Franz Erhard Walther. Das Neue Alphabet, 1990 – 1996

Exposição individual itinerante dedicada ao artista alemão Franz Erhard Walther (1939). Tendo sido já realizada na Alemanha, a mostra apresentou o projeto do artista O Novo Alfabeto, realizado entre os anos de 1990 e 1996, assim como uma vasta retrospetiva dos trabalhos sobre papel, realizados entre as décadas de 50 e 80.
Solo travelling exhibition dedicated to German artist Franz Erhard Walther (1939). The show had previously been held in Germanyand displayed the artist’s project “The New Alphabet”, produced between 1990 and 1996, as well as a vast retrospective of works on paper produced between the 1950s and 1980s.

Exposição itinerante do artista alemão Franz Erhard Walther (1939), que teve lugar na Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), onde foi apresentado o projeto O Novo Alfabeto, criado pelo artista entre 1990 e 1996.

Este Novo Alfabeto teria já sido mostrado no Wilhelm Lehmbruck Museum, em Duisburg (Alemanha), entre setembro e novembro de 2001. Na edição alemã, a conceção da mostra foi assegurada por Christoph Brockhaus e pelo próprio artista.

Franz Erhard Walther inicia a sua formação artística na década de 1950 e, a partir de 1962, descobre certos processos ligados aos materiais e à ação como forma de arte, que se tornariam basilares ao longo da sua carreira. Com uma obra inserida no panorama das vanguardas das décadas de 60 e 70, Walther assume como eixo conceptual do seu trabalho o papel ativo do espectador.

Nas palavras da curadora de arte Ana Ruivo, «do fazer ao cativar da forma, da linguagem ao gesto, do desenho ao objecto e à escultura em acto, a obra de Franz Erhard Walther construiu-se, desde os finais dos anos 50, num contínuo desejo de afastamento dos géneros artísticos tradicionais, assumindo a relação da obra de arte e do espectador como um só corpo performativo» (Ruivo, Expresso, 5 abr. 2003, p. 36).

A presente exposição pretendeu dar a conhecer uma vasta retrospetiva dos trabalhos sobre papel, realizados entre os anos 50 e 80, e que constituem uma introdução ao conjunto de esculturas reunidas sob o título O Novo Alfabeto – letras produzidas à escala humana, que exploram as suas diversas formas numa dimensão escultórica. Os desenhos que acompanham as letras revelam uma apropriação da linguagem e da escrita num projeto artístico contínuo.

A valorização dos processos ligados à especificidade dos materiais, nomeadamente os tecidos costurados, as ações performativas e a abordagem formal do alfabeto, é essencial para a compreensão do trabalho de Walther.

Em Lisboa, a exposição foi programada por Jorge Molder, então diretor do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, e a sua montagem coordenada por Cristina Sena da Fonseca. A mostra propôs a compreensão global de um artista já parcialmente conhecido em Portugal – participou na Bienal de Óbidos, no final dos anos 80, e nas exposições «Diálogo» (1985) e «Pinturas para o Céu» (1991), ambas organizadas na Fundação Calouste Gulbenkian.

A par da apresentação de O Novo Alfabeto, a exposição evocou os primeiros encontros e experiências do artista com o alfabeto, a impossibilidade de distinguir o desenho da escrita e a vontade de não introduzir tal distinção. Assim, foram exibidas as 26 obras que configuram O Novo Alfabeto, realizadas em pano de algodão, espuma e madeira, em conjunto com diversos desenhos e esboços do artista: 28 Wortbilder (Wordworks) datados de 1957-58; 200 Werkzeichungen (Workdrawings) de 1963 e 1974, e 34 esboços de O Novo Alfabeto, realizados entre 1990 e 1996. As técnicas utilizadas nos desenhos foram o lápis, o guache, a lapiseira, a aguarela e a tinta sobre papel.

No âmbito da exposição em Duisburg, o artista redigiu o texto de catálogo «Das Neue Alphabet muß singen», que depois de traduzido para versão portuguesa e inglesa esteve disponível em folha de sala na galeria da FCG com o título «O Novo Alfabeto deve cantar». Nesse texto, o artista introduz-nos ao âmago da sua obra, desvendando o «poder mágico» que «as formas» exerciam sobre ele.

