposição durante o festival italiano, o crítico de teatro Roberto de Monticelli referir-se-ia a esta mostra como sendo uma «exposição-espectáculo», por descrever «a parábola do grande realizador no arco do proscénio e no rectângulo do ecrã», mas também por se apresentar como uma «exposição-livro», que se abre ao público como um álbum de recordações (Visconti, 1977, p. 17).

Esta exposição foi apenas parte de um extenso programa cultural realizado durante os meses de janeiro e fevereiro de 1977 na FCG. Em complementaridade com a exposição foi apresentado um ciclo de cinema no Grande Auditório da FCG, organizado por João Bénard da Costa, cuja realização resultou da organização conjunta da FCG com a Embaixada de Itália, e para a qual contribuíram a Secretaria de Estado da Cultura de Portugal e a distribuidora cinematográfica Filmes Castello Lopes. Muitos dos filmes exibidos eram inéditos para o público português, por terem sido proibidos pela Censura. Outros, já distribuídos em Portugal, também não tinham sido apresentados na sua versão original, tendo sofrido muitos cortes. Desta forma, esta relação entre a exposição e o ciclo de cinema permitiu um novo olhar sobre a obra de Visconti, a sua filmografia e também sobre a sua personalidade, para o qual contribuiu igualmente a conferência proferida pela realizadora e curadora da exposição Caterina d’Amico de Carvalho.

A este respeito, e como consta num relatório interno do Serviço de Belas-Artes da FCG, da autoria de João Bénard da Costa, esta retrospetiva veio demonstrar «que as possibilidades de ver uma integral permite um juízo de conjunto que as visões fragmentadas ao longo dos anos não consentem, e permite o estudo de um autor de forma exemplar e cabal». E acrescenta: «Está-se perante uma forma privilegiada de conhecimento dum autor, a única que possibilita a compreensão do seu significado e grandeza.» (Apontamento do Serviço de Belas-Artes, 26 abr. 1977, p. 3, Arquivos Gulbenkian, SBA 13914)

Este mesmo relatório dava informação detalhada sobre a receção da exposição e do ciclo de cinema: «A esta integral “viscontiana” o público correspondeu de modo que excedeu as mais optimistas previsões. […] Todas as sessões esgotaram o Grande Auditório. O prestígio de Visconti em Lisboa, a sua aceitabilidade ao nível de uma camada ampla do público, já suficientemente informada, razões extra-cinematográficas, etc., permitirão compreender esta maciça afluência do público, que, por vezes, pareceu escapar a qualquer lógica.» (Ibid., pp. 7-8)

Filipa Coimbra, 2016