Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa

Este projeto tornou-se um marco incontornável no campo das artes performativas em Portugal e uma das iniciativas mais marcantes da história da Fundação Calouste Gulbenkian.
19 mai 2023 4 min
Dos Arquivos

“Venha aos Encontros ACARTE e faça dez dias de férias connosco”. Foi assim que Madalena de Azeredo Perdigão, diretora do ACARTE – Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte, anunciou a primeira edição dos Encontros ACARTE, que se realizou em 1987.

Entre 10 e 19 de setembro foram apresentados trinta espetáculos “divertidos, ousados, emocionantes e polémicos” e dezassete outros eventos: mesas-redondas, debates, miniconcertos e encontros entre artistas e o público, que se distribuíram por todos os espaços públicos da Fundação Calouste Gulbenkian.

 

 

O projeto que veio a dar origem a esta primeira edição dos Encontros ACARTE surgiu de uma proposta de George Brugmans e Roberto Cimetta, diretores artísticos do Dance Festival e do Festival INTEATRO de Polverigi, feita ao Serviço ACARTE durante o ano de 1986. O festival programado favorecia uma política cultural de diversidade europeia.

A recente entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia propiciava a organização deste tipo de iniciativas e, nesse contexto, a Fundação Calouste Gulbenkian prefigurava-se como o palco ideal para o acontecimento. Proporcionar-se-ia ao público e aos artistas portugueses o contacto com as realidades europeias nos campos do teatro e da dança permitindo, ao mesmo tempo, uma maior visibilidade dos desenvolvimentos artísticos nacionais.

 

 

A diretora do ACARTE acolheu positivamente a ideia e iniciou, desde logo, os preparativos necessários à sua concretização. Os três diretores artísticos – a própria Madalena de Azeredo Perdigão, George Brugmans e Roberto Cimetta – optaram pelo que de melhor e mais inovador se fazia no âmbito das artes performativas.

A escolha dos artistas estrangeiros foi da responsabilidade de Brugmans e Cimetta, não deixando de ter em conta a apreciação favorável do Conselho Consultivo de Teatro – um órgão ao serviço do ACARTE composto pela sua diretora, por Luís Francisco Rebello, José Barata, Norberto d’Ávila e Carlos Wallenstein. A escolha dos artistas portugueses foi da responsabilidade do Serviço ACARTE.

 

“Accions" por La Fura dels Baus

 

Fizeram-se representar oito países, num total de doze companhias: Compagnia Giorgio Barberio Corsetti, Adriana Borrielo e Sosta Palmizi (Itália), La Fura dels Baus (Espanha), Needcompany e Compagnie Vim Vandekeybus (Bélgica), Pauline Daniels (Holanda), Pocket Opera Company (Alemanha Federal), Groupe Emile Dubois (França) e Bow Gamelan Ensemble (Grã-Bretanha).

A participação portuguesa fez- se através das companhias Área Urbana, em co-produção com o ACARTE, e O Bando. Na direção dos miniconcertos sobressai o nome de Constança Capdeville e na participação em conferências os de Bernard Faivre d’Arcier, Moises Perez Coterillo, Jan Middendorp, Bernard Raffalli, Phillipe Tiry, Eugénia Vasques, Carlo Infante e Neil Wallace.

 

“Montedemo” por O Bando

 

Destinados a cumprir um papel inovador e alinhados com os próprios objetivos do ACARTE na “contribuição para o desenvolvimento da criatividade, para o progresso da educação pela arte e para o incremento da criação artística em Portugal”, os Encontros ACARTE revelaram, logo no seu ano de estreia, um espírito multicultural e um caráter internacionalista, distinguindo-se não só pelo acolhimento de novas vanguardas artísticas, como pela inclusão de outras formas de expressão e géneros artísticos, apresentando companhias e grupos ainda pouco conhecidos mas que se tornariam, nas décadas seguintes, importantes referências.

 

Espetáculo “Teatro das Enormidades Apenas Críveis à Luz Eléctrica”

 

Os Encontros ACARTE continuaram a ocorrer até 2001 experimentando diferentes formatos conforme as suas direções artísticas – José Sasportes (1990 a 1994), Yvette Centeno (1995 a 1999) e Jorge Molder (2000 a 2002).

Por terem sido um dos maiores empreendimentos de programação cultural do ACARTE e, sobretudo, pela aposta num “circuito inovador, com características de experimentalismo” afastado do “caminho seguro das estruturas tradicionais”, os Encontros ACARTE tornaram-se um marco incontornável no campo das artes performativas em Portugal e uma das iniciativas mais marcantes da história da Fundação Calouste Gulbenkian.

Série

Dos Arquivos

Momentos relevantes na história de Calouste Gulbenkian e da Fundação Gulbenkian em Portugal e no resto do mundo.

Explorar a série

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.