Frank E. Walther revela o momento em que o seu interesse por letras e formas acontece: «Desde o meu primeiro envolvimento com a arte, a linguagem era um material com o qual procurava dar forma às minhas obras […]. Para mim, a linguagem como um material artístico significava tomá-la por um material, com a qual a obra pode ser formada. Contudo, esta tarefa tinha muito pouco que ver com a literatura. A partir de então, decorreu um longo período de investigação, no qual o uso da linguagem se foi modificando inúmeras vezes ao longo dos anos.» (Walther, «O Novo Alfabeto deve cantar», 2003)

Reagindo à tipografia, o artista considerava-a mais importante do que o conteúdo: «Via a caligrafia apenas como uma forma diferente de desenho.» (Ibid.) No decorrer da sua pesquisa, Walther interessou-se pela construção das letras e pelas possibilidades aparentemente infinitas no que respeita ao tipo e proporções e à sua origem. No entanto, nas palavras do artista, «o desenvolvimento histórico das letras era menos estimulante do que o significado das palavras e a influência que exerceram nestas, por um lado, a forma das letras e, por outro, as cores utilizadas em realizações meramente formais» (Ibid.).

A ideia de incluir o observador enquanto coautor da obra prendia-se com a intenção de «acabar com o conceito de obra tradicional […]. O que normalmente se considera obra, devia ser originado pelas acções […]. Para mim é claro que isso seria impossível sem um novo conceito do material. Acções-obras […] realizadas a partir do corpo inserido no tempo e no espaço» (Ibid.). Surge então a necessidade de encontrar uma linguagem apropriada para o seu trabalho: «Cheguei a um vocabulário específico que se tornou uma linguagem de trabalho específica.» (Ibid.) Depois de alguns ciclos de trabalho, o artista confluía sempre na mesma premissa: «[…] as formas referiam-se às letras ou podiam ser associadas a estas. Comecei a intensificar esta tendência e procurei desenvolver um alfabeto completo.» Após um período de desenvolvimento da ideia, num processo contínuo de experimentação plástica que durou cerca de seis anos, Franz Erhard Walther encontrou a formulação desejada: «Ao ciclo de obras composto por formas pictóricas e escultóricas de linguagem dei a designação de Das Neue Alphabet.» (Ibid.)

Sobre a ação do corpo implicada na obra, Jorge Molder escreve: «O corpo é central porque inventa letras, desenha-as, dá-lhes sentido e som, recupera-as, lê-as, repete-as, reinventa-as. As obras de arte, as esculturas, são o desenrolar destes momentos. […] [O artista] desde sempre desenhou alfabetos que configuram acções, desde sempre criou com novas acções novos alfabetos.» (Molder, [Franz Erhard Walther], 2003)

De igual modo, Ana Ruivo refere o espectador como o agente de uma potencial situação artística: «É mediante a acção do espectador que a obra ganha forma e é através da sua experimentação que aquele a integra, tornando-se, ele próprio, escultura.» (Ruivo, Expresso, 5 abr. 2003, p. 36)

Para cada apresentação do Alfabeto, Walther procede a um estudo rigoroso dos condicionalismos locais, o que significa que cada uma das peças pode admitir diversos modos de exposição, garantindo uma dinâmica permanente.

Perante o espaço da Sede da FCG, o artista procedeu à readaptação do projeto museográfico. À entrada da galeria, numa parede central e nas paredes transversais, foram distribuídos os diversos desenhos (densamente legendados) que documentavam as ações performativas e os estudos das peças. Seguidamente, abria-se a grande sala de exposições, onde, numa nave única (apenas cortada por uma parede estrutural final), tinha lugar a totalidade de O Novo Alfabeto.

Como atividades complementares, foram organizadas várias visitas guiadas à exposição, bem como o ateliê para crianças o «Abecedário colorido». A orientação de ambas as atividades ficou a cargo de Ana Alvelos.

O catálogo – uma edição trilingue, em alemão, inglês e francês – foi comum às exposições de Lisboa e Duisburg. A publicação inclui os textos de Christoph Brockhaus e de Franz Erhard Walther e o currículo do artista, sendo extensamente documentada com a reprodução de desenhos, imagens, projetos e fotografias do Alfabeto.

