Jesper Just

Festival Temps d'Images

Integrada na abertura do Festival Temps d’Images em Lisboa, a exposição dedicada ao artista dinamarquês Jesper Just (1974) foi organizada pelo Centro de Arte Moderna, em colaboração com o Nikolaj, Copenhagen Contemporary Art Center. Comissariada por Elisabeth Delin Hansen e Anne Julie Arnfred, a mostra reuniu cinco trabalhos em vídeo do artista.
Exhibition dedicated to Danish artist Jesper Just (1974) included in the opening of the Festival Temps d’Images in Lisbon, organised by the Modern Art Centre in collaboration with the Nikolaj, Copenhagen Contemporary Art Center. Curated by Elisabeth Delin Hansen and Anne Julie Arnfred, the show included five video works by the artist.

A exposição dedicada ao artista dinamarquês Jesper Just (1974) foi organizada por iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), através do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), em colaboração com o Nikolaj, Copenhagen Contemporary Art Center, em outubro de 2009.

Apresentada no contexto da abertura do Festival Temps d'Images, em Lisboa, a exposição marcava igualmente a primeira vez em que Jesper Just foi apresentado em Portugal. Na sua sétima edição naquele ano, o festival abarcou cerca de vinte projetos, que pretenderam divulgar e estimular o cruzamento entre o corpo e a imagem em movimento, e entre o cinema e as outras artes. Sob a programação de Isabel Carlos, então diretora do CAMJAP, a curadoria da exposição foi assegurada pela diretora do Copenhagen Contemporary Art Center, Elisabeth Delin Hansen, apoiada por Anne Julie Arnfred, curadora da mesma instituição dinamarquesa.

O trabalho de Jesper Just, artista dinamarquês conhecido internacionalmente pelas suas obras em vídeo, caracteriza-se por cruzar tecnologias do cinema e estratégias de instalação (mistura de múltiplos canais de vídeo, instalações sonoras, performances ao vivo), numa linguagem que visa abordar questões contemporâneas complexas, desconstruindo convenções e estereótipos da cultura dominante através de situações de grande complexidade psicológica. Os vídeos de Jesper Just, «extraordinariamente belos e remetendo para uma estética cinematográfica, são sempre ambíguos, oferecem uma consciente complexidade psicológica e convidam o espectador a múltiplas interpretações» (Jesper Just [folha de sala], 2009, Arquivos Gulbenkian, CAM 00641).

Nas palavras de Isabel Carlos: «Ao mesmo tempo que convoca permanentemente a nossa memória cinéfila, Just destabiliza através de narrativas visuais incomuns os nossos comportamentos e padrões convencionais, nomeadamente, entre outros exemplos possíveis, a tensão e o relacionamento entre pessoas maduras e figuras jovens, os atributos do masculino e do feminino, deixando assim o espectador entregue a múltiplas interpretações e com uma angústia difusa, aquela que vem da constatação de não haver certezas, nem fronteiras estáveis, quando tratamos do que é humano.» (Jesper Just, 2009, p. 6)

A montagem da exposição, orientada pelas curadoras e por Jesper Just (que se deslocou propositadamente a Lisboa), ficou a cargo da equipa de montagens do CAMJAP. O projeto expositivo consistiu na reunião de cinco vídeos, que cobrem o arco temporal de 2002 a 2009 e que são referências incontornáveis no percurso do artista. Dispostos numa ordem temporal e distribuídos em paredes diferentes, o percurso expositivo obrigava os espectadores a percorrerem todo o espaço da galeria.

A exposição incluiu a videoinstalação de três filmes tematicamente interligados: A Voyage in Dwelling, A Room of One's Own e A Question of Silence (2008). Paralelamente a esta trilogia, foram integrados os vídeos: No Man Is an Island (2002), This Love is Silent (2003), Something to Love (2005) e It Will end in Tears (2006).  

Na entrada da galeria de exposições temporárias do CAMJAP, onde a exposição teve lugar, foram disponibilizados monitores com o arquivo pessoal de vídeos do artista.

