Manfredo de Souzanetto

Exposição do artista brasileiro Manfredo de Souzanetto (1947), apresentando cerca de duas dezenas de trabalhos dos anteriores dez anos da sua produção artística, reminiscente dos movimentos concreto e neoconcreto emergentes no Brasil durante as décadas de 1950 e 1960.
Exhibition of work by Brazilian artist Manfredo de Souzanetto (1947), featuring around 20 works from the preceding ten years of the artist’s career, reminiscent of the emerging concrete and neoconcrete movements in Brazil during the 1950s and 1960s.

Iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), inaugurada a 6 de novembro de 1994, na Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP.

Exposição centrada na produção artística dos dez anos anteriores, cujo enfoque terá sido uma tentativa de aproximação de Souzanetto às suas origens, numa perspetiva poética, antropológica e geográfica. Esta relação dialética entre história e origem é assumida, num primeiro momento, a partir de imagens de fragmentação do homem e da paisagem, a que se segue um período de experimentação de suportes e geometrias. À época da exposição, o artista estava interessado nas questões de emancipação do objeto poético, regressando à paleta de alguns dos seus trabalhos iniciais e centrando-se no estabelecimento de uma relação entre a arte e a vida, o mundo quotidiano.

Consequentemente, Souzanetto trabalha igualmente questões que se prendem com os limites dos suportes artísticos, especificamente da pintura, recusando a sua compartimentação e trabalhando superfícies que tanto são esculturas como pinturas. Recuperando as palavras de Agnaldo Farias: «Não é que cada obra de Souzanetto represente uma paisagem: cada obra é em si uma paisagem. Cada obra é um território de pequenas dimensões com contornos específicos e que uma vez fixada na parede, graças exactamente à sua singularidade formal e à concretude das cores, transborda de seus limites, incorporando-a e perturbando sua frontalidade rígida e vertical.» (Manfredo de Souzanetto, 1994)

Nas obras do artista é visível uma das preocupações centrais das vanguardas da segunda metade do século XX, que se manifesta na recusa da excessiva e rígida compartimentação dos géneros artísticos. Manfredo de Souzanetto, ainda que não abdique do gesto pictórico, ao qual garante volumetria, evita as limitações geralmente atribuídas ao objeto artístico, trabalhando numa confluência de dinâmicas em que explora desde o abstracionismo geométrico ao abstracionismo informal ou lírico, integrando-se de forma natural nas linguagens derivadas dos anos 50 e dos anos 60, ditadas, no contexto brasileiro, pelo concretismo e pelo neoconcretismo. Assinale-se que as marcas e tensões do concretismo e neoconcretismo na obra de Souzanetto se orientam de modo convergente, manifestando-se, por um lado, na racionalidade, na homogeneidade pictórica dos objetos visuais, na ideia de unidade rítmica, e, por outro, na ideia da experiência – ao invés de se esgotarem no olhar do espectador, vão para além do «simples meio físico de uma construção mental» (Ibid.).

A exposição foi acompanhada por um catálogo, cuja conceção ficou entregue ao próprio artista, como prova uma carta endereçada a Jorge Molder, à época curador do CAMJAP, e datada de 7 de março de 1994, inquirindo sobre o prazo de entrega dos materiais do catálogo, nomeadamente o lay out e o texto, a cargo de Agnaldo Farias (Arquivos Gulbenkian, CAM 01096).

Por sua vez, a exposição apresentada em Lisboa suscitou o interesse da Galerie Ruta Correa, representante do artista na Alemanha, empenhada em promover uma itinerância naquele país. Numa carta enviada a Manfredo de Souzanetto por Ruta Correa, a 6 de dezembro de 1992, Ruta refere o interesse da Bonner Kunstverein em fazer uma exposição dedicada ao artista brasileiro. Todavia, não há confirmação sobre a realização da mesma.

Inicialmente agendada para o período entre 25 de outubro e 27 de novembro de 1994, a exposição seria inaugurada já no dia 6 de novembro.

Patrícia Simões, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01096

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentos de transporte e despesas, lista de obras e correspondência. 1992 – 1994

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/044-D02933

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1994


Exposições Relacionadas

Aparício

Aparício

1984 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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