Manuel Amado. La Grande Crue. Peinture

Exposição individual de pintura do arquiteto Manuel Amado (1939-2019). Nesta mostra foram expostas 13 pinturas de uma série realizada em 1996, em que são representadas paisagens arquitetónicas em que a estrutura e a harmonia são agitadas por uma grande inundação.
Solo exhibition of paintings by architect Manuel Amado (1939). The show featured 13 paintings from a series produced in 1996 depicting architectural landscapes whose structure and harmony have been disturbed by a great flood.

«Manuel Amado. La Grande Crue. Peinture» foi o título da exposição de pintura de Manuel Amado (1939-2019), organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), em Paris, patente entre 16 de janeiro e 6 de março de 2001.

Tal como o nome indica, a exposição foi constituída por pinturas que retratam cenários de interior e exterior por onde teria passado uma grande inundação: uma série de treze pinturas realizadas em 1996, todas a óleo sobre linho e de dimensões díspares, que, até ao momento da exposição, eram desconhecidas do público, algo que não era habitual na prática do artista, que sempre expôs com intervalos temporais curtos em relação à data de conclusão das suas obras.

Este conjunto, no entanto, parte de uma situação particular e que, segundo Fernando António Baptista Pereira, professor da Escola de Belas-Artes de Lisboa e diretor do Museu de Setúbal, justifica a resistência de Manuel Amado em revelar o seu trabalho: a comoção provocada pelas inundações que assolaram Portugal no inverno de 1995-1996 e que conferiam a estas pinturas um eventual efeito perturbador.

São pinturas de espaços arquitetónicos meticulosamente retratados, de onde a figura humana é excluída. No entanto, apesar desta ausência, e como afirma Francisco Bethencourt, diretor do CCCG, o espaço não habitado revela a sua expressividade, sugerindo um conjunto de significados que o artista pode assumir mas não expõe na sua totalidade, deixando o caminho aberto à imaginação do observador. As interpretações em aberto relacionam-se com a experiência vivida, e o contexto do observador tem também na sua génese o facto de existir um grande intervalo temporal entre os acontecimentos retratados e a exposição (Manuel Amado. La Grande Crue. Peinture, 2001).

A ausência da figura humana introduz uma tensão latente na pintura. Uma vez que a paisagem é erguida pelo homem, aqui ausente fisicamente, mas presente através da sua marca criadora, o criador adquire uma qualidade voyeurista, ligada ao prazer de observar e de representar, que o observador partilha.

A representação dos espaços inundados altera a relação entre espaço interior e espaço exterior, a hierarquia do jogo de sombras, a iluminação e a cor dos elementos arquitetónicos, a proporção dos interiores. Essa alteração subverte as noções de segurança e de harmonia e interroga a condição humana, inquietando-a. Da mesma forma, o conjunto pictórico do artista, cujos valores maiores são os da ordem e da harmonia – observáveis na representação recorrente de paisagens arquitetónicas –, foi interrompido e abalado com esta série de trabalhos.

A formação de arquiteto reflete-se continuamente na pintura de Manuel Amado, em cujas representações espaciais prevalece sempre o rigor. Porém, neste conjunto essa qualidade é alterada pela introdução do elemento água, mesmo nas situações em que única modificação aparente é o reflexo em espelho da paisagem. Neste caso, ainda assim, a parte superior e a parte inferior do reflexo são apenas quase equivalentes. A própria luz diurna e intensamente solar, que é reiteradamente representada na obra de Manuel Amado, surge mais fria nesta série, pela omnipresença das superfícies líquidas, que a dispersam numa gradação de tons.

É, no entanto, a noção de tempo que mais é alterada com este conjunto. Se habitualmente o artista representa a arquitetura de uma forma idealizada e abstrata, sem referente temporal, em La Grande Crue o tempo é pela primeira vez limitado e retratado pelo binómio morte-vida, pela passagem da água – que tanto gera a vida como é responsável pela morte, devastando e apodrecendo a matéria.

Nesta série de trabalhos, e tal como refere Fernando António Baptista Pereira, coabitam a harmonia e o rigor da arquitetura com o caos inesperado das catástrofes naturais: «[…] cette remarquable série picturale inédite de Manuel Amado nous montre, dans un cadre d'une sublime sérénité, la symphonique magnitude d'une dévastation: la désolation et la mort semblent émerger de toutes les compositions, enveloppant les espaces nus, rôdant autour et pénétrant dans les habitations, mais aussi, une fois la tempête apaisée et le calme revenu, une renaissance de la vie s'obstine à s'annoncer ici et là.» (Manuel Amado. La Grande Crue, 2001, p. 11)

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum da inauguração da exposição

Documentação


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04894

Álbum com coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 2001

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05608

Pasta com documentação referente à divulgação de várias exposições do Centre Culturel Calouste Gulbenkian. Contém folhetos, desdobráveis e comunicados de imprensa. 1997 – 2002

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

Pasta com documentação referente à divulgação de várias exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian. 1979 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05377

Pasta com documentação referente à divulgação de várias exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian. 1979 – 2003


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