A exposição alcançou uma repercussão positiva na imprensa. A título exemplificativo, recolhemos a impressão do crítico e curador de arte João Pinharanda: «Esta exposição, que cobre mais de 40 anos do seu trabalho, é não só historicamente indispensável como nos oferece um dos mais agradáveis lugares da actualidade lisboeta.» E continua: «Se a dinâmica e a clareza dos desenhos que fazem a entrada da sala nos podem dispor bem, as esculturas que se seguem são um desafio lúdico e de inteligência sensível – quer visual, quer mesmo fonética.» (Pinharanda, Público, abr. 2003, pp. 12-13)

Sobre a obra do artista, Pinharanda acrescenta: «Estas esculturas concretizam a maturação do pensamento plástico de Walther, sintetizando, na pesquisa sobre a letra/palavra, outra pesquisa mais vasta sobre o estatuto da escultura, os materiais, o espaço, o corpo do artista e o do espectáculo.» (Ibid., p. 13)

A exposição registou uma considerável afluência de público, como se regista no Relatório de Execução da FCG: «Em particular, salienta-se a adesão conseguida pela exposição “O Novo Alfabeto – Franz Erhard Walther” (29 mil visitantes).» (Relatório de Execução 2003, 2004, p. 52)

Joana Brito, 2019

Touring exhibition by the German artist Franz Erhard Walther (1939), held in the Main Building of the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG), in which he presented The New Alphabet, a project created by the artist between 1990 and 1996.  

This New Alphabet had already been exhibited at the Wilhelm Lehmbruck Museum in Duisburg (Germany) from September to November 2001. The German showing of the exhibition was designed by Christoph Brockhaus and the artist himself.

Franz Erhard Walther began training as an artist in the 1950s. From 1962, he started to explore processes linked to materials and action as a form of art, which would become defining features of his work throughout his career. Aligned with the avant-garde movements of the 1960s and 70s, Walther’s work places an emphasis on the active participation of the viewer.

In the words of art curator Ana Ruivo, “from making to capturing the shape, from language to gesture, from drawing to object to sculpture in action, from the 1950s onward, the work of Franz Erhard Walther draws on a constant desire to distance himself from traditional artistic forms, foregrounding the relationship between artwork and audience as a singular performative body” (Ruivo, Expresso, 5 Apr 2003, p. 36).

This exhibition aimed to showcase a vast body of works on paper, produced between the 1950s to the 1980s, which provide an introduction to a sculptural series entitled The New Alphabet – an ABC on a human scale, which explores letter forms through sculpture. The drawings that accompany the letters reveal how language and the written word are harnessed as part of an ongoing artistic project.

To understand Walther’s work, we must consider how he foregrounds processes related to the physical properties of specific materials - in particular sewn textiles – and performative actions, as well as his fixation with letter forms.

In Lisbon, the exhibition was programmed by Jorge Molder, then director of the Calouste Gulbenkian Foundation Modern Art Centre and its setting was coordinated by Cristina Sena da Fonseca. The exhibition offered an insight into an artist who already had a certain profile in Portugal, having participated in the Óbidos Biennale in the late 80s and in the exhibitions “Diálogo” (Dialogue) (1985) and “Pinturas para o Céu” (Paintings for the Sky) (1991), both organised by the FCG.

As well as presenting The New Alphabet, the exhibition also evoked the artist’s first encounters and experiences with the alphabet, the impossibility of separating drawing from the written word and the will to avoid such distinctions. Therefore, several drawings and sketches by the artist were exhibited alongside the 26 cotton, foam and wood pieces that made up the New Alphabet: 28 Wortbilder (Wordworks) dating from 1957-58; 200 Werkzeichungen (Workdrawings) from 1963 and 1974, and 34 sketches for The New Alphabet, produced between 1990 and 1996. The mediums used in the drawings are pencil, gouache, mechanical pencil, watercolour and ink on paper.

To mark the exhibition in Duisburg, the artist wrote the catalogue text “Das Neue Alphabet muß singen”, which was later translated into Portuguese and English and made available on paper handouts in the FCG gallery under the title “The New Alphabet must sing”. In this text, the artist introduces us to the essence of his work, revealing the “magical power” that “the forms” hold over him.

