Cosmologias Visuais

Projeto de investigação e criação em Design, concebido como parceria entre a Biblioteca de Arte e Arquivos da Fundação Calouste Gulbenkian, a Delli Press/Universidade Lusófona – Centro Universitário de Lisboa, que pretende interligar, de uma forma expandida, os conceitos de Arquivo, Coleção e Livro.

Introdução à temática

O projeto teve início no primeiro semestre de 2023, e tem como um dos seus objetivos principais estimular a relação dos estudantes com um espaço de estudo, pesquisa e produção de conhecimento, assumindo como matéria de trabalho a polifonia de discursos presentes nos acervos da Biblioteca de Arte e Arquivos, e de outras Coleções patrimoniais da Fundação Calouste Gulbenkian, possibilitando novas leituras das mesmas.

A temática do Arquivo tem sido transversal a diversas áreas de investigação e criação contemporânea, abordado por artistas, curadores, investigadores e historiadores da arte, e a sua importância apresenta-se fundamental para o ciclo de estudos de alunos em Design de Comunicação. A construção da memória está intimamente ligada à produção de imagética, à sua preservação, catalogação, manuseamento e releitura, permitindo constantemente uma atualização de perspetivas.

No projeto Cosmologias Visuais, inspirados, entre outros, pelo texto Artes gráficas, veículo de intimidade, de Ernesto de Sousa, e Decolonizing design through the perspectives of cosmological others, de Ahmed Ansari, os estudantes exploraram a metodologia teórica e visual do Bilderatlas Mnemosyne, proposta pelo historiador da arte alemão Aby Warburg no início do século XX.  Esta metodologia sublinhou uma prática projetual em constante mutação a partir da associação de imagens, criando uma constelação impermanente de hipóteses e orientadora de um paralelismo com a investigação em design e arte a partir da ideia de mesa de edição.

Contexto e objetivos

O interesse em desafiar as alunas e os alunos à análise da estrutura documental de uma biblioteca, e as suas estratégias de classificação, conservação, organização, consulta e participação, prende-se com a importância do estudo do Arquivo enquanto tema capaz de constituir dinâmicas criativas específicas.

O projeto Cosmologias Visuais pretendeu desenhar uma estética e uma mecânica particular de investigação em arte, assente em processos de construção de trabalho prático, individual e colaborativo, no qual se promoveu uma interligação constante com o espaço da Biblioteca de Arte — a biblioteca vista como “sala de aula temporária para a constelação” — abrindo caminho a situações de experimentação e criação.

De que modo pode o estudo do arquivo na contemporaneidade contribuir para estratégias de ensino-aprendizagem? De que forma pode a biblioteca continuar a ser um espaço primordial para o estudo em design e arte, e que ferramentas pode oferecer e promover no âmbito do trabalho académico? Como tornar visível a complexidade de interligações presentes no Arquivo e, ao mesmo tempo, fazê-lo manifestar um sentido de identidade global, inclusiva, decolonial? Como explorar um arquivo específico, e com isso implicar e desenvolver uma narrativa visual a partir do manuseamento de edições e publicações?

Processos e metodologias

No ano letivo de 2022/2023, a unidade curricular de Práticas Híbridas do Curso de Design de Comunicação lecionada pelo Professor Hugo Barata, debruçou-se sobre o estudo do Arquivo à luz da prática contemporânea nas artes e no design.

As aulas seguiram uma metodologia de pesquisa e registo de vários espécimenes, partindo dos conceitos presentes no programa, sendo que a biblioteca se tornou o território ideal para a aplicação de conhecimentos e articulação com um lugar e um contexto específicos.

Ao longo do segundo semestre letivo, os alunos realizaram duas residências criativas, uma na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, com acesso às suas coleções, e outra no espaço da editora Stolen Books, com acesso a uma biblioteca especializada em arte e design, com contacto direto com diversificadas técnicas de impressão e reprodução.

A metodologia geral aplicada dividiu-se nas vertentes teórica e prática.

A vertente teórica refletiu sobre o tema central da investigação – a Cosmologia Visual (a constelação como operação) e a sua interligação com a ideia de coleção. Através da relação construída entre a investigação académica e a prática do design, foi traçado um percurso que reflete sobre a disciplina, sinalizando os momentos em que se cruza com processos e ações da contemporaneidade utilizando as coleções da Fundação Calouste Gulbenkian e da Biblioteca de Arte e Arquivos como catalisadoras para a uma reflexão sobre a importância do ensino universitário (e as suas networks com o exterior) do conceito de arquivo na atualidade.

