Prémio de Artes Plásticas União Latina 2000

Prémio Bienal de Artes Plásticas União Latina

Exposição integrada na sexta edição do Prémio Bienal da União Latina. Com o objetivo de promover e divulgar a arte portuguesa e latina de jovens artistas, esta edição do concurso consagrou ex-aequo os artistas João Onofre e Rui Toscano, exibindo também trabalhos de Noé Sendas e Leonor Antunes.
Exhibition included in the 6th Latin Union Biennale Prize. The show sought to promote and disseminate the art of young Portuguese and Latin artists, with works by shared prize-winners João Onofre and Rui Toscano, in addition to works by Noé Sendas and Leonor Antunes.

Em 1990, por iniciativa da União Latina, constituiu-se o prémio bienal dedicado à pintura, com o intuito de incentivar e divulgar a arte portuguesa e latina, à data ainda com pouca repercussão lá fora.

Em 1996, deu-se início a uma nova etapa do prémio, alterando-se o seu regulamento e funcionamento, a fim de que fossem integradas outras disciplinas plásticas, como a fotografia, a escultura e o vídeo. A partir daquele ano, a designação do evento passou a ser «Prémio de Artes Plásticas União Latina». Em todas as edições do prémio, a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e a Caixa Geral de Depósitos (Culturgest) surgem associadas à iniciativa.

De acordo com o regulamento, o prémio realizava-se em duas fases. Numa primeira fase, o júri nacional, constituído por cinco críticos portugueses da área das artes plásticas, tinha por objetivo identificar quatro artistas que, nos anos anteriores, tivessem desenvolvido uma atividade relevante. Os artistas selecionados eram convidados a apresentar a sua obra numa exposição coletiva, patente na FCG ou na Culturgest. Na segunda fase, o júri de premiação, composto por críticos de diferentes nacionalidades, escolhia o premiado com base na exposição (Regulamento. União Latina, 2000, Arquivo Digital Gulbenkian, ID: 157047).

O Prémio de Artes Plásticas União Latina visava a atribuição de 1 500 000$00 (um milhão e quinhentos mil escudos) ao vencedor, que beneficiava também de uma maior divulgação e reconhecimento na cena artística nacional e internacional.

Não foram organizadas exposições para a atribuição dos prémios de 1990 e de 1992. A exposição de 1994 teve lugar na Culturgest e, em 1996, pela primeira vez, a edição do prémio foi organizada nas galerias da Fundação, repetindo-se em 2001, edição que agora analisamos.

Nesta perspetiva, o júri de seleção da edição de 2001 foi composto pelos críticos Delfim Sardo, David Santos, Nuno Faria, Alexandre Melo e João Pinharanda, que deliberaram por unanimidade selecionar os seguintes finalistas ao prémio: João Onofre (1976), Leonor Antunes (1972), Noé Sendas (1972) e Rui Toscano (1970).

Ao dar-se início à segunda fase da atribuição do prémio, os artistas então selecionados participaram numa exposição coletiva na Fundação Calouste Gulbenkian, organizada e produzida pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), com coordenação-geral de Jorge Molder (diretor do CAMJAP) e Maria Renée Gomes (diretora do escritório de Lisboa da União Latina). A mostra esteve patente no piso 01 da Sede da Fundação entre 8 de maio e 1 de julho de 2001.

Os trabalhos apresentados foram: o vídeo Instrumental Version, de João Onofre; duas peças de Rui Toscano, a escultura sonora Whistling in the Dark e o vídeo My Bloody Valentine; a escultura Wanderer e o vídeo Nameless, de Noé Sendas; e a peça Debaixo do Mesmo Tecto, de Leonor Antunes. No âmbito da exposição, a peça Instrumental Version, de Onofre, foi incorporada na coleção do Centro de Arte Moderna da FCG.

A mostra e o catálogo cumpriam o objetivo de apresentar as obras dos artistas selecionados, ponto a partir do qual se exerceu o trabalho do júri de premiação, composto por Jorge Molder, Vicente Todolí (diretor do Museu de Serralves) e pelos críticos e comissários Rosa Martínez, Teresa Macri e Thierry de Duve.

Conforme se lê na anotação de Jorge Molder em correspondência interna: «A atribuição do Prémio será no próximo dia 8 de Maio, por ocasião da inauguração da exposição, sendo a mesma visitada da parte da manhã pelo júri internacional que seguidamente reunirá para decisão. À tarde, no mesmo dia, haverá uma conferência de imprensa para a Comunicação Social assim como uma visita da mesma à exposição.» (Apontamento de Jorge Molder, 28 mar. 2001, Arquivo Digital Gulbenkian, ID: 157047)

Enquanto diretor do CAMJAP, Jorge Molder teve a possibilidade de ver em fase de montagem alguns dos trabalhos apresentados a concurso, ao contrário dos restantes membros do júri, cujo primeiro contacto com as obras se deu apenas no dia de inauguração da exposição.

A qualidade das obras apresentadas levou a um exame «bastante demorado», de acordo com declarações de Jorge Molder ao jornal Público: «As obras foram vistas e revistas, discutidas e debatidas (por duas vezes) sem que se chegasse a conclusão alguma.» (Rato, Público, 9 mai. 2001) Thierry de Duve explicaria na mesma ocasião que, «quanto mais se discutia, mais a dificuldade de escolha se sentia» (Ibid.). Molder justificou essa dificuldade tendo em conta a qualidade estética e formal dos trabalhos apresentados: «Não há aqui artistas ingénuos, são pessoas que conhecem bem a história da arte e apresentam peças que colocam problemas muito grandes.» (Ibid.)

