Exposição de pintura da artista portuguesa Ana Pimentel (1965), organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris. A exposição esteve patente ao público entre 3 de junho e 10 de julho de 2003.

«Moments d'Or» foi uma iniciativa que correspondeu à vontade de revitalizar a ação do CCCG na produção de exposições, justificando a edição de uma pequena brochura de enquadramento das obras: «As brochuras relativas às várias exposições puderam ser mais cuidadas, verificando-se um maior interesse por parte da imprensa francesa.» (Relatório Balanço e Contas 2003, 2004, p. 142)

A obra de Ana Pimentel é caracterizada por uma pluralidade de referências à cultura tradicional portuguesa, incorporando bordados, rendas e elementos que remetem para a azulejaria e fazem uso de diversos materiais e cores vibrantes.

No conjunto apresentado, segundo Francisco Bethencourt, à data diretor do CCCG, é determinante a construção de um espaço próprio, organizado de forma original: «L'invention de l'espace dans les tableaux d'Ana Pimentel n'obéit pas à un procédé ordinaire.» (Ana Pimentel. Moments d'Or, 2003, p. 1)

Em pinturas como L'Empire du Soleil (2001) e Un Lieu pour Habiter (2003), esta edificação de um espaço fictício é evidente, organizando-se a partir de um centro estruturante de onde irradiam linhas ou à volta do qual gravitam elementos que formam círculos concêntricos, como num sistema solar inventado.

A recriação do universo está também presente na obra Les Moments d'Or, trabalho de 2003 constituído por um fundo de listas cor de laranja e cinzentas, sobre as quais foram colocados pedaços recortados de papel branco que têm a função de estabelecer a comunicação entre duas formas geométricas desenhadas a preto. Estas formas geométricas, que Francisco Bethencourt apelidou de «caixas» (boîtes), remetem para uma outra realidade suspensa e cujo isolamento é interrompido: «Les boîtes suspendues symbolisent une réalité autre, superposés à un espace abstrait dont l'isolement est rompu par un lien imprévu.» (Ibid.) Improbable City Tours (2002) pertence ainda a esta forma de conceber o espaço, ao remeter para uma cidade assinalada por círculos dourados, colocados sobre áreas marcadas a preto, cinzento e branco. A criação de um jardim idílico está presente em Les Fleurs Existent (2003), representação de um espaço ajardinado, constituído por círculos metálicos que se escondem por trás de uma cortina.

É através do título dos trabalhos que se torna mais evidente a intenção da artista de invocar noções de movimento e energia, e a relação entre os vários elementos disponíveis, quando cria diferentes topografias que formam, no entanto, o mesmo universo pictural, instituído pela utilização dos mesmos materiais e cores. Além do espaço, a sexualidade é outro dos temas destes trabalhos, partindo da poesia como forma de expressar os contrastes que nela existem.

Os trabalhos remetem para o mundo emocional e privado, ao qual a artista permite acesso através das discretas inscrições que surgem nas telas e que reforçam a sua expressão.

Segundo o diretor do CCCG, os trabalhos de Ana Pimental, mais do que pretenderem exibir virtuosismo técnico, espelham os diferentes meios disponíveis, traduzindo a sua forte marca autoral: «Un tableau d'Ana Pimentel est toujours reconnaissable, indépendamment de la diversité des moyens mobilisés. C'est toujours un tableau d'auteur.» (Ibid.)

Carolina Gouveia Matias, 2019