A experiência de Fernando Varanda no Iémen
Nesta conversa, Fernando Varanda fala-nos da sua fascinante experiência profissional no Iémen, nas décadas de 70 a 90 do século XX, e do estudo sobre o urbanismo e a arquitetura tradicional daquele país que realizou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
O arquiteto guia-nos numa viagem por aquele território, dando-nos a ver os homens e os espaços que habitam, realçando a originalidade e a diversidade das expressões arquitetónicas do país, chamando a nossa atenção para a especial harmonia ali conseguida entre Homem, Arquitetura e Natureza.
A arquitetura surge do espaço natural em sintonia com o sítio e os materiais e reflete o carácter do povo que a habita. O investigador considera que tudo “vem do sítio e para o sítio vai”, que “aquilo que apanhamos é aquilo que devolvemos”, e ajuda-nos a interpretar imagens que fazem parte do extenso levantamento fotográfico que realizou no País. Imagens que pertencem à coleção fotográfica Arquitetura do Iémen, um projeto de registo e levantamento documental desenvolvido por Fernando Varanda em 1975 com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
A 26 de julho de 1975, Fernando José de Sá Martins Varanda, arquiteto, urbanista, professor e investigador, concorre a um subsídio da Fundação. O pedido que apresentou ao Serviço de Belas-Artes inscrevia-se na especialidade de arquitetura e urbanismo populares e tinha por finalidade a conclusão de um trabalho de investigação sobre a arquitetura do Iémen e as suas estruturas urbanas, que havia iniciado aquando da sua estadia em Sana’a, capital daquele país, em 1973 e 1974, enquanto voluntário da ONU (Organização das Nações Unidas) com funções de conselheiro técnico do Departamento de Urbanismo do Ministério das Municipalidades.
No Boletim de inscrição da sua candidatura, Fernando Varanda escreve que “Este trabalho justifica-se pela exemplar originalidade da arquitetura e tecido urbano do Yemen que, devido ao total isolamento em que este país viveu até à guerra civil de 1962-68, aparece como a mais inteira expressão da relação do homem com o ambiente natural”.
O parecer do Serviço de Belas Artes reconhece o interesse do programa apresentado e o excelente curriculum do candidato e refere: o “plano de investigação deve ser entendido, pela sua pertinência metodológica, numa zona de difícil acesso, que até agora não há notícia que tenha sido ensaiado, o que lhe garante imediatamente uma repercussão cultural a que não podemos ficar alheios”.
Acrescenta ainda que, “através dos exemplos colhidos, há incidências extremamente importantes, ao nível da arquitetura e mesmo do urbanismo, na zona rural de Portugal que conferem a essa investigação uma iniludível utilidade para os estudiosos da Arquitetura Portuguesa”.
O subsídio foi atribuído pela Fundação a 19 de novembro de 1975.
O projeto desenvolveu-se em duas fases, ao longo de 12 meses: a recolha de informação foi realizada no Iémen do Norte – nesta altura o país estava dividido entre Norte e Sul – de maio a setembro de 1976; o tratamento dos dados e a preparação final da investigação foram desenvolvidos em Lisboa, no Gabinete Audiovisual do AR.CO – Centro de Arte e Comunicação Visual.
Na continuidade deste trabalho, o arquiteto apresentou na Fundação, no dia 22 de junho de 1979, um diaporama intitulado Espaço e a arte de construir no Yemen – um levantamento de arquitetura e formas urbanas feito na República Árabe do Iémen entre 1973 e 1976, focado na vida e na diversidade de presenças arquitetónicas, desvendando itinerários e ambientes através do país, trabalho que foi também divulgado, no mês seguinte, no AR.CO.
O investigador regressou ao Iémen nos anos 1983, 1986 e 1990, no âmbito da sua tese de doutoramento, e novamente em 2006, para visitar o sul e a região oriental do Hadhramaut, o que lhe permitiu estender a recolha a toda a área continental do país.
O autor publicou em 1981, em Londres, o livro Art of building in Yemen, obra considerada fundamental para o conhecimento deste país no mundo e que teve a segunda edição em Lisboa, em 2009.
A coleção fotográfica Arquitetura do Iémen foi doada à Biblioteca de Arte por Fernando Varanda em 2002 e faz hoje parte do seu acervo de coleções especiais. Trata-se de um conjunto documental que resulta, justamente, quer do projeto de investigação subsidiado pela Fundação em 1975, quer do trabalho de pesquisa desenvolvido pelo arquiteto no país entre 1973 e 1990.
É composta por 1.148 diapositivos cor e constitui-se hoje como um valioso levantamento sobre as construções arquitetónicas e a organização urbana do Iémen, com enquadramento na geografia das regiões naturais em diversas zonas ao longo de todo o norte do país, desde a faixa costeira até ao deserto, dando-nos a conhecer a história, a paisagem e o património cultural.
Desde 2019 que esta coleção se encontra integralmente digitalizada e disponível para consulta no catálogo. Os Arquivos da Fundação, por seu lado, conservam toda a documentação relativa aos apoios.
Artistas e autores
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