Espólio Jorge Vieira

Manuscritos, cadernos de desenhos, maquetes de obras, recortes de imprensa e ephemera, são alguns dos materiais do espólio que agora integra o acervo da Biblioteca de Arte.
14 out 2022

O espólio do escultor Jorge Vieira (1922-1998) passou a integrar o acervo da Biblioteca de Arte em 2021, por doação da escultora Noémia Cruz, sua viúva. Trata-se de um conjunto diversificado de documentos que reflete o percurso artístico e pedagógico do artista.

Entre a documentação conta-se material impresso, como livros, catálogos e folhetos de exposições, recortes de imprensa e ephemera, e manuscritos, como correspondência, esboços e desenhos, e ainda maquetes em gesso e metal para obras. O seu estudo permitirá uma melhor contextualização do percurso do escultor no panorama artístico nacional e internacional, uma vez que Jorge Vieira estudou na Slade School of Arts, em Londres, na década de 1950.

Com esta integração no acervo, juntando-se ao Arquivo Alberto Carneiro e aos espólios de Fernando Calhau, Helena Almeida e David de Almeida, a Biblioteca de Arte consolida-se como instituição de referência para o estudo e a compreensão da produção artística nacional entre a segunda metade do século XX e primeiras décadas do presente século.

Assinalando a doação à Fundação Calouste Gulbenkian e celebrando o centenário do nascimento do escultor, a Biblioteca de Arte mostra – entre 12 de outubro e 14 de novembro – alguns documentos que integram o Espólio Jorge Vieira e algumas obras do acervo do Centro de Arte Moderna (CAM) e organiza uma mesa-redonda que se realiza no dia 25 de outubro, pelas 18.30h, no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian. Participam nesta conversa com a jornalista Ana Sousa Dias, os historiadores de arte Pedro Lapa e Leonor Oliveira e o escultor Rui Chafes.

 

Fez a sua formação artística inicial na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde se formou em escultura (1953), foi considerado pelo historiador de arte José Augusto França o mais importante escultor português da década de 1950. Nos seus anos de aprendizagem passou pelos ateliês dos escultores António Duarte, Francisco Franco e António Rocha. Ainda estudante participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (1947 e 1951), organizadas pelo Movimento de Unidade Democrática em oposição aos salões oficiais do regime, e em 1953 foi o único escultor nacional a ser selecionado para o concurso internacional para o monumento ao “Unknwon Political Prisioner” (Prisioneiro Político Desconhecido) promovido pelo londrino Institute of Contemporary Arts. Entre 1954 e 1955 estudou em Londres, na Slade School of Arts, onde foi aluno de Henry Moore. As viagens que realizou ao longo da década de 1950 não só lhe permitem o contacto com o trabalho de outros artistas/escultores, como marcam a sua prática criativa. Obteve o 2.º prémio de Escultura na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian (1957) e 1.º prémio na II Exposição de Artes Plásticas realizada em 1961. As suas posições políticas de oposição ao Estado Novo granjearam-lhe dificuldades várias, tendo sido excluído da docência na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde só regressou a partir de 1981, tendo-se jubilado em 1992. Ao longo da sua prática, o desenho, a colagem e a escultura – em materiais plasticamente diversos como a terracota e o ferro – constituíram o corpo da obra artística de Jorge Vieira. Entre as suas obras em espaço público destacam-se o “Homem-sol” no Parque das Nações, inaugurada no âmbito da Expo98 e a escultura metálica da Praça do Município de Lisboa.

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