António Dacosta. Peintures Intimes

Exposição individual do artista português António Dacosta (1914-1990). A mostra de pintura e desenho foi organizada por Francisco Bethencourt. Miriam Rewald Dacosta, viúva do artista, assinou o texto de apresentação. A mostra apresentou trabalhos em desenho, aguarela e pintura a óleo.
Solo exhibition of work by Portuguese artist António Dacosta (1914-1990). The exhibition was organised by Francisco Bethencourt and included an introduction written by Miriam Rewald Dacosta, the artist’s widow. It featured drawings as well as oil and watercolour paintings.

A exposição dedicada ao artista açoriano António Dacosta (1914-1990) foi realizada em maio de 2000, por iniciativa do Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), em Paris.

O crítico José Luís Porfírio assinou um texto biográfico sobre o artista, que recuperamos de seguida. António Dacosta nasceu na ilha Terceira, Açores, mas viveu grande parte da sua vida em Paris. Como referiu Porfírio, Dacosta «ainda adolescente começa a pintar a óleo paisagens da sua terra, assinalando uma vocação artística que o leva a abandonar as Ilhas, em 1935, instalando-se em Lisboa onde frequenta a Escola de Belas-Artes […] mas sem nunca acabar o curso». A «inquietação criadora» de Dacosta acentua-se com o decorrer dos anos e dos encontros da vida, «com especial relevo para a amizade e cumplicidade que, a partir de 1938, vai forjar com António Pedro (1909-1966), parceiro mais velho de aventura modernista e surrealista» (Porfírio, «António Dacosta», 2013).

Em 1947, muda-se para Paris como bolseiro do Governo francês, cidade onde vive toda a sua vida. Nos 25 anos posteriores, Dacosta afasta-se da produção artística. Segundo o crítico, este «abandono progressivo da pintura» não correspondia, porém, a uma quebra de interesse pelas artes: «A pintura e o desenho continuaram como prática residual na relação [de Dacosta] com amigos e parentes; mas para a crítica e para a história em Portugal, Dacosta permaneceu como uma figura de ausência “perdido talvez para a pintura”» (França apud Porfírio, ibid.).

Em 1983, António Dacosta volta finalmente à exposição pública das suas obras. «Tal ausência só veio dar maior relevo ao seu público aparecimento com a exposição de 1983 (Galeria 111, Lisboa)». Nestes anos, como afirma Porfírio, «Dacosta reaparece com uma pintura nova de um olhar cristalino sobre as mais simples coisas, organizada ora em séries temáticas, ora em singularidades exaltadas» (Porfírio, «António Dacosta», 2013).

Em 1888, o artista realiza a sua primeira exposição retrospetiva na Fundação Calouste Gulbenkian (António Dacosta, 1988). A partir daí, Dacosta «vai afirmar-se durante uma década que foi também de consagração crítica (Prémio Nacional das Artes AICA, 1984; retrospetiva na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1988), de encomendas públicas (Parlamento Regional dos Açores, 1988; Metro de Lisboa, 1989), e consagração oficial (Grã-Cruz da Ordem de Mérito, 1990). Nessa década, a última da sua vida, é intensa a sua produção artística e literária também» (Ibid.).

A presente exposição no CCCG foi programada por Francisco Bethencourt, à data diretor do Centro. Nesse sentido, Bethencourt dirigiu um convite a Miriam Rewald Dacosta, viúva do artista, para que escrevesse o texto do catálogo/desdobrável da exposição. O texto «De l'autre côté du miroir» inclui uma breve apresentação da obra do artista e da intenção da exposição.

No seu texto, Miriam Rewald Dacosta aborda o percurso criativo de António Dacosta, referindo as pinturas surrealistas, os anos de interregno artístico e o regresso a uma pintura renovada nos anos 70: «Artiste reconnu pendant des années par ses tableaux surréalistes des années 40, suivis de trente ans de silence. Ce n'est que vers les années 70 qu'il retourne à la peinture avec des œuvres toutes nouvelles.» E conclui, lamentando os projetos que ficaram por concretizar: «En 1990, la mort met fin à de nombreux projects. Cette histoire là fait partie de la legende. […] Autour de l'œuvre d'Antonio Dacosta s'est créé un mythe mais aussi une énigme.» (António Dacosta, 2000)

Nessa medida, mais do que apresentar uma versão de António Dacosta já conhecida do seu público, a exposição visou reunir um conjunto de obras do lado mais íntimo e misterioso do artista. Como referiu Miriam: «Mais cette exposition présente l'autre versant: l'intimité, l'inconnu de cet artiste; ce qui n'apparaît pas dans les livres […] Le visiteur découvrira un Dacosta encore plus secret et énigmatique.» (Ibid.)

O projeto apresentou desenhos, aguarelas e pinturas a óleo. Assim, foi possível contemplar as pesquisas clássicas de Dacosta enquanto jovem estudante; os primeiros trabalhos surrealistas, como «Le dénicheur» de 1936/37; um breve período não-figurativo, assinalado por um pequeno guache abstrato de 1946. A par destas referências, foram também apresentados estudos e pinturas do artista até então desconhecidas do público. Como mencionou Miriam: «Mais autour de lui, il conserve ces pièces intimes comme inspiration, des études, des abstractions comme recherches de couleur ou peut-être pour des tableaux futurs que l'on n'a jamais vus, des références aussi.» (Ibid.)

No catálogo digital raisonné de António Dacosta está disponível para consulta a lista de obras que figuraram na exposição.

À semelhança do que sucedeu com outras iniciativas do CCCG, não foi editado catálogo da exposição, mas sim um desdobrável e convites. O desdobrável inclui o texto de Miriam Rewald Dacosta e algumas reproduções das pinturas apresentadas.

D ficou registado no Relatório e Contas daquele ano, as exposições organizadas pela delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian alcançaram «uma boa frequência de público, à volta de 700 pessoas cada uma» (Relatório Balanço e Contas. FCG. 2000, 2001, p. 152).

No ano de 2014, a Fundação Calouste Gulbenkian, através do Centro de Arte Moderna, concluiu o projeto «António Dacosta. Catálogo Raisonné», lançado por ocasião do centenário do nascimento do artista. Acompanhado por uma exposição, comissariada por José Luís Porfírio (António Dacosta 1914-2014, 2014), este catálogo é o primeiro catálogo digital produzido sobre um artista português. Constituiu-se por isso como uma iniciativa pioneira e importante, quer no campo da história da arte, quer na área das plataformas digitais. O projeto foi desenvolvido ao longo de quatro anos e contou com a coordenação científica de Fernando Rosa Dias.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum da inauguração da exposição

Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05377

Pasta com folhetos de exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris. 1979 – 2004

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

Pasta com convites e recortes de imprensa de exposições organizadas no Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris. 1979 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04888

Álbum com coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 2000


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