Espólio Movimento de Renovação da Arte Religiosa

A Biblioteca de Arte assinala a passagem dos 70 anos da fundação do MRAR – Movimento de Renovação da Arte Religiosa, cujo espólio documental integra as suas coleções especiais.
21 out 2022 5 min
Obras da Biblioteca

Em maio de 1953 inaugurou-se na Galeria de São Nicolau, em Lisboa, a Exposição de arquitetura religiosa contemporânea, organizada por um conjunto de jovens arquitetos e estudantes de arquitetura, ligado ao Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR): Henrique Albino, Nuno Teotónio Pereira, João Braula Reis, João Correia Rebelo, António de Freitas Leal, José Maia Santos e João Medeiros e Almeida.

Num desdobrável davam-se a conhecer aos visitantes os seus princípios motivadores: a exposição não se limitava a apresentar trabalhos, mas também a criticar o “panorama doloroso da nossa arquitectura, a inexistência no nosso meio de uma crítica competente” que tornavam urgente “uma acção de esclarecimento e uma revisão de conceitos”, para que a arquitetura religiosa nacional pudesse “mostrar ao mundo de hoje a verdadeira face da Igreja de Cristo”, abandonando modelos arquitetónicos que perpetuavam uma estética pretensamente tradicional e nacionalista, alheia aos princípios defendidos pelo Movimento Moderno.

 

Desdobrável da Exposição de arquitectura religiosa contemporânea

 

Foram esta atitude crítica e esta vontade de renovação formal da produção arquitetónica e da arte sacra que, um ano antes, motivaram a fundação do Movimento de Renovação da Arte Religiosa por “uma comunidade católica de artistas e de outras pessoas interessadas, com o fim genérico de promover, em todos os domínios da arte religiosa, o encontro de uma verdadeira criação artística com as exigências do espírito cristão” (Estatutos, Artigo 1.º).

Na génese imediata do MRAR esteve a reação contra o anunciado projeto do arquiteto Vasco Regaleira para a igreja de São João de Brito, expressa através de um abaixo-assinado, onde se afirmava que esse projeto não se coadunava “nem com os tempos que correm nem com o ambiente geral do Bairro de Alvalade”.

Num contexto mais alargado, o MRAR foi, entre nós, a expressão de uma nova conceção teológica que começou a esboçar-se na Europa, sobretudo na Suíça e na Alemanha, nos anos seguintes ao final da I Guerra Mundial, que colocava a celebração da Missa no centro do culto cristão/católico, e que em termos da conceção arquitetónica colocava o altar como ponto central da organização espacial da planta das novas igrejas.

Desde 1952, e até sensivelmente ao final da década de 1960, quando começou a dissolver-se, o MRAR manteve uma ação dinâmica e interventiva, sobretudo formativa, editorial e expositiva, mais do que arquitetónica e artística, muito por causa dos constrangimentos políticos e económicos do país.

Ao longo deste período, foram seus membros ativos arquitetos como Nuno Teotónio Pereira (1922-2016), António de Freitas Leal (1927-2018), Nuno Portas (n. 1934), João Correia Rebelo (1923-2006), Diogo Lino Pimentel (1934-2019), Formosinho Sanches (1922-2004) e Luís Cunha (1933-2019); artistas plásticos como José Escada (1934-1980), Madalena Cabral (1922-2015), Eduardo Nery (1938-2013), Manuel Cargaleiro (n. 1927) e Jorge Vieira (1922-1998); historiadores da arte e conservadores como Flórido de Vasconcelos (n. 1920) e Maria José de Mendonça (1905-1984).

A Fundação Calouste Gulbenkian apoiou várias ações realizadas pelo MRAR, nomeadamente um “Curso de Arquitetura Sacra” (janeiro 1958) organizado no âmbito do concurso para a construção da igreja do Sagrado Coração de Jesus; a realização da Exposição de arte sacra moderna (1956 e 1960); o concurso do anteprojeto para a construção da Sé de Bragança e a apresentação em Portugal (1964) da exposição itinerante Novas igrejas na Alemanha.

 

Capa do catálogo da exposição de Arte sacra moderna
Capa do catálogo da exposição Novas igrejas na Alemanha

 

Esta ligação reatou-se em março de 2007, quando um dos seus fundadores, o arquiteto Nuno Teotónio Pereira fez a doação à Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian do seu espólio, a que se juntaram mais alguns documentos oferecidos pelos arquitetos António de Freitas Leal e Diogo Lino Pimentel.

O conjunto é constituído por 300 espécies documentais, distribuídas por 6 dossiês, fundamental para o estudo não só do MRAR, como da arquitetura moderna em Portugal. Um dos documentos que o integra é o folheto elaborado pelo arquiteto açoriano João Correia Rebelo, uma espécie de manifesto onde pela fotografia e pela palavra se mostrava a todos – desde o Senhor ministro, ao simples cidadão – no contexto das conceções estéticas da década de 1950, exemplos do que ele considerava ser boa e má arquitetura.

 

Senhor ministro / J. Correia Rebelo
Senhor ministro / J. Correia Rebelo

 

A Biblioteca de Arte, no âmbito da política que concilia a preservação e a disponibilização dos seus fundos documentais, procedeu à digitalização deste Espólio, cuja consulta, por questões relacionadas com direitos de autor e de personalidade, apenas pode ser realizada a partir da sua rede interna.

Série

Obras da Biblioteca

Uma seleção de livros e revistas, fotografias, catálogos de exposições e outros documentos cujos temas se relacionam com a história da arte, as artes visuais modernas e contemporâneas, a arquitetura, a fotografia e o design portugueses.

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