A vertente prática envolveu um conjunto de ações/workshops/aulas realizadas na Biblioteca de Arte, através das quais se concretizou a pesquisa e o manuseamento dos diversos materiais, servindo-se os alunos de todos os serviços disponíveis: pesquisa no catálogo, requisição e consulta, reprografia, contacto com profissionais, assim como sessões de apresentação do acervo da Fundação por parte de João Vieira, Diretor da Biblioteca de Arte e Arquivos, e Ana Barata, Bibliotecária Responsável.

Este contacto direto foi uma premissa principal do projeto de modo a promover o desenvolvimento de uma relação dinâmica e consequente com a Biblioteca de Arte e Arquivos e as suas coleções, visando a aquisição de competências técnicas e artísticas via o exercício de investigação em trabalho colaborativo, fundamental para a prossecução de projetos em design bem sustentados e bem delineados.

A articulação entre as duas vertentes – teórica e prática – desdobrou-se numa análise crítica e reflexiva sobre a importância do livro e da biblioteca como mananciais de pesquisa e estudo para o estudante de design.

Resultados

Nesta primeira edição do projeto Cosmologias Visuais, e pensando nas complexidades e nas dinâmicas do ensino atual, procurou criar-se uma postura ativa da parte dos estudantes de design, colocando-os no centro do processo de aprendizagem e convidando-os a desenvolver as suas próprias estratégias de pesquisa e de criação.

O resultado das cosmologias nascidas da investigação materializa-se numa publicação de cariz experimental, concebida e realizada por alunos e professores, inspirada no catálogo da exposição Alternativa Zero (1977), organizada por Ernesto de Sousa. Esta publicação fará parte da coleção da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian e da Delli Press, Universiade Lusófona, e teve tutoria na sua execução de Hugo Barata e Paulo T. Silva.

Foi também possível incluir o resultado do projeto numa primeira apresentação pública no Pavilhão 31, exposição coletiva dos alunos finalistas da Universidade Lusófona dos cursos de Licenciatura em Design de Comunicação, Licenciatura em Fotografia e do Mestrado em Fotografia.

A exposição, intitulada O tempo enrola, encaracola, com curadoria de Hugo Barata, Luís Alegre, Orlando Franco, Paulo T. Silva e Rodrigo Peixoto, permitiu que os alunos de Design de Comunicação apresentassem uma versão expandida da publicação final em forma de mesa de montagem.

Avaliação e perspetivas futuras

Estas foram algumas das questões colocadas pelo projeto Cosmologias Visuais, abrindo caminhos e enriquecendo as aulas através do espaço da Biblioteca de Arte, desafiando os alunos a pensar como a “sobrevivência” das imagens e os tempos históricos podem ser integrados numa espécie de mapeamento e análise da contemporaneidade, criando assim uma cosmologia especulativa.

A lecionação em espaços museológicos ou, neste caso, numa biblioteca, abre caminho para a criação de uma ponte entre a universidade e as instituições culturais permitindo aos estudantes criar laços afetivos com a criação de conhecimento. Neste caso, a biblioteca faz comunidade.

O projeto Cosmologias Visuais seguirá para o segundo ano de implementação neste ano letivo de 2023/2024, que se espera tão enriquecedor quanto a primeira edição.


Ficha técnica

Estudantes

António Dias, Catarina Cruz, Daniela Fontes, Duarte Costa, Giovanna Russo, Guilherme Schwartz, Margarida Martins, Mariana Sousa, Neuza Leote, Rafael Apolinário, Raquel Lucas, Raul Rodrigues, Rúben Bajanca, Sara Godinho, Sofia Luz e Valentina Torres

Coordenação Biblioteca de Arte / Fundação Calouste Gulbenkian

João Vieira e Ana Barata

Coordenação Universidade Lusófona – Centro Universitário de Lisboa

Francisco Laranjo e Luís Alegre

Direção do Projeto e Curadoria Geral

Hugo Barata

Investigadores

Hugo Barata, Luís Alegre e Paulo T. Silva

Publicação

Hugo Barata, Luís Alegre e Paulo T. Silva

Agradecimentos

Orlando Franco e Rodrigo Peixoto

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