Banda Desenhada Portuguesa. Anos 40 – Anos 80

Ciclo «BD. Cinema e Espectáculos»

Exposição dedicada à banda desenhada (BD), a segunda de duas exposições sobre a história da «nona arte» em Portugal. Em complemento à mostra, realizou-se o Ciclo «BD. Cinema e Espectáculos», que explorou as relações entre a BD e outras expressões artísticas.
Exhibition dedicated to comic art; the second of two shows dedicated to the history of the “ninth art” in Portugal. The “Comic Art. Cinema. Shows” series of events ran concurrently with the exhibition and explored the relationship between comic art and other art forms

A exposição «Banda Desenhada Portuguesa, Anos 40 – Anos 80» inaugurou a 10 de fevereiro de 2000, ficando patente até 16 de abril do mesmo ano. Consistiu na continuação natural da mostra «Banda Desenhada Portuguesa, 1914-1945», igualmente realizada na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), três anos antes. Ambas foram apresentadas na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01), com organização do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP). Os dois projetos foram comissariados por uma dupla de estudiosos da história da banda desenhada (BD): Carlos Bandeiras Pinheiro e João Paulo Paiva Boléo.

No seu conjunto, estas duas exposições levaram a cabo um levantamento panorâmico bastante exaustivo do fenómeno da BD em Portugal. Privilegiaram os imensos fatores histórico-culturais na base dessa expressão artística, desde os seus antecedentes artísticos na caricatura e na ilustração moderna à construção paulatina de uma autonomia enquanto campo demarcado de criação plástica e literária. Jorge Molder, diretor do CAMJAP que programou ambos os eventos, abre o catálogo da mostra de 2000 realçando como ela permitia acompanhar a chegada da BD a essa maturidade de estatuto próprio (Banda Desenhada…, 2000, p. 7).

Com efeito, as quatro décadas em foco nesta segunda exposição foram cruciais para a libertação da BD de certos grilhões e preconceitos. É durante esse período que se começa a antever para ela um lugar consolidado no cômputo das restantes artes. O epíteto «nona arte» começa de facto a ganhar cabimento nesses anos, e o contexto português, como estas exposições bem manifestaram, pode chamar a si responsabilidades nesse particular.

Profusamente ilustrado, o catálogo de exposição está organizado em três capítulos temáticos: «Aventura», «Humor» e «Raízes da renovação». Todas com longas introduções de Boléo e Pinheiro, essas secções permitem antever as prioridades curatoriais que compilaram os quarenta anos de BD abordados.

As reproduções fotográficas distribuídas por todo o catálogo indiciam que terão sido expostos mais de 250 desenhos originais, desde pranchas e tiras de BD, a cartoons, cartazes e capas de edições. Os Arquivos Gulbenkian guardam também formulários de obras extracatálogo. Destaque para uma seleção de cinco dos curiosos funis da autoria de Sam [Samuel Torres de Carvalho] (1931-1993), objetos humorísticos que estão entre os muitos concebidos pelo cartoonista. Outras peças possivelmente expostas foram estatuetas em barro do mesmo autor, representando algumas das suas principais personagens (Arquivos Gulbenkian, CAM 00441).

Para a reunião do volumoso acervo exposto, contribuíram imensos emprestadores, em especial vários dos autores expositores, bem como as famílias detentoras dos espólios de artistas já falecidos. Contam-se também alguns organismos institucionais entre as entidades que cederam obras, nomeadamente o Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem da Amadora, a Biblioteca Nacional de Portugal e a Hemeroteca Municipal de Lisboa.

No âmbito desta exposição foram programadas quatro visitas orientadas a cargo dos comissários, nomeadamente nos dias 12 de fevereiro, 12 e 25 de março e 9 de abril de 2000. Já após o encerramento da mostra, o CAMJAP promoveu o Ciclo «BD. Cinema e Espectáculos», em conjunto com vários organismos da FCG que, à data, já se encontravam aglutinados no próprio CAMJAP, nomeadamente o Serviço de Animação Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE), o CAI (Centro Artístico Infantil da FCG) e o CITEN (Centro de Imagem e Técnicas Narrativas do CAMJAP), que em 2006 seria integrado no CIEAM – Centro de Investigação e Estudos em Arte e Multimédia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. A esses departamentos internos associou-se ainda a contribuição externa da Cinemateca Portuguesa e da Embaixada do Canadá. As rádios Antena 1, Antena 2 e a RPL – Rádio Paris-Lisboa também inscrevem o seu logótipo nos apoios a esta iniciativa (Ciclo «BD. Cinema e Espectáculos» [Programa], 2000, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00650).

As várias atividades do ciclo decorreram integralmente na Sala Polivalente do CAMJAP. João Paiva Boléo e Carlos Bandeiras Pinheiro, comissários das mostras, foram consultores da vertente cinematográfica, colaborando com Rui Leote, que coordenou a programação. Exibida entre 27 de abril e 20 de maio de 2000, a seleção de filmes de ficção e filmes-documentário primou pelo ecletismo face à matéria em foco.

Essa heterogeneidade contribuiu seguramente para a consideração de vários aspetos críticos levantados por Boléo e Pinheiro no texto que assinam para o prospeto que acompanhou esta iniciativa. Os dois autores aproveitaram o espaço que lhes foi concedido na edição da FCG para acentuar, com pertinência, o modo como a relação entre a BD e o cinema deve ser sempre alvo de uma análise histórico-cultural cuidada e consciente de algumas associações mais facilitistas. Refletem inclusivamente como o próprio cinema de animação joga aí um papel de análise complexa (Ibid., pp. 2-4)

Na parte dedicada às artes performativas, o ciclo dividiu-se entre a dança e o teatro. No primeiro grupo, registam-se duas peças ocorridas ambas a 5 e 6 de maio de 2000: E-ultra, pela Companhia MK, e o solo Station Kautschuk, de Heini Nukari (Ibid., pp. 20-22). A 12 e 13 do mesmo mês, esteve em cena o espetáculo teatral 4 Portas para 6 Heróis, protagonizado por João Garcia Miguel, Francisco Camacho, Lúcia Sigalho, Carlota Lagido e Luís Castro (Ibid., pp. 23-26). Essa encenação decorreu de um convite direto do ACARTE aos autores/intérpretes (Ibid., pp. 1, 19, 23).

Após o fecho de «Banda Desenhada Portuguesa, Anos 40 – Anos 80», algumas das obras viajaram para a Bedeteca de Lisboa, que as conduziria à mostra «Le Portugal en Bulles: Panorama Historique de la Bande Dessiné Portugaise», organizada no Centre Belge de la Bande Dessiné, Bruxelas.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Banda Desenhada Portuguesa, Anos 40 – Anos 80]

12 fev 2000 – 9 abr 2000
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal
Programa cultural

Ciclo BD. Cinema e Espetáculos

27 abr 2000 – 13 mai 2000
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00440

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite; correspondência com comissários, artistas expositores e emprestadores; autos de empréstimo e informações sobre seguros e conservação das peças. 1998 – 2002

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00441

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência com comissários, artistas expositores e emprestadores. Inclui autos de empréstimo e informações sobre seguros; edição de postais oferecido por um emprestador. 1999 – 2002

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00442

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa. 1999 – 2000

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00443

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa; autos de empréstimo e informações sobre seguros; orçamentos; material de produção do catálogo de exposição. 1999 – 2000


Exposições Relacionadas

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2021 – 2022 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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