Figurinos do Ballet Gulbenkian
Este inventário foi desenvolvido ao longo dos 40 anos de existência do Ballet Gulbenkian pela pessoa encarregada do depósito adjacente ao Guarda-Roupa. Ainda que produzido de acordo com sistemas e metodologias diversos, e com diferentes graus de complexidade e sofisticação, este dispositivo de informação visava essencialmente suportar a função de controlo e gestão do guarda-roupa, da confeção à conservação e manutenção.




O processo de confeção de um guarda-roupa tinha na sua origem a conceção dos figurinos, os quais eram apresentados pelo criador à Direção de Produção e à mestra do atelier de costura.




Este atelier, nas décadas de 80-90, era composto por uma mestra e 12 costureiras. Em casos excecionais, eram contratadas, temporariamente, costureiras para desenvolver os trabalhos de confeção dos guarda-roupas mais extensos.
Após uma visita aos armazéns, onde se verificavam os tecidos e aviamentos em stock que pudessem ser utilizados, eram recolhidas amostras dos restantes materiais necessários junto de fornecedores externos.




Cabia à mestra do atelier de costura a organização de um registo com as medidas dos bailarinos. A partir dessas medidas e em função do número de bailarinos (certas obras coreográficas tinham dois elencos) eram calculadas as quantidades dos materiais a utilizar e procedia-se à sua aquisição.
Por vezes, designadamente por indicação dos figurinistas, as encomendas eram efetuadas a empresas estrangeiras específicas. No caso dos sapatos/sapatilhas, essas encomendas externas, se realizadas a fornecedores britânicos, poderiam ter como interlocutor a Delegação no Reino Unido.
A confeção era iniciada com a produção dos moldes e com o corte dos materiais, tarefas que incumbiam à mestra do atelier. As sessões de provas eram combinadas com o ensaiador. Todo o processo era acompanhado pelo figurinista, chegando a haver alterações “radicais” ao desenho inicial.




Logo que confecionadas, as peças eram entregues ao depósito do Guarda-Roupa, sendo estreadas no ensaio geral.



Para além da tarefa da inventariação, o responsável por aquele depósito tinha ainda a função da gestão dos guarda-roupas. Esta implicava: o acondicionamento dos fatos por obra coreográfica; a sua identificação com uma etiqueta onde se registava o nome da obra, o coreógrafo e a temporada; a marcação de cada peça e acessórios com o nome do bailarino; a sua limpeza e a avaliação do estado de conservação; o registo de doações e empréstimos a entidades externas.
Por regra, o encarregado do depósito juntava-se à Companhia nas digressões, quer nacionais, quer no estrangeiro.



Quando o Ballet Gulbenkian foi extinto, em 2005, a maior parte dos guarda-roupas e algumas peças soltas foram doadas aos respetivos figurinistas e a instituições ligadas às artes performativas, como o Chapitô, a Escola Superior de Cinema e Teatro, o Museu do Traje e o Guarda-roupa Maria Gonzaga. Porém, a Fundação reservou para si, para memória futura, alguns exemplares.