Possibilities: an occasional review

Conheça a revista “Possibilities 1”, nascida em Nova Iorque em 1947, uma raridade bibliográfica que pode consultar na Biblioteca de Arte.
23 mar 2021 4 min
Obras da Biblioteca

Em 1939, o continente europeu tornou a mergulhar em destruição e sofrimento. Se alguns artistas o tinham já abandonado, partindo para o outro lado do Atlântico como consequência da subida ao poder do Partido Nazi na Alemanha, muitos outros fizeram-no a partir desse ano.

O destino escolhido para recomeçarem as suas atividades artísticas foi sobretudo Nova Iorque. Desde o início do século XX que a “grande maçã” mostrava estar atenta aos movimentos das vanguardas europeias e recetiva às suas criações. Exemplo desta atitude foram as exposições de obras de Picasso, Matisse, Brancusi e Picabia, entre outros, realizadas pelo fotógrafo Alfred Stieglitz e pelo seu amigo, também fotógrafo e pintor, Edward J. Steichen, na galeria “291”, e o Armory Show, grande exposição realizada em 1913, onde se expuseram obras de Amadeo de Sousa Cardoso.

Por outro lado, os anos da década de 1940 foram cruciais na afirmação da arte americana, para o que muito contribuiu o Federal Art Project (1935-1943). Programa elaborado pela administração Roosevelt no contexto da Grande Depressão e do New Deal, para garantir e apoiar a sobrevivência dos artistas americanos naqueles tempos de crise.

Entre os muitos que integraram as ações do Federal Art Project contam-se os nomes dos fotógrafos Berenice Abbott, Walker Evans e Dorothea Lange, e dos pintores Arshile Gorky, Mark Tobey, Mark Rothko e Jackson Pollock. Entretanto, em 1942, surgia em Nova Iorque, fundada por Peggy Guggenheim, a galeria Art of this Century.

Durante os seus poucos anos de atividade – encerrou em 1947, com o regresso de Peggy à Europa – esta galeria funcionou não só como uma espécie de local de encontro de artistas que a guerra no continente europeu obrigou ao exílio, como os surrealistas Max Ernst, André Breton, André Masson e Yves Tanguy, como foi também uma rampa de lançamento para os novos artistas americanos que começavam a emergir na cena artística contemporânea.

Na primeira grande exposição que a galeria dedicou aos jovens talentos da pintura americana, distinguiram-se três artistas cujas opções estéticas e produção pictórica se identificam com o Expressionismo Abstrato praticado pela chamada Escola de Nova Iorque: Jackson Pollock (1912-1956), William Baziotes (1912-1963) e Robert Motherwell (1915-1991).

 

Possibilities 1 : an occasional review

 

Foi neste cenário da vanguarda artística nova-iorquina do pós-guerra que, em setembro de 1947, surgiu a revista Possibilities 1: an occasional review cuja responsabilidade editorial era partilhada por três marcantes personalidades: Robert Motherwell, pintor, Harold Rosenberg (1906-1978), escritor e crítico de arte, que esteve na origem da expressão “action painting”, e John Cage (1912-1992), compositor e músico.

A estes três americanos juntava-se Pierre Chareau (1883-1950), arquiteto e designer francês que, antes de partir para Nova Iorque, em 1940, tinha sido o autor da Maison de verre (Paris, 1927) e um dos fundadores da Union des Artistes Modernes (1929).

No primeiro e único número (o segundo chegou a ser preparado, mas não foi publicado) Motherwell e Harold Rosenberg apresentavam Possibilities como a magazine of artists and writers who “practice” in their work their own experience without seeking to transcend it in academic, group or political formulas. Nesta espécie de manifesto afirmavam ainda que Such practice implies the belief that through conversion of energy something valid may come out e que The question of what will emerge is left open.

Escreveram também artigos, entre outros, Jean Arp, William Baziotes, Miró, Pollock, Mark Rothko e Oscar Niemeyer (sobre a arquitetura de uma igreja recentemente construída no Brasil).

A revista era ainda o número 4 de uma série intitulada Problems of Contemporary Art que, por sua vez, integrava uma outra, Documents of Modern Art, dirigida por Robert Motherwell, que se propunha publicar os textos fundamentais para o estudo e compreensão da arte do século XX.

Apesar da sua demasiado efémera existência, Possibilities constitui um documento importante no contexto da arte contemporânea e é hoje uma raridade bibliográfica.

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Uma seleção de livros e revistas, fotografias, catálogos de exposições e outros documentos cujos temas se relacionam com a história da arte, as artes visuais modernas e contemporâneas, a arquitetura, a fotografia e o design portugueses.

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