Os eventos paralelos associados à exposição incluíram a organização das visitas guiadas «Domingos com arte» e «Uma obra de arte à hora de almoço», orientadas por Sofia Ponte, e da oficina para crianças jovens e famílias «Just mixed – vídeo em tempo real».

Editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em edição bilingue (português/inglês), o catálogo da exposição conta com um prefácio de Isabel Carlos, um texto de Alexandre Melo, uma entrevista de Christian Lehmann ao artista e as análises descritivas dos vídeos apresentados, da autoria de Kristine Kern. A publicação inclui igualmente stills dos filmes de Just e o seu currículo. Foi também disponibilizada na galeria da exposição uma folha de sala com uma breve análise dos vídeos apresentados e a ficha técnica da exposição. 

O acolhimento por parte da crítica especializada foi positivo, tendo sido produzidos vários artigos dedicados ao trabalho do artista na sequência da exposição. A título exemplificativo, destacamos as impressões de alguns autores.

Em relação à natureza das obras de Jesper Just, José Marmeleira sublinhou: «Com efeito, o trabalho do artista opera num jogo de espelhos e enganos, num “détournement” dirigido ao que nos é familiar nas imagens por causa da experiência e da memória que temos exactamente do cinema.» (Marmeleira, Público, 14 out. 2009) Sobre a temática geralmente abordada, o autor refere que, para lá de qualquer agenda mais crítica (nomeadamente sobre os papéis sociais atribuídos à sexualidade masculina), «Jesper Just tem um afecto especial pelas pessoas sós, pelos rostos riscados pelo tempo ou desfigurados pelas emoções. O condutor do carro de “Something to Love” não é o único que chora. Também há lágrimas na “aventura” existencial e solitária do homem de meia-idade de “It Will All End in Tears” (2006) e no jovem que, em “No Man Is an Island” (2002), recebe emocionado a dança de um homem mais velho numa praça pública» (Ibid.). Relativamente à produção do artista e à montagem da exposição, Marmeleira aponta: «Só uma coisa aborrece nas obras do artista: a dependência excessiva do “arquivo” do cinema […]. Quanto à montagem, vale a pena salientar a dificuldade do espaço em lidar com o som. Em “A Voyage in Dwelling”, por exemplo, os graves deviam ser mais discretos.» (Marmeleira, Público, 14 out. 2009)

Segundo Luísa Santos: «Há uma beleza ambígua nos trabalhos de Jesper Just.» Na opinião desta crítica de arte, os vídeos de Jesper Just lidam com uma complexidade psicológica que convida à interpretação: «Os trabalhos de Just têm uma influência assumida da estética do film noir – os dramas Hollywodescos repletos de atitudes cínicas e desenvolvimentos sexuais – e caracterizados pelos ambientes atmosféricos e narrativas abertas.» Ainda que com espaço para a interpretação, os filmes de Jesper Just «deixam uma sensação de irrealidade». A autora acrescenta: «Qualquer tentativa de encontrar explicações ou fechar as narrativas deixa o mais pragmático dos observadores com uma mão cheia de peças que quase encaixam mas não o suficiente para dar respostas concretas. E é essa a beleza dos vídeos em atmosfera de sonho de Just.» (Santos, Arte Capital, 9 out. a 18 jan. 2010)

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

out 2009 – dez 2009
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

dez 2009
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Maria Barroso
Jesper Just, Emílio Rui Vilar (à esq.), Teresa Gouveia e Isabel carlos (à dir.)
Jesper Just (à esq.), Emílio Rui Vilar (ao centro) e Teresa Gouveia (à dir.)
Maria Barroso e Isabel Carlos (esq.)
Jesper Just (à esq.), Eduardo Lourenço, Emílio Rui Vilar e Teresa Gouveia (ao centro)
Jesper Just (à esq.), Eduardo Lourenço, Emílio Rui Vilar e Teresa Gouveia (ao centro)

Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00641

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, recortes de imprensa e correspondência oficial. 2004 – 2009

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 9485

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2009

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 9484

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2009


Exposições Relacionadas

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