Frank E. Walther reveals the moment when his fascination with letters and forms began: “From the time I began exploring art, language was a material with which I sought to shape my works […]. For me, language as an artistic medium implied seeing it as a modelling material with which the work can be shaped. But that enterprise had and has little to do with literature. Since then, it has become a long-term investigation in the course of which the use of language has changed a number of times through the years.” (Walther, “The New Alphabet must sing” 2003)

On the subject of typography, the artist considered it to be of greater importance than content, via handwriting, “only as a different form of drawing” (Ibid.). In the course of his exploration, Walther became interested in the construction of letters, their seemingly infinite possibilities in terms of type and proportion and their origin. However, in the words of the artist, “the historical development of the letters was less exciting than the meanings of the words and the influence on them of the shapes of the letters and the colours used in putting them to paper as a formal subject” (Ibid.).

The idea of inviting the audience to participate as co-authors of the works represented an effort to, “break up the traditional notion of the work. What we call works were to be generated in actions […]. I realised that this would be impossible without a different concept of material. Work actions performed with the body in time and space” (Ibid.). He therefore needed to find appropriate language for his work: “I arrived at a specific vocabulary, which then became an artistic language.” (Ibid.) After a few cycles of work, the artist always returned to the same premise: “[…] the forms related to letters or were capable of being associated with them. I began to amplify this tendency and sought to develop a complete alphabet.” After a period spent developing the idea, a process of constant artistic experimentation that lasted almost six years, Franz Erhard Walther found the formula he was searching for: “The work cycle as pictorial sculptural forms of language. It was given the name of Das Neue Alphabet (The New Alphabet).” (Ibid.)

On the action of the body as part of the work, Jorge Molder writes: “The body is central because it invents letters, it draws them, it gives meaning and sound to them, it retrieves them, repeats them reinvents them. The artworks, the sculptures, are the unfolding of these, moments. […] [Artists] have always drawn new alphabets that shape actions, with new actions they have always created new alphabets.” (Molder, [Franz Erhard Walther], 2003)

Similarly, Ana Ruivo refers to viewers as active agents in potential artistic events: “It is through the action of the spectators that the work takes on form and through their experimentation that they shape it, themselves becoming a sculpture.” (Ruivo, Expresso, 5 Apr 2003, p. 36)

Prior to each showing of the Alphabet, Walther carried out a thorough survey of the conditions of the specific site, meaning that each piece can be displayed in several ways, adding to the dynamism of the exhibition.

The artist tailored the exhibition design to the available space in the FCG. At the entrance to the gallery, the central and transverse walls featured various drawings (with lengthy captions), documenting performative actions and studies for the works themselves. This then opened onto the large exhibition room in which The New Alphabet was displayed in its entirely, in a single undivided space (broken only by a structural wall at the rear).

A series of guided tours was held to accompany the exhibition, in addition to a children’s workshop entitled “Abecedário colorido”. Ana Alvelos was responsible for organising both activities.

The catalogue – a trilingual publication in German, English and French – was shared by the Lisbon and Duisburg exhibitions. The volume included texts by Christoph Brockhaus and Franz Erhard Walther and a biography of the artist, in addition to a wealth of documents, including reproductions of the drawings, images and plans and photographs of the Alphabet.

The exhibition received a positive reception in the press. To quote one review by art critic João Pinharanda: “This exhibition, which spans over 40 years of his work, it not only unmissable in historical terms, but also offers one of the most enjoyable spaces in Lisbon right now.” He goes on to say: “While the energy and clarity of the drawings that mark the entrance to the exhibition put us in the right frame of mind, the sculptures that follow are playfully challenging and sensitively intelligent – not just in visual terms, but also phonetically.” (Pinharanda, Público, Apr 2003, pp. 12-13)

On the work of the artist, Pinharanda adds: “These sculptures show the maturity of Walther’s artistic thinking, using their investigation of the letter/word as a means of asking broader questions about the status of sculpture, material, space, the artist’s body and performance.” (Ibid., p. 13)

The exhibition welcomed a large number of visitors, as stated in the FCG Execution Report: “In particular, we must highlight public interest in the exhibition “O Novo Alfabeto” (The New Alphabet) – Franz Erhard Walther” (29 thousand visitors).” (2003/2004 Execution Report, p. 52)


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00522

Pasta com documentação referente à produção da exposição. 2003 – 2003

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 109205

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2003


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