Em 1991, José Afonso Furtado (1953) e Maria Velho da Costa (1938-2020) publicam o livro Das Áfricas, uma meditação visual e semântica sobre os contornos históricos e culturais da presença portuguesa em África. Conjugava a reprodução de 50 fotografias de Furtado com textos de caráter diarístico da escritora, discorrendo sobre as imagens. Essa edição acompanhou uma exposição na Galeria Cómicos, em Lisboa.

Seis anos depois, seria a vez de a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) organizar uma exposição com base nesse projeto, conduzindo-o até ao Centre Culturel Calouste Gulbenkian de Paris. A mostra inaugurou na capital francesa a 21 de outubro de 1997, com as fotografias arquivadas a revelarem uma grande afluência de público (Arquivos Gulbenkian, PRS 05378). O Relatório Balanço e Contas da FCG para o ano de 1997 refere a apresentação dessa «colecção já publicada em livro (Das Áfricas, 1991), mas aumentada de novos trabalhos até então inéditos» (Relatório de Balanço e Contas. FCG. 1997, 1998, p. 187).

Totalmente a preto-e-branco, este trabalho fotográfico de Furtado (realizado entre 1988 e 1990) traz-nos os séculos do processo colonial já consignados à sua condição de vestígio patrimonial. Não raras vezes, as arquiteturas, integradas na aridez da paisagem e sem pessoas por perto, emanam um decadentismo romântico que a envolvente natural reveste de excecional melancolia. A série completa conta com mais de 100 registos, dos quais se voltaria a fazer uma seleção de 33 imagens (entre elas seis ainda inéditas) para integrarem, em 1999, as itinerantes do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da FCG, então dirigido por Vasco Graça Moura (Arquivos Gulbenkian, SBAL 01394, SBAL 01395 e SBAL 01397).

Mais recentemente, o livro Das Áfricas, ligado a todas estas iniciativas, seria alvo de duas recensões: uma em 2005 (Buescu, «O tempo longo da história: Das Áfricas», Rivista di Studi Portoghesi e Brasiliani, VII, 2005) e outra em 2010 (Carvalho, «Das Áfricas: Le regard de Maria Velho da Costa sur les paysages photographiques de José Afonso Furtado», Hommes et Paysages, CREPAL. Cahier n.º 16, 2010). A edição encontra-se atualmente disponível para consulta na Biblioteca de Arte da FCG, da qual Furtado foi diretor entre 1992 e 2011. À data da sua publicação essa edição tinha contado, a par da tiragem normal, com duas outras: uma edição limitada de 100 exemplares, numerados e assinados por Furtado, e uma outra, de apenas 15 exemplares, acompanhados por três provas fotográficas originais assinadas pelo autor (Das Áfricas, 1991).

Daniel Peres, 2019