Exposição de gravuras de Henry Moore (1898-1986), patente na Galeria do Pátio da Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, em Almada, entre 31 de março e 13 de maio de 2001. Comissariada por Ana Vasconcelos, conservadora da coleção de arte britânica contemporânea do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), a mostra resultou de uma colaboração entre a Casa da Cerca e o CAMJAP, fortalecendo a relação entre as duas instituições.

«Henry Moore. Gravuras» foi organizada no âmbito de um programa dedicado à divulgação de núcleos de desenho, tal como explicou Rogério Ribeiro, diretor da Casa da Cerca: «Desenhos que, enquanto conjuntos coesos, iluminam a obra mais vasta dos seus autores, propondo novos vectores de descoberta. Desenhos saídos da mão de pintores, de escultores, em suma, de artistas plásticos.» (Henry Moore. Gravuras, 2001)

Foram apresentadas 22 gravuras (águas-fortes e litografias) pertencentes à coleção de arte britânica contemporânea do CAMJAP, organizadas em quatro núcleos: um de gravuras, com temas mais próximos da sua escultura, e três núcleos que correspondiam aos três álbuns temáticos: Trees, Dante's Stones e The Artist's Hand.

As obras selecionadas foram realizadas nos últimos dez anos de vida de Henry Moore, artista mais conhecido pela sua prática escultórica, apesar de ser autor de um importante e largo conjunto de gravuras executadas a partir da Segunda Guerra Mundial, altura em que abandonou o desenho como mero estudo das formas tridimensionais, passando a preferir a construção de pequenas maquetas ou modelos das esculturas que viria a realizar.

Algumas das gravuras expostas ainda refletem este método de pesquisa formal, como sem título (Inv. GE431) ou o álbum Dante's Stones, em oposição às gravuras dos álbuns Trees e The Artist's Hand, que a comissária considerava já não terem muito em comum com a prática escultórica de Moore.

Um outro conjunto de trabalhos, Two Reclined Figures (Inv. GE432) e Seated Mother and Child (Inv. GE433), data do período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial e que é marcado por um estudo dos espaços que poderiam servir de contexto ou de envolvente às suas esculturas, em consonância com o gosto inglês pela paisagem e pela natureza, que remonta à infância do artista e que se reflete também no álbum Trees. Neste álbum, é claro o interesse do escultor pelas formas orgânicas – nomeadamente seixos, ossos, árvores e plantas – e a sua relação com o corpo humano e com a escultura.

Também a presença da figura feminina reclinada e da mãe com o filho são constantes na gravura de Henry Moore, solução que o escultor desenvolveu para servir o seu interesse pelas formas assimétricas e de contraste de massas. Nas palavras de Ana Vasconcelos: «O corpo da mãe, envolvendo e protegendo o do filho, torna-se caverna de um lado, escarpa aguçada e intransponível do outro, adquirindo formas que transmitem a riqueza psicológica de uma relação que Moore não se cansou de abordar no desenho, na gravura, e sobretudo através da escultura, numa riqueza e diversidade de tratamentos que a gravura GE429 apenas nos deixa entrever.» (Ibid.)

Contudo, as gravuras selecionadas para esta exposição aludiam, ainda que indiretamente, à obra escultórica de Henry Moore, uma vez que, se o conjunto exposto refletia o desejo de Moore de afastar a prática pictórica da escultórica, assumindo um papel e uma relevância independentes, podiam ainda observar-se no conjunto «imagens recorrentes dos principais temas escultóricos trabalhados – figuras reclinadas e sentadas, grupos de mãe e filho, formas antropomórficas e orgânicas» (Ibid.).

Apesar de diferentes, ambas as práticas, gravura e escultura, exploravam efeitos de luz e a influência desta na matéria, refletindo no trabalho de gravação da placa os mesmos problemas plásticos com que Moore se debatia na escultura. A sua prática pretendia a interpretação, ainda que de um modo distinto do conseguido através do desenho, da terceira dimensão numa superfície plana.

Através deste conjunto de gravuras, entendidas como instrumento de pesquisa formal, a exposição permitiu uma compreensão mais abrangente da sua linha de pensamento artístico e do seu modo de conceção da prática escultórica.

Carolina Gouveia Matias, 2019