Julião Sarmento
Jaula/Cage e trabalhos
Julião Sarmento (1948–2021) é um dos artistas visuais mais relevantes da contemporaneidade portuguesa e um dos que maior projeção internacional alcançou com o seu trabalho. Desenvolvida a partir da década de 1970, a obra de Julião Sarmento abarca disciplinas e suportes artísticos diversos – desenho, pintura, gravura, escultura, instalação, filme e vídeo, fotografia, performance e som, cruzando linguagens estéticas e visuais que exploram e evidenciam as suas influências literárias, cinematográficas e arquitetónicas.
Assinalando o primeiro aniversário da sua morte, a Biblioteca de Arte apresenta uma seleção de publicações – livros e catálogos de exposições individuais, artigos em revistas nacionais e estrangeiras e livros de artista – que reflete o seu percurso artístico.
O percurso de Julião Sarmento começa com a frequência do curso de Arquitetura (e passagem pelo curso de Pintura, que não concluiu), na então designada Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1967–1974). Os laços de amizade e cumplicidade artística que o ligam a Ernesto de Sousa (1921–1988) levam-no a secretariar a exposição que marcou os anos de rutura e agitação criativa que se seguiram ao 25 de abril de 1974: a Alternativa Zero (1977). Esta exposição seminal não só provocou mudanças profundas no contexto artístico nacional, como mostrou trabalhos de uma geração de artistas que, como Julião Sarmento e o seu grande amigo Fernando Calhau (1948–2002), então iniciava o seu percurso.
No início da década de 1980, Julião Sarmento inicia uma nova fase no seu trabalho, sendo um dos artistas que protagonizam o que ficou designado como o “regresso à pintura”, participando na controversa exposição Depois do Modernismo, realizada na Sociedade Nacional de Belas Artes (1983). Esta década marca para Julião Sarmento o início da internacionalização da sua obra, com a participação na XI Bienal de Paris (1980), na Documenta 7 (1982) e na Documenta 8 (1987), consolidada na década seguinte, quando é escolhido para representar Portugal na 47.ª Bienal de Veneza (1997), e reafirmada com a participação na 25.ª Bienal de São Paulo (2002). Esta visibilidade e reconhecimento internacionais são fortalecidos e ampliados com as colaborações, com o realizador de origem arménia Atom Egoyan (n. 1960), na 48.ª Bienal de Veneza (1999), com a vídeo-instalação Close, com a curadoria de Michel Tarantino, e com os norte-americanos John Baldessari (1931–2020) e Lawrence Weiner (1942–2021) – dois nomes maiores da arte conceptual – no filme Drift, realizado para o Centro Cultural de Belém (2004), com a curadoria de Delfim Sardo. Julião Sarmento colaborou também com o escultor espanhol Juan Muñoz (1953–2001), quando os trabalhos de ambos ocuparam a Metalúrgica Alentejana em Beja (1993). Em 2021, no contexto da comemoração dos 18 anos da revista Umbigo, é publicado o projeto artístico de Julião Sarmento e Lawrence Weiner, juntamente com outros 17 projetos de outras autorias.
Desde 1976, ano da sua primeira exposição individual na Galeria de Arte Moderna da Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa), até 2020, os seus trabalhos foram objeto de largas dezenas de exposições em diversas galerias nacionais, com destaque para a Galeria Cristina Guerra (Lisboa), que o representava, e numerosas galerias europeias e norte-americanas.
Do mesmo modo, a obra de Julião Sarmento foi mostrada em Portugal nas mais importantes instituições para a arte contemporânea: no Museu de Serralves, Porto (1992 e 2012), no Museu de Arte Contemporânea – Fortaleza de São Tiago, Funchal (2001), no Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa (2002 e 2020), no Centro de Artes Visuais, Coimbra (2004), na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, Lisboa (2011), no Museu de Arte Contemporânea de Elvas (2013), na Fundação Carmona e Costa, Lisboa (2018), no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (2018). A Fundação Calouste Gulbenkian dedicou-lhe três exposições realizadas, respetivamente em 1993 e 2000 no Centro de Arte Moderna, e em 2016, na Delegação em França. Internacionalmente, o artista viu os seus trabalhos expostos em diversos museus em Espanha, Itália, França, Alemanha, Croácia, Inglaterra, Brasil e México. Desta atividade expositiva resultaram livros/catálogos, muitos dos quais concebidos em colaboração estreita com o artista.
Por outro lado, as diversas fases do seu percurso artístico foram sendo analisadas por críticos e curadores – Germano Celant, Alexandre Melo, Nancy Spector, Delfim Sardo, Hubertus Gabner, James Lingwood, Adrian Searle, Louise Neri, entre outros – em artigos publicados em prestigiadas revistas da especialidade portuguesas e estrangeiras.
O livro de artista foi também campo de ação artística que Julião Sarmento experimentou, concebendo os seus livros dentro dos princípios dos movimentos de vanguarda da década de 1960, que tiveram no livro de Ed Ruscha Twentysix Gasoline Stations (1962) – com uma primeira edição numerada de 400 exemplares – o seu momento fundador.