Sentiu-se por isso necessidade de recorrer a uma segunda volta de apreciação dos trabalhos e reunião de júri. A notícia veio a ser revelada já depois da hora marcada para a conferência de imprensa. Pela primeira vez, o Prémio União Latina foi entregue ex aequo a dois artistas: João Onofre e Rui Toscano. Thierry de Duve comentou a atribuição do prémio: «Num sumário, podemos dizer que escolhemos o Onofre pela sua frontalidade e clareza e o Toscano pela sua subtileza.» (Rato, Público, 9 mai. 2001) Por outro lado, deixando perceber que, num ou noutro momento, Leonor Antunes e Noé Sendas também foram candidatos com fortes possibilidades de seleção, Thierry de Duve referiu: «É muito difícil depreender implicações éticas, estéticas e humanas a partir apenas de uma obra. […] Mudei de ideias várias vezes, todos são muito fortes.» (Ibid.)

Como sublinhou Vanessa Rato: «O facto de se abrir o precedente de um prémio ex aequo pode ter várias interpretações. No caso da sexta edição do Prémio União Latina, isso é apenas mais uma prova da dificuldade, imediatamente confessa, que o júri internacional teve em nomear vencedores a partir da análise de sete trabalhos de “assinalável qualidade” de quatro jovens artistas plásticos.» (Ibid.)

Em artigo publicado no DN, Paula Lobo registaria: «Elogiando a “assinalável unidade de todos os trabalhos presentes”, Jorge Molder […] explicou então que foram necessárias várias avaliações e discussões para “verificar os méritos relativos”, e lembrou que os não premiados – Noé Sendas e Leonor Antunes – “são dois artistas amplamente conhecidos e tiveram igualmente o nosso reconhecimento.» (Lobo, Diário de Notícias, 9 mai. 2001, p. 41)

Sobre os artistas premiados, Alexandre Oliveira comentou: «Superando – ou elidindo até – o âmbito tradicional das chamadas artes plásticas, as obras dos vencedores possuem uma forte componente de vídeo e som, com manifesto recurso ou inspiração na chamada música pop. O Júri do concurso […] foi assim sensível à influência da cultura urbana popular mais alternativa.» (Oliveira, Diário do Sul, 11 mai. 2001)

Durante o período em que esteve patente, a mostra contou com várias visitas guiadas, conduzidas por Sandra Vieira Jürgens.

O catálogo da exposição, de edição bilingue (português/espanhol), foi publicado conjuntamente pela FCG e pela Caixa Geral de Depósitos. Integrou textos assinados por Jorge Molder, Bernardino Osio (secretário-geral da União Latina) e António de Sousa (presidente do Conselho da Administração da CGD), bem como a biografia dos artistas, a lista de obras apresentadas e a respetiva reprodução.

O acolhimento por parte dos meios de comunicação social foi positivo, tendo a imprensa escrita feito uma cobertura alargada da iniciativa, do concurso e da atribuição do prémio.

Para Vanessa Rato, em Instrumental Version, de João Onofre, «o problema que se coloca relaciona-se directamente com a história das vanguardas na arte, considerando-se, nesse sentido, a manipulação dos seus legados, e explorando-se, por outro lado, a questão da industrialização ou mecanização do corpo humano e das suas qualidades intrínsecas» (Rato, Público, 9 mai. 2001).

«[…] o Coro de Câmara da Universidade de Lisboa interpreta uma avassaladora versão do tema “The Robost” […] de Kraftwerk, que na década de 70 liderou o momento em que a música electrónica entrou no domínio da cultura popular […]. Mas não é apenas na tonitruante e surpreendente transcrição para voz dos instrumentais que reside o poder deste trabalho. É também na afirmação dessas mesmas vozes como instrumentos – tanto através do tema como do título escolhido para a obra.» (Rato, Público, 9 mai. 2001)

Sobre Rui Toscano, Vanessa Rato considerou que a peça Whistling in the Dark (composta por paralelepípedos de dimensões e cores variáveis e por um radiogravador portátil que difundia as notas de um assobio) espelhava questões em que «é a escultura e a questão do formalismo na arte que estão em reflexão». Quanto ao vídeo My Bloody Valentine, «Toscano continua a explorar uma relação íntima com o universo pop-rock e os imaginários a ela associados» (Ibid.)

Na crítica que dedica à exposição, Celso Martins destacou: «A edição deste ano é marcada por uma maior juvenilidade dos concorrentes e pela exiguidade expositiva de alguns deles, o que remete a distinção para um perfil de prémio de revelação.» (Martins, Expresso, 11 nov. 2000)

Os artistas premiados da edição de 2000, João Onofre e Rui Toscano, sucediam a um alargado conjunto de artistas portugueses que já tinham sido galardoados com o Prémio União Latina, nomeadamente: Patrícia Garrido (laureada na edição de 1998, Culturgest), Rui Chafes (edição de 1996, FCG), Marta Wengorovius (edição de 1994, Culturgest), Pedro Proença (edição de 1992) e Pedro Calapez (distinguido em 1990).

Em edições posteriores, o Prémio de Artes Plásticas da União Latina distinguiria Filipa César (2002, Culturgest), Bruno Pacheco (2004, FCG) e André Guedes (2006, Culturgest). Após um interregno, motivado por falta de verba, o prémio seria retomado em 2011, cumprindo a sua décima edição.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Instrumental Version

João Onofre (1976-)

Instrumental Version, 2001 / Inv. IM18

Instrumental Version

João Onofre (1976-)

Instrumental Version, 2001 / Inv. IM18


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Prémio de Artes Plásticas União Latina 2000]

19 mai 2001 – 30 jun 2001
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00495

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém regulamento do Prémio, documentação sobre a União Latina, biografias dos artistas, correspondência oficial e recortes de imprensa. 1999 – 2001

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 109152

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2001


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